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Por Marina Caruso


Michelle Obama usa o tricô como recurso para driblar a ansiedade — Foto: Divulgação
Michelle Obama usa o tricô como recurso para driblar a ansiedade — Foto: Divulgação

A próxima terça-feira, quando o Brasil comemora 133 anos da Proclamação da República, a única primeira-dama negra da história dos Estados Unidos lança, simultaneamente em 14 idiomas e 27 países, o seu segundo livro: “Nossa luz interior — Superação em tempos incertos”. Publicada por aqui pela Objetiva (selo da Companhia das Letras), a obra, como o nome sugere, é um guia de estratégias e ferramentas para manter a esperança e o equilíbrio mesmo quando tudo parece querer o contrário.

Assim como em “Minha História”, best-seller de 2018, Michelle — criadora do programa “Let Girls Learn”, que busca abrir portas para a educação de meninas ao redor do mundo, e foi eleita, segundo o Instituto YouGov, a mulher mais admirada do planeta — escreve em primeira pessoa, sem meias palavras, sobre suas inseguranças e convicções: “Não me arrependo de nada. Escrever foi uma das experiências mais libertadoras de toda a minha vida”, disse a ex-primeira-dama por e-mail à Revista ELA.

Embora tenha respondido menos da metade das perguntas enviadas, Michelle, em sua primeira entrevista concedida a um veículo de comunicação do Brasil, tocou em pontos delicados e corajosos como as crises de ansiedade durante a pandemia, as brigas com Barack Obama e muito mais.

O GLOBO — Seu primeiro livro, “Minha história”, vendeu mais 17 milhões de cópias em todo o mundo. Por que outra obra em tão pouco tempo?

MICHELLE OBAMA — Escrevi este livro para ajudar as pessoas a se sentirem menos sozinhas em um mundo de incertezas. Nos últimos dois anos, fomos constantemente bombardeados com informações dolorosas e difíceis — de uma pandemia global a um acerto de contas com a injustiça racial, ataques aos direitos das mulheres e muito mais. Pode ser tão fácil em tempos como estes isolar-se, voltar-se para dentro e afastar os outros.

Quem mais se beneficiará com a leitura de “Nossa luz interior”?

Este livro é minha tentativa de ser transparente sobre o que me ajudou a passar por esses tempos difíceis. Não é uma dica de cura para tudo; é simplesmente compartilhar ferramentas e truques que aprendi na jornada da minha própria vida — desde pensar pequeno diante de problemas grandes até apoiar-se em um grupo de amigos, aquela verdadeira rede de apoio que nos ajuda a seguir adiante. Espero que os leitores possam tirar algo de bom desses recursos pessoais que chamo de caixa de ferramentas, quando se sentirem perdidos. É a minha forma de lembrar que ninguém está imune ao medo e à ansiedade e que todos podemos passar por isso juntos — desde que nos permitamos sentir o que estamos sentindo. Só então podemos começar a nos entender melhor.

No livro você fala sobre a bengala de seu pai, a espátula de cozinha de sua mãe e o martelo de seu avô. Qual é a sua própria ferramenta, a que mais usa quando está para baixo?

Atualmente, a minha ferramenta favorita é um par de agulhas de tricô. Adquiri o hábito durante a pandemia. Quando a vida ficou difícil e as coisas pareciam esmagadoras, sem saída, tricotar, costurar e bordar revelaram-se minha arma secreta para manter a calma e a ansiedade sob controle. O pequeno ato de fazer algo — um cachecol, um cobertor ou um suéter — permite que eu me afaste momentaneamente das situações mais difíceis da vida e me coloque em um estado de ser novo, mais relaxado.

Levará isso para outros momentos além da pandemia?

Descobri que, para mim, é fundamental manter as coisas em perspectiva, sob um olhar mais distanciado. Não importam se os desafios são políticos, cotidianos ou ligados a eventos mundiais. A agulha de tricô é meu objeto físico, concreto. Mas há muitos outros, abstratos, calçados em atitudes e práticas diárias — foi assim que aprendi a estruturar minha vida ao longo dos anos. Quer um exemplo? Chamo meu grupo de amigos mais chegados, minha verdadeira rede de apoio, de “Mesa de Cozinha”. Eles são as pessoas a quem eu mais recorro. Quer estejamos enviando mensagens de texto ou sentados juntos tomando uma taça de vinho, ter a minha “Mesa de Cozinha” comigo para me ajudar a raciocinar pela vida faz com que eu me sinta muito mais segura e confiante.

A senhora escreve com franqueza sobre bons e maus momentos como primeira-dama. Foi transparente ao confessar a dor de deixar a Casa Branca nas mãos de um líder imprudente como Trump. Não é muita exposição?

Para ser honesta, não me arrependo de nada do que escrevi. Não se engane, pensei profundamente sobre o que incluir e o que não incluir — não estava escrevendo meus primeiros pensamentos ou sentimentos. Foi tudo pensado. E, no final, minha história, mesmo quando confusa ou inesperada — e tê-la afirmada, reconhecida e recontada por tantas pessoas ao redor do mundo — foi uma das experiências mais libertadoras e afirmativas de toda a minha vida.

A senhora admite que seus medos podem ser resumidos na frase: “Sou boa o suficiente?”. Isso é verdade? Michelle Obama sofre da síndrome de impostora?

É verdade. Em muitos momentos na minha vida, precisei lutar demais para sentir que era boa o suficiente. Como filha de um bombeiro hidráulico e uma dona de casa da Zona Sul de Chicago, como orientanda de um professor que disse que eu não era digna de uma universidade de elite (formou-se em Sociologia em Princeton e em Direito em Harvard), tive muitas dúvidas sobre mim desde cedo. E muitas dessas inseguranças voltaram quando as luzes brilhantes da política foram direcionadas para mim e minha família. Então, sim, ainda hoje me questiono se estou à altura. Nunca esperei essa vida para mim. Quando se é a a primeira mulher negra a assumir o papel de primeira-dama em um país como os Estados Unidos, é natural sentir como me senti, como se eu não pertencesse.

Como enfrentava e ainda enfrenta esse medo?

No meu último livro, entrego ferramentas que me ajudam a lidar com esses sentimentos e colocar, ainda hoje, meus medos de lado. Ter pessoas me lembrando do meu valor faz toda a diferença. Para mim, isso começa com Barack, minha mãe e meu grupo de amigos, os da “Mesa de Cozinha”. Quando cada movimento que eu fazia, cada roupa que eu usava, até o jeito que eu cortava meu cabelo eram analisados microscopicamente, eles eram minha rocha — constantemente me tranquilizando, lembrando-me de ficar de pé. Graças a eles, reconheci que não podia deixar esses sentimentos de insegurança me dominarem.

Durante a pandemia, a senhora, Obama, e as meninas, Malia e Sasha, ficaram mais próximos do que nunca. Quais foram os melhores e o os piores aspectos desta convivência intensa?

A melhor parte foi ter as meninas em casa! As duas estão tão ocupadas com faculdade, amigos e suas vidas sociais que ter um tempo só para nós, sentar para jantar e conversar significou muito. Entre as coisas mais difíceis, está a perda do nosso querido cão de estimação. Bo (um cão d’água português) entrou em nossas vidas em 2009, alguns meses depois de Barack iniciar o primeiro mandato como presidente. Era o melhor companheiro: grande, doce e fofo, e sempre pronto para uma massagem na barriga. Por tantos anos, Bo nos viu em dias bons, dias ruins e tudo mais. Ainda sinto falta dele, mas estou feliz que as meninas puderam passar um tempo com ele.

Dançando na posse ou lutando contra o racismo e por melhorias na saúde, parece sempre haver uma química entre a senhora e o Obama. a impressão é de que o amor de vocês só cresce com o passar do tempo...

A verdade é que Barack e eu trabalhamos duro em nosso amor. Não é fácil. Definitivamente não é só sol e arco-íris. A maior lição que aprendi com ele é que um parceiro nunca será a solução para todos os seus problemas, embora queiram que a gente acredite que sim. Na realidade, não é verdade. Temos que perseverar em busca de nossas próprias soluções para os problemas. Parceiros ajudam, mas não fazem nada sozinhos. Sim, Barack e eu brigamos, brigamos e discutimos muito ao longo dos anos. Mas se tem uma coisa que aprendi é: estar em um relacionamento longo não significa que vocês são duas metades da laranja que se encaixam perfeitamente. Não tem essa coisa de estar constantemente terminando as frases um do outro, antecipando sentimentos antes que eles surjam. Talvez seja assim para algumas pessoas, mas não é o nosso caso. Para nós, estar junto é estar disposto a voltar para redescobrir coisas que ficaram no caminho. Mesmo nos dias em que você está com tanta raiva que nem consegue olhar na cara do outro, confiar na parceria e no processo contínuo de descobrir a vida é a chave da relação.

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