Ela Gente

Conheça Malía, a cantora da Cidade de Deus que promete fazer tanto sucesso quanto Iza e Anitta

Ela acaba de lançar seu primeiro disco e, em setembro, fará show no Rock in Rio
Malía acabou de fazer a sua primeira viagem internacional Foto: Leandro Tumenas
Malía acabou de fazer a sua primeira viagem internacional Foto: Leandro Tumenas

Na adolescência, Isadora Machado só podia comprar roupas novas uma vez por ano, no Natal. O uniforme escolar era composto por uma blusa e uma calça que, quando necessário, eram lavadas da noite para o dia. Na época dos bailes de debutante, ela própria desenhava o vestido, a mãe comprava o tecido e a vizinha costureira executava o modelito. Hoje, aos 20 anos e sob o nome artístico de Malía, ela se vê às voltas com uma stylist para a escolha dos figurinos das apresentações no México (sua primeira viagem internacional), nesta semana, e do seu show de estreia no Rock in Rio, em setembro.

Nascida e criada na Cidade de Deus, comunidade na Zona Oeste do Rio, Malía será uma das atrações do Espaço Favela, novidade da próxima edição do RIR. “Ela é uma grande promessa. Tem talento, domínio de palco, determinação e preza o acabamento em seu trabalho. E o Brasil precisa de mais cantoras pop. Malía tem potencial para chegar a lugares onde estão Iza e Anitta”, avalia Zé Ricardo, diretor artístico e curador do festival de música. “Embora seja realizado em uma área até bem perto da minha casa, o Rock in Rio sempre foi muito distante da minha realidade. Estou muito, muito feliz com esse show. Não paro de ter ideias incríveis”, conta a cantora, que em 2017, recém-contratada da Universal, fez uma série de ativações no festival, mas não chegou a assistir nenhum show.

Filha de uma manicure e um mecânico (que morreu há dois anos), Malía teve uma criação regada a muita música popular brasileira. “Enquanto minhas amigas ouviam Justin Bieber e One Direction, eu escutava Elis Regina e Djavan”, rememora. Embora atualmente more com o namorado em Jacarepaguá, Malía vai com frequância à Cidade de Deus. “Minha mãe se mudou para a Taquara, mas o resto da família e meus amigos vivem todos lá. Fora que é de lá o melhor pão com mortadela da vida, que deixa no chinelo até aquele famosão de São Paulo”, conta.

Ainda no Ensino Fundamental, ela participou de concursos musicais em que conquistou as primeiras posições. Cantar profissionalmente, entretanto, parecia um sonho distante. Ao terminar o Ensino Médio, concluído num colégio particular no Jardim Botânico, onde tinha bolsa de estudos, ela não conseguiu escolher uma faculdade, apesar da boa nota que tirou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e da insistência da mãe. “A educação era a única coisa que a minha mãe tinha para me dar. Lembro-me de ela sentar na frente do computador e dizer: ‘vem aqui escolher um curso’”, recorda-se. “Mas eu simplesmente não me identificava com nada.”

Malía usa body Realce, calça e brincos Sri Clothing e jaqueta Calvin Klein Foto: Leandro Tumenas
Malía usa body Realce, calça e brincos Sri Clothing e jaqueta Calvin Klein Foto: Leandro Tumenas

Na mesma época, Malía começou a postar vídeos em que aparecia cantando ao lado do irmão, que toca violão. Os ventos do compartilhamento sopraram o nome da jovem até produtores que decidiram apostar nela. A combinação entre talento e sorte fez com que a moça assinasse contrato com a gravadora. Depois de um ano de trabalho, seu primeiro álbum, “Escuta”, foi lançado no mês passado nas plataformas digitais com direito a uma estratégia de marketing digna de popstar . As mais de duas mil fotos de sua conta no Instagram, como Isadora, foram apagadas para o início de uma “nova era”, como Malía, nome de origem africana escolhido pela cantora por “soar familiar”. Ela jura que não tem a ver com a filha de Obama.

Até o lançamento do álbum, fez-se mistério sobre o que Malía estava preparando e um link na rede social levava o visitante ao seu site oficial, onde havia somente um cronômetro. Quando os números zeraram, lá estavam as dez músicas da sua mistura pop, que passeia entre hip-hop, R&B, reggae e, claro, MPB. Com participações especiais dos cantores Rodriguinho e Jão, a cantora ainda oferece uma versão modernosa de “Faz uma loucura por mim”, de Alcione. “Os seus trabalhos soam sempre atuais”, conta Malía, que também assina a autoria de cinco faixas do trabalho.

Nesta semana, ela embarcou rumo ao México para se apresentar ao lado da dominicana Nashla Bogaert e do espanhol Edu Soto no Premios Platino del Cine Iberoamericano , em Tulum. “Um filme passou pela minha cabeça quando me vi cantando ao lado da Nashla, que até baixou o Google Translator no celular para conversar comigo em português”, diverte-se Malía, por telefone, na conexão para pegar o voo para a Cidade do México, sua próxima parada por conta de uma convenção da Universal. É a primeira vez que fica tão longe de sua mãe, Isabel, que está morrendo de saudades, mas feliz e orgulhosa: “Isadora — para mim ela sempre será Isadora — desde criança se mostrou muito certa do que queria. Eu só não podia imaginar que ela estaria voando tanto.”

E promete voar ainda mais alto.