Ela Gente

Livraria da Travessa abre filial em Lisboa, a primeira fora do país

Inauuração veio no embalo de brasileiros que se mudaram para Portugal
Livraria da Travessa em Lisboa Foto: Andre Nazareth
Livraria da Travessa em Lisboa Foto: Andre Nazareth

Toda a serenidade de uma tarde de domingo em Lisboa foi suspensa pela abertura da Livraria da Travessa,no terceiro fim de semana de maio. Fosse a Rua da Escola Politécnica, no Príncipe Real, um palco, ocupariam a mesma cena uma viatura da Polícia de Segurança Pública (PSP), que rebocou um carro para o bonde passar; e um pot-pourri de escritores, atores, convidados e figurantes que fizeram fila na calçada para espiar o movimento.

LEIA TAMBÉM: Bazzar também ganha loja em Lisboa

Recém-chegado, o ator e diretor Orã Figueiredo tropeçou no evento. “Fui convidado para a inauguração, mas tinha esquecido. Por acaso, estava andando para casa e vi um monte de gente na calçada”, relata Orã, que já voltou duas vezes.

Saudando os visitantes, na entrada (em anexo à Casa Pau-Brasil), “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, contracena com “Os maias”, de Eça de Queirós, “Contradança”, de Luís de Camões e a “Obra completa de Ricardo Reis”, de Fernando Pessoa. Mais à frente, “Caviar é uma ova”, de Gregorio Duvivier, “Fim”, de Fernanda Torres, e “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, enchem outra prateleira. No balcão, Chico Buarque, que acabou de ser contemplado com o Prêmio Camões, reina em absoluto.

Dono da rede, Rui Campos, dono da rede, fala sobre a curadoria. “Uma vez, na Travessa de Ipanema, um leitor me perguntou: ‘Quem escolhe os livros?’. Respondi: ‘Você’. Livraria é uma pedra preciosa que precisa ser lapidada. Demora um tempo até entender o seu público. ‘Todo amor’, de Vinicius de Moraes, acabou no primeiro dia”, pontua Rui, que encomendou nova remessa. Em números, 4 mil exemplares embarcaram na ponte aérea Rio-Lisboa — pretende-se chegar a 30 mil. Por uma questão de direitos autorais, 60% dos títulos são editados em Portugal, 20%, no Brasil e o resto pelo mundo. “Vamos ter o máximo de livros brasileiros que conseguirmos”, promete o empresário.

Livraria da Travessa em Lisboa Foto: Andre Nazareth
Livraria da Travessa em Lisboa Foto: Andre Nazareth

No dia da inauguração, ainda não haviam chegado as poltronas escolhidas pela engenhosa dupla Bel Lobo e Bob Neri, que assina o projeto com o português Pedro Barata. Nos 300 metros quadrados da livraria lisboeta, mantêm-se as cores preta e vermelha da marca. Ao fundo, uma fotografia de parede a parede do Jardim Botânico de Lisboa, instalado ali atrás, esverdeia o espaço. “Visitamos milhões de livrarias portuguesas, muitas lindas, mas não sentimos que existia essa relação de biblioteca, de sentar e ler um livro”, conta Bel, que teve o cuidado de equilibrar as identidades portuguesa e brasileira. “Não queria transmitir um ar vintage  um lugar que não tem essa característica, fica fake.”