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Por Mariana Rosário — São Paulo

Fazia frio e caía uma garoa insistente em São Paulo quando a cantora sertaneja Lauana Prado, de 33 anos, abriu a câmera para a conversa em vídeo. Vestindo um casaco de moletom, que escondia as tatuagens pelos braços, gesticulava efusivamente ao explicar suas estratégias de carreira: “Se está todo mundo indo por ali, eu vou pelo outro lado”. Foi isso que a fez receber com bons olhos (e ouvidos) o comentário recente de uma fã. “Ela me disse que minhas músicas a faziam sofrer, mas também davam motivos para superar.” A conversa, embora pareça não dizer nada demais, é um atalho para compreender o trabalho da cantora.

Em suas canções, diz, sempre houve a vontade de inaugurar uma nova conversa em que a “sofrência” — marca importante do gênero — é um ponto de partida, mas o foco está em superar o fim das relações. “Minha música mais tocada no momento chama-se ‘Primeiro eu’ e diz: ‘É que eu me amo demais, quer saber? Primeiro eu, segundo eu, terceiro não é você’. A mensagem de empoderamento é importante”, afirma.

E o estabelecimento de um novo aspecto do olhar feminino sobre os temas sentimentais. Paula Fernandes, com quem Lauana gravou a faixa “Pedra e água”, acredita que, com a presença de mais mulheres, o ritmo ganhou um novo lustro. “As letras começaram a trazer uma mensagem sobre o poder feminino. É muito bom ver o mercado se renovando”, avalia a colega. Animadas com a parceria, as duas vão repetir a dobradinha em uma nova música, a ser lançada em breve no repertório de Paula.

Embora sua música seja expoente do que foi conhecido como “feminejo”, Lauana imprime um visual diferente, explica o especialista no gênero André Piunti, à frente do podcast de mesmo nome, cuja função é entrevistar os principais astros do country brasileiro. “Embora Lauana tenha uma carreira longa (18 anos), apareceu mesmo depois do movimento liderado por Marília Mendonça, Naiara Azevedo e Maiara & Maraisa. Ela já estava batalhando por espaço, mas não era muito conhecida fora do meio”, explica Piunti. “Uma vantagem é não ser da linha das meninas. Na época, surgiram muitas cantoras parecidas com a Marília, com a Maiara & Maraisa, e não houve espaço para elas. Ainda sob o nome de Mayara Prado (sua assinatura artística anterior), a Lauana já tinha uma carreira interessante. Depois, junto ao Fernando, da dupla Fernando & Sorocaba, passou por uma renovação, e mergulhou de cabeça em ser diferente, com uma certa rebeldia dentro do sertanejo.”

A tal “rebeldia” de Lauana aparece na decisão de lançar dois discos em menos de seis meses. O feito ignora o mercado que se alimenta de hits soltos, para serem aproveitados no TikTok. “É algo maior do que lançar só um hit e trabalhá-lo por três meses. A outra estratégia pode ser muito bacana por um lado, mas penso em construir uma carreira com longevidade, então me vejo na obrigação de fazer essa compilação”, avalia.

Lauana defende o diálogo com outros ritmos, mas sem desapegar do som que surgiu do trabalhador rural brasileiro. No disco “Natural”, lançado em março, faz parcerias com Vitão, Dilsinho e Dennis DJ, nomes conhecidos de pop, pagode e funk, respectivamente. Já no disco “Raiz”, lançado no final de julho, faz o caminho oposto e enfileira hits de diversas eras do sertanejo. Há covers de Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano, Jorge & Mateus, entre outros medalhões.

A vontade de estabelecer novos diálogos no meio sertanejo irradia, inclusive, para questões políticas. Lauana é uma das únicas artistas entre as listas dos mais ouvidos no segmento que declara ser contrária ao governo de Jair Bolsonaro. No sertanejo, convém lembrar, o atual presidente encontra importante aderência entre uma parte relevante dos cantores que já organizaram um encontro no Palácio do Planalto, em 2019. “Temos que caminhar para um outro lugar, diferente do que estamos em 2022. Às vezes, sinto que retrocedemos, é lamentável”, diz. “Sou muito bem-recebida porque dou minha opinião sem impor que essa seja a única ideia ouvida. Ainda não me decidi por candidatos. Embora tenha uma simpatia por Lula, penso que seria interessante algo novo. Bolsonaro não é uma opção.”

O jeito resolutivo, mas de pouco confronto, foi também o mecanismo que encontrou para viver sua bissexualidade diante dos pais, tios e avós. Há três anos em uma sólida relação com a influenciadora Veronica Schulz, ela diz ter aceitado o tempo necessário da família para compreender sua orientação sexual. Ao perceber que seu pai tinha uma restrição ao relacionamento com outra mulher, adotou uma tática de conciliação. “Convidei-o a vir até minha casa, para conviver com a gente. Ele logo notou que não havia diferença em comparação a outros casais. Hoje em dia, adora. E minha mãe também”, explica.

Há cerca de dois meses, o jeito afável de Lauana, no entanto, deu lugar a uma personalidade mais impaciente, quase agressiva. A mudança foi o primeiro sinal de episódio de esgotamento, o chamado burnout. O caso ocorreu por causa da toada shows, composições e demais compromissos de trabalho. Com o esforço intenso, a voz minguou e deu lugar a quadros de laringite e faringite. O corpo apresentava cansaço intenso e ela precisou remarcar duas apresentações. Decidiu então estabelecer limites. “Faço três shows por semana. Não quero viver nesse placar de fazer 30 apresentações num mês. Isso de estar no Acre num dia e no Rio no outro já ceifou muitas vidas. É uma maluquice.” Os fãs agradecem.

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