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No elenco de 'Verdades Secretas' 2, Paula Burlamaqui fala sobre romance com mulher: 'Pessoa muito especial'

No papel da ex-modelo Aline, atriz conta como lida com a passagem do tempo e a sexualidade e fala sobre a importância do estudo permanente
A atriz Paula Burlamaqui posa em sua casa, em São Conrado Foto: Ana Branco / Agência O Globo
A atriz Paula Burlamaqui posa em sua casa, em São Conrado Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Dois dias antes de conceder esta entrevista, Paula Burlamaqui havia tentado participar de um curso sobre como se preparar para um teste de atuação. “Fiquei curiosa. Queria saber o que a professora tinha a dizer”, conta. Ela só desistiu do plano por causa das gravações de “Verdades Secretas” 2,  série recém-lançada no Globoplay, em que faz o papel da ex-modelo Aline.

Com uma carreira consagrada e inúmeras personagens de sucesso no currículo, a atriz, de 54 anos, acha que aprender nunca é demais. “Quem pensa que sabe tudo é um coitadinho”, diz. “Comecei como ‘Garota do Fantástico’. E eu não sou burra, né? Pensei: ‘Tenho que estudar para ir para outro lugar’.”

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De lá para cá, Paula cursou teatro na Casa das Artes de Laranjeiras e fez uma série de cursos com medalhões da dramaturgia. Só não encontrou, por ora, uma resposta confortável sobre a passagem do tempo. “Às vezes, fico deprimida. Tem umas rugas que estão me irritando”, desabafa. “A sorte é que a minha dermatologista não me deixa ficar mexendo em tudo. Ela diz: ‘Gente, proíbe a Paula de entrar e manda para o analista!” No papo a seguir, a atriz fala, sem rodeios, sobre inseguranças da idade, sexo apimentado por um chip hormonal e relembra a fase em que se apaixonou por uma mulher.

O GLOBO - Sua personagem em “Verdades Secretas” 2 se apaixona pelo mesmo homem que a filha. O que pensa sobre isso?

PAULA BURLAMAQUI - Não tenho filho, mas Deus me livre de passar por isso. É a pior situação que pode acontecer no planeta. Certa vez, me apaixonei pelo namorado de uma amiga. Era jovem e, na época, pensei: “Não existe a menor possibilidade de fazer isso”. E olha que estava desesperada! Somos amigas até hoje.

Você já disse que, quando tiver 60 anos, seu marido, o ator Edu Reyes, vai ter 48 e isso lhe traz alguma insegurança...

Sou muito vaidosa e já fui criticada em várias entrevistas por causa disso. Mas é o que sou. Acho complicado você ter um cara muito mais jovem, porque vai ‘despelancar’ toda muito antes dele. Vi isso acontecer na minha casa. Meus pais tinham 35 anos de casamento e, quando minha mãe ficou velha, meu pai a trocou por uma mulher 30 anos mais jovem. É óbvio que isso não é regra, mas sou muito ligada a estética. Então, trabalhei isso na terapia, porque a alternativa a envelhecer é morrer.

De onde vem essa preocupação?

Venho desse lugar, do concurso de beleza. Ganhei o “Garota do Fantástico” quando tinha 20 anos, fui parar na Itália para fazer comercial com o Nelson Piquet. E aí me chamaram para fazer uma novela e a minha vida mudou muito rápido. Mas eu não sou burra, né? Tenho uma percepção muito rápida das coisas e falei: ‘Tenho que estudar para ir para outro lugar, se realmente quero isso da minha vida’. Tive esse pensamento e me cerquei de pessoas que puderam me orientar. Conheci a Paulinha (Lavigne) e o Caetano (Veloso) , que foi uma mudança intelectual, o Luiz Carlos Lacerda, que virou meu vizinho. Não tive uma educação extraordinária em casa. Seria uma pessoa medíocre, se a vida não tivesse me colocado para estudar.

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Sente uma pressão por ter que encarar o envelhecimento de modo positivo?

Uma vez, disse numa entrevista que envelhecer é uma merda, e usaram isso no título. Fui linchada no Instagram. Envelhecer intelectualmente é maravilhoso. Fisicamente, porém, é ruim. Temos muitos assuntos importantes para nos preocupar, e sei disso. Mas não vou mentir e dizer a que acho legal.

E como tem sido com a sexualidade?

Você fica menos fogosa, mas uso um chip de reposição hormonal que melhorou. Não digo que é como quando tinha 20 anos, mas uns 30. Até brinco com a médica: “Bota mais um pinguinho de testosterona aí”. Precisamos buscar ajuda médica, intelectual, profissional... Gosto de quem sou. Eu me cuido, me acho bonita, tenho um marido maravilhoso. Não ter filhos já foi um problema. Sofri com isso durante muito tempo, mas depois dei uma relaxada.

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Como foi esse processo?

Vi que não era um desejo, porque sou muito realizadora. Era mais uma pressão social. A coisa mais fácil hoje em dia é ter um filho. Você compra um esperma no banco, enfia no útero e acabou. Eu podia ter feito isso. Congelei óvulos aos 35 anos.

Você já posou para a “Playboy” e ficou conhecida como símbolo sexual. O que acha desse título?

Eu me incomodo um pouco quando usam o “era” para falar dessa fase. Mas acho legal ter sido fetiche na vida de tantos homens.

Na novela “A favorita” (2008), interpretou uma lésbica, ao lado de Lilia Cabral. Como foi?

Muito tranquilo. Não sou homossexual porque não tenho desejos. Se tivesse, iria em frente. Não tenho o menor problema com isso. Pena que não tivemos cena de beijo e de sexo. Foi tudo reprimido.

Já experimentou algo com mulher?

Já. Foi uma coisa pontual. Era uma pessoa muito especial, forte... Acho que estamos no mundo para sermos felizes, sabe? A gente é que complica tudo por pressões e rótulos. A gente não namorava, mas tivemos um lance, até porque ela tinha outra pessoa.

Pode me falar quem é?

Infelizmente, não.

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Você está no elenco de “Hashtag”, filme de Caio Sóh que aborda a temática das redes sociais e tem previsão de estreia para o ano que vem. Como você se relaciona com essas mídias?

Para mim, as redes ajudam e atrapalham. Tem muita gente ganhando grana com isso, criando uma imagem que, muitas vezes, pode ajudar. Mas também tem o lado da obrigação de postar coisas o tempo todo, mesmo que você não tenha nada a dizer.

Você fala muito sobre a causa animal por lá.

Isso é muito importante, e os serviços públicos não estão preocupados com o tema. As pessoas aparecem somente em época de eleição. Mas precisamos muito de ajuda, porque os protetores ficam enxugando gelo.