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Por Eduardo Vanini


Giovanna posa diante das janelas onde vai expor obras do marido — Foto: Leo Martins
Giovanna posa diante das janelas onde vai expor obras do marido — Foto: Leo Martins

Roberto Moriconi escreveu, um ano antes de morrer, que “olhar é uma opção de altíssimo risco”. No texto, o artista plástico, que completaria 90 anos no próximo dia 30, discorre sobre como uma obra de arte, quando apreciada, passa a fazer parte do imaginário do observador para sempre. Portanto, quem caminha pela Rua Monte Alegre, em Santa Teresa, corre um risco irresistível a partir de hoje. A viúva do artista, Giovanna, exibe nas janelas da casa onde viveram, no número 328, esculturas de grandes dimensões feitas por Roberto como celebração do aniversário do artista.

A exposição fica em cartaz até o próximo dia 4, e o público poderá observar, da calçada, algumas de suas famosas esculturas em aço, presentes em acervos importantes, como o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Instituto Casa Roberto Marinho. A ideia, segundo Giovanna, é dar continuidade ao legado do companheiro, morto em 1993, cuja produção não é conhecida por boa parte das novas gerações. “O que mantém o artista vivo é a sua obra”, ela diz. “Quando ele morreu, o (Ivo) Pitanguy, que era nosso amigo, me disse que ele havia cumprido a sua missão e estava trabalhando, a partir daquele momento, junto a outros mestres. Mas eu ainda não terminei a minha.”

O ateliê de Roberta é preservado na casa de Santa Teresa — Foto: Leo Martins
O ateliê de Roberta é preservado na casa de Santa Teresa — Foto: Leo Martins

Giovanna casou-se com Roberto em 1966 e teve com ele três filhos: Luca, Marco e Matteo. Feminista desde aqueles tempos, conta ter sido ela quem o pediu em casamento, ainda que a relação não fosse plenamente aprovada por sua mãe. “Ela dizia: ‘Artistas são todos loucos!’”, recorda-se a viúva, que soube aproveitar o melhor dessa “loucura”. A casa de Santa Teresa, lembra, foi ponto de encontro entre expoentes da geração de Roberto, como Rubens Gerchman, Antonio Dias, Angelo de Aquino e Gilles Jacquard.

Matteo, o filho mais novo do casal, que mora na Itália, tem memórias vívidas dessa época. “Eles viveram um momento muito efervescente da cultura e também de união entre os artistas. Lembro que a casa tinha várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, um grupo jogava futebol, outro discutia sobre arte ou política. E era a minha mãe quem criava a atmosfera para esses encontros acontecerem.”

Giovanna e Roberto: uma casal muito 'pra frente' — Foto: Arquivo pessoal
Giovanna e Roberto: uma casal muito 'pra frente' — Foto: Arquivo pessoal

Giovanna ocupava também o posto de grande musa do marido, completa Matteo, embora isso nada tivesse a ver com passividade. “Foi um casal muito ‘pra frente’, e ela o inspirava a fazer coisas incríveis”, comenta. A mãe era, inclusive, a primeira pessoa para quem Roberto mostrava cada obra concluída, assim como a responsável pela divulgação dos trabalhos. “Ele falava que eu era tão metida que corria o risco de as pessoas pensarem que eu fazia os trabalhos, e ele só assinava”, diverte-se Giovanna.

Autora do livro “Roberto Moriconi: vida e obra”, a historiadora Angela Ancora da Luz considera oportuno o resgate de alguém que define como “prodigioso”. Entre as diversas fases pelas quais passou, Roberto já uniu madeira e aço para falar sobre como natureza e tecnologia devem dialogar e criou obras que denunciavam a devastação na Amazônia. Angela destaca, ainda, os últimos trabalhos desse italiano radicado no Brasil (assim como Giovanna), em que ele desenhava sobre placas de aço com uma lixadeira elétrica, enquanto um artista executava uma música ao vivo. “A partir do ritmo, ele criava imagens abstratas que ganhavam volume conforme a luz”, detalha. “Era uma grande performance, e não vejo outros artistas fazendo algo parecido.”

Muitas obras, acrescenta Giovanna, partiam de um complexo processo de maturação de ideias. Numa dessas ocasiões, ela presenciou o marido permanecer, por nove meses, “em estado catatônico” até materializar um conjunto de trabalhos. O ateliê onde ganhavam forma, aliás, permanece intacto nos fundos da casa de Santa Teresa. É uma maneira encontrada por Giovanna de manter Roberto presente na rotina da família. Agora, com a exposição, ela quer, mais do que nunca, ultrapassar aquelas paredes. “Que as janelas da arte sejam abertas!”, deseja.

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