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Grazi Massafera fala, pela primeira vez, sobre assédios que já sofreu no trabalho e término com Caio Castro

No ar em "Verdades Secretas", atriz vive, aos 39 anos, período de reconstrução interna, com aulas sobre feminismo e racismo
Grazi veste parca Piet, camisa polo Lacoste, brincos Monte Carlo, poltrona Celine assinada por Jader Almeida Foto: Marcus Sabah
Grazi veste parca Piet, camisa polo Lacoste, brincos Monte Carlo, poltrona Celine assinada por Jader Almeida Foto: Marcus Sabah

Sobre a mesa do escritório de Grazi Massafera, há um caderno grande, de capa dura, cujas folhas guardam as últimas descobertas sobre assuntos que lhe interessam. “Tenho caderno de estudo!”, gaba-se a atriz, enquanto folheia as páginas cheias de anotações. “Nunca fiz faculdade. Então, estou descobrindo como absorvo informações sobre cultura e tudo mais. Preciso escrever e conversar, porque a memória, às vezes, falha.”

Desde que a pandemia assombrou o mundo, a atriz, de 39 anos, vivencia “um retorno para dentro”. Enquanto encara as mudanças de peito aberto, ela confirmou, neste fim de semana, o término do namoro de dois anos com Caio Castro. "Meu relacionamento com o Caio chegou ao fim porque entendemos que era hora de seguirmos separados", disse, com exclusividade, à Revista ELA. "O que posso dizer agora é que encerramos a nossa história."

Grazi também conta que chegou a tomar “asco” das redes sociais, recusou trabalhos e parou de dar entrevistas. “Pode ver que não participei de lives”, diz. “Minha empresária quase deu uma surtadinha.” Grazi não tem nada contra as transmissões ao vivo, mas estava ocupada cuidando da sua reconstrução. Começou a fazer aulas sobre cinema, racismo e feminismo, em busca de uma nova maneira de ler o mundo.

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Ironicamente, a atriz que voltou ao ar com uma reprise, na reexibição de “Verdades Secretas” pela TV Globo, nunca esteve tão focada no presente. Ainda acha cedo para retomar a agenda profissional e quer estar totalmente renovada quando chegar a hora. Os primeiros sinais dessa transformação já começaram a aparecer. No início de julho, Grazi postou em sua conta no Instagram uma imagem de uma das passeatas contra o governo Bolsonaro e a seguinte legenda: “Não dá mais para ignorar que estamos em perigo”. Também se sente mais confortável para falar sobre temas espinhosos pela primeira vez, como os assédios que já sofreu e os rótulos em que tentaram lhe aprisionar. “Cansei de ser Cinderela, sabe? Sou mais do que isso”, desabafa, numa entrevista de uma hora e meia por chamada de vídeo.

O GLOBO - Como é voltar ao ar com Larissa, personagem que lhe rendeu uma indicação ao emmy?

GRAZI MASSAFERA - Ela foi uma catarse de um momento de indecisão artística. Era um período em que decidia se ia seguir ou não (na atuação) . Eu a construí com a maior humanidade possível. Fui até a cracolândia (a personagem é uma modelo usuária de drogas e que se prostitui) , conversei com várias pessoas e fiz diversos estudos no corpo para entender como age cada droga que ela podia usar.

Você já experimentou alguma droga?

Não. E isso foi ainda mais desafiador. Bebo, no máximo, uma tacinha de vinho. Não gosto de nada que me tire do controle. Já tive casos de alcoolismo na família.

Por que a Larissa não vai estar na segunda temporada da série?

Ela teve início, meio e fim. Sei que a genialidade do Walcyr (Carrasco) vai além, e a segunda temporada poderia ser incrível. Mas é uma questão de maturidade de atriz, de ter autoestima e falar: “Agora, quero ser só espectadora”.

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Sentiu medo de que não fosse tão bom novamente?

Não. Nunca tive medo de arriscar na vida. É ter respeito pela personagem, que cumpriu o seu papel.

Você já disse que as pessoas torcem muito pelas suas personagens. Como é isso?

Surgi lá no “Big Brother”, e o povo tinha um carinho imenso por mim. Isso se transferiu para as personagens. Entrava nas novelas como a cereja do bolo, na parte de publicidade, porque não era confiável como atriz. E não era mesmo. Hoje, conquistei uma torcida também pela personagem. Houve uma coisa estranha com a Larissa, porque ela atraiu o desejo dos homens, como fetiche. Certa vez, quando era solteira, estava flertando, e o cara disse: “A Larissa vem, né?”. Fiquei muda. Peculiaridades do ser humano.

Qual a sua situação em relação à TV Globo?

Fiz um comentário que foi mal interpretado (Grazi disse a um seguidor, no mês passado, que sairia da emissora em breve) . Existem novos tipos de parcerias surgindo, tipo, por obras. O contrato de exclusividade só vai permanecer se for bom para os dois lados.

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Como descreveria a sua situação profissional?

Estou em casa, cuidando mais da minha filha. Também estou estudando sobre racismo e feminismo, um pouco mais sobre política social. Vivo uma reestruturação interna até para saber como agir em relação à vida profissional. Não sei o caminho exato, mas novidades virão, assim como uma nova pessoa.

De onde veio a ideia de estudar sobre o racismo?

A Taís (Araujo) me ligou e botou uma pulga atrás da minha orelha. Assisti duas vezes à peça “O topo da montanha” (espetáculo sobre Martin Luther King estrelado por Taís e o marido, Lázaro Ramos), e ela me perguntou: “Não quer saber mais sobre a sua história?”. Pela nossa história, entendemos a estruturação do racismo, os benefícios que nós, brancos, temos e a omissão sobre a escravidão. Estou estudando sobre eugenia também. Isso me causa náuseas e arrepios pelo corpo, de tamanha crueldade.

Como é essa rotina de estudos?

Tenho aulas sobre a estrutura do racismo e do feminismo no nosso país, duas vezes por semana, com a Fernanda Felisberto, e sobre cinema, uma vez por semana, com o Rodrigo Fonseca. Tenho pensado muito sobre a expressão “mimimi”, algo que a minha filha Sofia me perguntou o significado outro dia. Primeiramente, li aquela frase de que “mimimi” é a dor do outro que você não sente. Mas estou também ressignificando isso. Acho que é a sua dor para a qual você não quer olhar.

Que dores você descobriu nessa imersão?

Por mais que seja branca, dentro de todo o padrão mais favorecido, também tenho as minhas questões que toda mulher precisa lidar na carreira e na vida.

Certamente, esbarrou no tema do assédio...

Estou mais sensível ao tema, embora tenha encontrado formas de lidar com ele intuitivamente. Houve um momento profissional em que estava numa novela, e tinha um produtor casado na equipe que dava em cima de mim. Deixei claro que “não”. E, a partir daí, ele começou a me menosprezar, boicotar e destratar no que se referia às questões da personagem. Eu não tinha mais retorno dele, e tudo foi se tornando muito difícil. Ainda estava amadurecendo como atriz, precisando de um auxílio, mas tive a infelicidade de lidar com esse tipo de gente. Por outro lado, houve momentos em que consegui responder de um jeito descontraído. Uma vez, estava indo para um trabalho numa van, e toda a equipe havia dormido, menos eu e um outro produtor. Ele, então, virou-se para mim e disse: “Seus olhos brilham até no escuro”. Para cortá-lo, respondi com algo que minha mãe dizia quando eu era criança: “É verme”. Eu naturalizava essas coisas. Hoje, não mais.

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O que a levou a fazer uma postagem crítica à maneira como Bolsonaro reage à pandemia?

Não apoio um governo que não valorize questões de humanidade ou retroceda justamente nos aspectos que estou estudando.

Várias atrizes vêm sendo pressionadas a se posicionarem sobre temas políticos. Sentiu isso?

No meu caso, foi uma pressão que partiu de mim. Se tomamos atitudes pressionadas pelo lado de fora, fazemos merda. Como disse, estou no caminho, no meu processo.

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Muitas pessoas se mostraram surpresas com a sua atitude. colocaram você numa personagem?

Sim, porque isso vende. Fui criada na época em que os contos de fadas tinham aquelas princesas idealizadas e houve um momento em que acreditei nessa narrativa. Então, não julgo quem fez isso. Existe essa história na minha vida, da menina pobre que veio do interior. É muito legal, estimula muita gente, mas não se sustenta. Cansei dessa história de ser Cinderela, sabe? Sou mais do que isso.

Moletom CASSIUS, camisa Emporio Armani, tênis Louis Vuitton, brincos Monte Carlo Foto: Marcus Sabah | Set designer: Hugo S Tex (No Title Mgt) | Beleza: Krisna Carvalho | Produção de moda: Renan Kawano | Assistente de moda: Faby Pernambuco e Tyna Marins | Assistente de fotografia: Mavi Fontenelle | Assistente de beleza: Arthur Lordelo | Tratamento de imagem: Victor Wagner | Produção executiva: André Storari e Christiano Mattos | Agradecimentos: Empório Jardim, Clínica Alba Saúde, Arquivo Contemporâneo e Casashopping
Moletom CASSIUS, camisa Emporio Armani, tênis Louis Vuitton, brincos Monte Carlo Foto: Marcus Sabah | Set designer: Hugo S Tex (No Title Mgt) | Beleza: Krisna Carvalho | Produção de moda: Renan Kawano | Assistente de moda: Faby Pernambuco e Tyna Marins | Assistente de fotografia: Mavi Fontenelle | Assistente de beleza: Arthur Lordelo | Tratamento de imagem: Victor Wagner | Produção executiva: André Storari e Christiano Mattos | Agradecimentos: Empório Jardim, Clínica Alba Saúde, Arquivo Contemporâneo e Casashopping

Acha que subestimam a sua inteligência?

Passei muito por isso na época de miss, com aquela ideia da mulher bonita e ideal para o cara ter ao lado. A loura burra, sabe? E eu acreditei. A gente tem que se proteger dessas ciladas. Estou num processo de autovalorização.

Sua relação com a rede social está mudando?

Houve uma época em que peguei asco. Não quero só me beneficiar financeiramente dessa ferramenta. Tem muita gente que me segue e, por isso, há uma responsabilidade. Eu não saí da rede, mas comecei a observar mais.

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A Sofia está com 9 anos. Já se prepara para a chegada da pré-adolescência dela?

Na minha casa era proibido falar sobre o meu órgão genital, por exemplo, mas o meu irmão podia tocar (no dele) . Então, falo com ela sobre como tomar cuidado com o próprio corpo, sobre toques. Acho que ela está indo para um caminho especial. E o pai faz a parte dele. Tem toda uma parceria com o Cauã (Reymond) .

Você vai fazer 40 anos no ano que vem. Ansiosa?

Adoro falar que já tenho essa idade, porque acho lindo. Estou encantada e muito realista com o que vem junto.

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Tipo o quê?

Olho no espelho e já não tenho mais 20 nem 30, e está tudo bem. Estou me apaixonando por cada momento.