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Por Gilberto Júnior — Rio de Janeiro

Há memórias de uma vida espalhadas por todos os cantos no amplo apartamento de Luiza Brunet, em frente à Praia de Ipanema. Lembranças de carnavais passados, fotos dos áureos tempos de modelo, caricatura ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (o “sonho de consumo” da mato-grossense-do-sul desde sempre), registros ao lado dos filhos, Yasmin e Antônio, e tantas outras imagens que ajudaram a forjar a persona dessa mulher, símbolo sexual máximo da década de 1980 que completa 60 anos na terça-feira (24).

Empresária e ativista na luta contra a violência doméstica, ela afirma que chega a essa marca em seu melhor momento. Diz que as perdas — “diminuição do tônus muscular e uma ruguinha aqui e ali” — não se comparam aos ganhos. Ela está realizada diante das conquistas que vieram depois de um episódio traumático em maio de 2016, às vésperas de seu aniversário de 54 anos. Luiza foi brutalmente agredida pelo ex-companheiro, o empresário Lírio Parisotto, que desfigurou seu rosto a chutes, além de lhe ter quebrado quatro costelas e um dedo. Enquadrado na Lei Maria da Penha, ele foi condenado a cumprir serviços comunitários e a pagar cestas básicas. Nada além disso.

Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher
Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher

“Chegar aos 60 com a disposição para evitar que outras mulheres não passem pelo que eu passei, é um sonho”, comemora Luiza. “Encaro como uma grande oportunidade viajar pelo mundo para dividir minha história, explicar que precisamos e devemos reconhecer nossos direitos constitucionais. Valemos muito nessa sociedade machista. Dia desses, ouvi numa reunião com uma empresa de beleza, com a qual tenho contrato há 32 anos, que hoje tenho mais a oferecer. Antes, eles achavam que eu era apenas um rostinho bonito. Agora, tenho uma causa.”

Em mais de uma hora de conversa, Luiza passeou por assuntos árduos, como violência doméstica e abuso sexual, defendeu a filha dos ataques da ex-sogra, mãe do surfista Gabriel Medina, negou que esteja namorando o ministro do Supremo Luiz Fux e confessou que, mesmo solteira, tem orgasmos maravilhosos.

Para um símbolo sexual, num país machista como o Brasil, como é o processo de envelhecimento?

É preciso ter maturidade para entender que a beleza é passageira. Passamos mais tempo nessa vida envelhecendo do que jovem. Mas é claro que existe aquele momento, bem no fim da adolescência, que é lindo. A gente floresce, há aquele tesão no ar. Acordamos inchadinhas, molhadinhas, cada dia mais incrível. Mas passa. Aí vem o charme do tempo. Acredito piamente que minha melhor fase chegou aos 50 anos. Eu me sinto bem fisicamente, sexy e interessante. Se me oferecessem a oportunidade de entrar numa máquina e voltar aos 20, agradeceria e recusaria.

Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher
Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher

Envelhecer não é ruim?

Depende do que você está procurando. A energia sexual diminui, o cabelo fica mais ralo, o colágeno da pele é outro. Mas há formas de manter tudo isso com dignidade, se a pessoa quiser, é claro. Quero morrer com cento e poucos anos. Estou trabalhando duro para isso. Porém, não vou sofrer porque meu tônus muscular faz falta para um ensaio fotográfico.

Você fez inúmeros ensaios nua ao longo de sua trajetória. Em algum momento as pessoas confundiram as coisas?

Nunca tive problema em posar pelada, mas muitos homens achavam que eu estava disponível para outros tipos de serviço. Vocês não têm noção da quantidade de propostas indecentes e absurdas que recebia. Mandava sempre os caras colocarem o dinheiro deles naquele lugar. Minha intenção não era colar num partido rico para me sustentar. Eu gostava de trabalhar, ter minhas próprias finanças e comprar o que quisesse, sem precisar ficar dando explicações. Minha autonomia financeira impediu que eu sofresse todo tipo de abuso.

Algum episódio de assédio te marcou?

Aos 12 anos, quando trabalhava como empregada doméstica, fui abusada pelo meu patrão. Mais velha, já no mercado como modelo, um homem também me fez passar por uma situação constrangedora. Ele havia me contratado para um catálogo de moda praia, mas antes teríamos que fazer um teste, num quarto de hotel em São Paulo. Esse cara me recebeu só de roupão e com a revista Playboy que eu tinha feito sobre a cama. Comecei a gritar. A história se espalhou e isso jamais voltou a acontecer.

Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher
Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher

Ao que parece, você não foi de muitos amores.

Tive três grandes relacionamentos; e talvez dois ou três namoricos entre eles. Não tive uma fase pegadora. E acredito que não terei. Gosto de homens mais velhos, eles me passam uma sensação de segurança. No entanto, preciso confessar que sou muito procurada por caras jovens. Mas não curto.

Em maio de 2016, você foi brutalmente agredida por seu ex-companheiro, o empresário Lírio Parisotto. Imaginava que um episódio tão ruim a transformaria na ativista de hoje?

De jeito nenhum. Quando fiz a denúncia, minha voz ecoou e passei a ser chamada para dividir minha história. Viajo pelo mundo ajudando outras mulheres. Mas me preparei para isso. Agora mesmo estou estudando minuciosamente nossa constituição, entendendo melhor a posição que ocupamos na sociedade. Não podemos nos calar. Se não tomarmos uma atitude, seremos oprimidas pelo resto da vida.

Você temeu fazer a denúncia em algum momento?

Não pensei na sociedade civil porque acreditava que não <QL>seria julgada. Mas não foi isso que aconteceu. Muitas mulheres me criticaram, atiraram pedras. Mas o maior temor era sofrer retaliações do meu agressor. Lírio é um homem com poder econômico e influente. E, de fato, alguns projetos não foram para a frente. Não estou acusando ninguém, porém o filme que fariam sobre minha vida está paralisado. Mas esse projeto sairá do papel nem que eu banque do meu bolso. É uma questão de honra.

Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher
Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher

Reviver esse episódio em palestras é doloroso?

Eu sinto uma imensa alegria em poder usar minha voz para colaborar em prol da sociedade. Essa história não me machuca. Talvez, eu não fosse essa mulher se não tivesse passado por isso. Tudo na vida tem um propósito, e consegui me levantar depois da violência absurda que sofri. Estou aqui de pé e com dignidade.

Você declarou que cresceu num lar agressivo. Como isso a impactou?

Vi meu pai agredir minha mãe incontáveis vezes. Nós nos mudamos para o Rio, quando eu tinha 12 anos, para fugir da violência, mas ele veio atrás. Acabou não dando certo, pois seu comportamento não mudou. Hoje, reconheço que meu pai era alcoólatra, e que precisava de um tratamento sério para se livrar do vício. Ele morreu aos 56 anos com doenças agravadas pela bebida. Sem o álcool, papai teria sido outra pessoa.

Você está solteira desde a agressão. Está fechada para o amor?

Na verdade, não conheci ninguém legal nesses últimos seis anos. Para não sentir falta de homem, meti a cara nos estudos. Estou apaixonada pela pauta feminina e sei que é algo que defenderei até o final da vida. Mas, caso eu conheça alguém que tenha as mesmas ideias, que queira contribuir com a sociedade, irei me apaixonar. Por enquanto, estou bem sozinha.

Como fica o sexo nessa fase?

Qualquer mulher pode ter orgasmo sozinha. Há várias formas, coisas maravilhosas dentro da própria casa. Venho tendo muito prazer, inclusive. Não sinto falta de ter alguém para me proporcionar essas sensações. Mas, é óbvio, que não acharia ruim ter orgasmos incríveis com um cara incrível.

Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher
Luiza Brunet — Foto: Pedro Bucher

Já teve relação com mulher?

Nunca! Gosto de me relacionar com homens. Mas também não falo que dessa água não beberei porque depois acontece e eu vou ter que entubar isso. Tudo é possível.

Você teve algum envolvimento amoroso com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux?

Isso não existe, não passou de um boato.

Tem pretensão de entrar para a política?

O que venho fazendo há cinco anos é política humanitária. Tenho estado em lugares que nunca imaginei, falando com magistrado. E, se puder, no futuro próximo ir além, eu irei. É uma decisão que tenho que tomar agora. Estou com 60 anos e não tenho mais nada a perder. Passei de mais da metade da vida.

Em entrevista, Simone Medina, mãe do surfista Gabriel Medina, ex-marido de sua filha Yasmin, declarou que não “era amor” o que existia entre os dois. Como recebeu isso?

Conheci o Gabriel no começa da história. Minha filha e ele viveram um romance lindo. Eram muito apaixonados. Mas a coisa foi conduzida de um jeito triste nesse final. Só quem pode avaliar o que realmente aconteceu é o ex-casal. Não podemos sair por aí falando se era ou não amor. Não temos o direito de dar uma opinião tão contundente. Espero que um dia a Yasmin possa contar sua versão. No momento, acho prudente esse silêncio. Aprendi com minhas experiências a ter controle e não sair por aí desabafando no calor das emoções.

O que espera da vida daqui para frente?

Continuar lutando pelas mulheres. Não sabia que era tão bom ter uma causa. Uma causa é uma vida.

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