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Por Eduardo Vanini — Rio de Janeiro


Mart'nália usa camiseta Perigo — Foto: Mateus Rubim
Mart'nália usa camiseta Perigo — Foto: Mateus Rubim

Mart'nália jura que não gosta de trabalhar, algo que menciona duas vezes ao longo de uma hora e meia de entrevista. Mas ela acaba de produzir o EP “Essa maré”, do músico e amigo Luiz Otávio, e se prepara para entrar em estúdio em maio, quando grava o próximo álbum, uma coleção de sambas de todo o Brasil. Em junho, cai no mundo com uma turnê em sete países da Europa, como Portugal, Alemanha e Suíça. Mas insiste: “O ócio, para mim, seria uma maravilha”.

O carnaval, avisa, será de descanso. Depois de encarar a maratona do ano passado, quando o pai, Martinho, foi enredo da Vila Isabel, ela afirma que ambos decidiram passar a data fora do furdunço. “É um sufoco, porque todo mundo acha que ele é o dono da Vila. Aí é um tal de reclamar com a gente”, narra. Se vão conseguir mesmo ficar longe da Avenida, aí já é outra história. “Desfilo desde os 7 anos, quando falsifiquei o documento para fingir que tinha 8.”

É feriado de São Sebastião e, portanto, dia de Oxóssi, santo de Mart'nália. Sentada no sofá da casa de sua empresária, em São Conrado, ela dá uma pausa na sessão de fotos e aproveita para comer um prato de macarrão com carne moída. Finaliza com um caçulinha de Fanta Laranja, que bebe só a metade. “Melhor coisa para curar ressaca”, recomenda, minutos depois de dizer que anda diminuindo a cerveja, uma das medidas para cuidar da saúde, aos 57 anos. “Se antes bebia 28, agora paro em 17.”

Casaco e calça Renner e bandana acervo styling — Foto: Mateus Rubin
Casaco e calça Renner e bandana acervo styling — Foto: Mateus Rubin

Também dá tapinhas no baseado de tempos em tempos. Desse velho companheiro, não pensa em abrir mão. “Gosto do cheiro, da levada”, comenta, com o mesmo entusiasmo que fala dos amores. Solteira — “graças a Deus” — segue com o mesmo desejo e facilidade de sempre para se apaixonar. É amiga de todas as ex-namoradas e, por causa do currículo extenso, coleciona uma penca de afilhados. “Muitas tiveram filhos, e virei meio pai.”

Orgulha-se de ser “o churrasqueiro” de Maria Bethânia, amiga íntima e vizinha de sua empresária, e acha graça quando uma criança desavisada a pergunta se ela é menino ou menina. “Falo para ela: ‘Escolhe!’.” Coisas de quem, pode se dizer, experimentou o “gênero fluido” muito antes dos millennials, quando a avó da cantora a chamava de “moleque”, de um jeito afetuoso. “A coisa do pronome masculino nunca foi um problema para mim”, resume.

Você vai gravar um álbum que se chama “Meu samba brasileiro”. Como será?

Quero fazer uma pesquisa mesmo. Cada lugar do Brasil tem a sua característica de formação musical. São muitas diferenças até pelos instrumentos, métrica da música e batuques. Muita gente fala que samba é tudo a mesma coisa. Não é. Assim como eu tenho a minha cadência, esses lugares podem me mostrar a deles.

Qual é a sua?

É uma mistura de tudo. Meu ouvido já vem com um pandeirinho atrás. Minhas influências vão desde o soul e a black music até o fato de ter sido vocalista e sempre gostar de colocar um “tchurururu” no meio das músicas. Acho que tudo isso dá a minha assinatura.

Blazer e calça Handred, regata Welcome Rio, óculos Zerezes, colares acervo pessoal Mart’nália e chinelos Havaianas — Foto: Mateus Rubim
Blazer e calça Handred, regata Welcome Rio, óculos Zerezes, colares acervo pessoal Mart’nália e chinelos Havaianas — Foto: Mateus Rubim

No último álbum, você só escreveu a letra de uma das faixas. Como anda o lado compositora?

Bem preguiçoso, como eu. Não paro para compor. Sonho com um pedaço de frase, tenho uma ideia e anoto, gravo áudios no telefone e mando para a minha empresária com algumas melodias que penso. Na pandemia, não fiz nada. Fiquei bem travada.

Se a pandemia foi difícil, agora, com a agenda cheia, está com mais sede de palco?

Nos primeiros shows, parecia que estava recomeçando a carreira, com os medos e as preocupações. Depois, relaxei e vi que sei fazer bem. Mas não gosto de trabalhar mesmo. Se pudesse não fazer nada, o ócio seria uma maravilha. Mas tem sido prazeroso voltar aos palcos e ver como as pessoas estavam ávidas por isso.

Você é famosa pelo alto-astral. nunca fica triste?

Fico. A morte me deixa triste. Esse clima pesado, de toda hora ver uma mulher espancada, todo o mundo nervoso e um genocídio do povo preto, me incomodou muito nos últimos anos. E ainda teve essa coisa desnecessária com a Gal, o Tremendão (ambos morreram em novembro). Parecia filme ruim de ficção científica.

Mart’nália veste look Retropy — Foto: Mateus Rubim
Mart’nália veste look Retropy — Foto: Mateus Rubim

Como lida, então, com a passagem do tempo?

Quer saber como é ficar velha? Na praia, chegam para mim e dizem: “Ô tia, vamos tirar uma foto?”. Tia! Dentro de casa, sou tia-avó, mas meus sobrinhos-netos não conseguem me chamar de vó nem fodendo. Tenho esse jeito de ser que faz com que me esqueça bastante da idade. Lembro só quando estou sentada, me levanto rapidamente e sinto a coluna. Daí eu penso: “São os 57”.

Faria alguma intervenção estética?

Está louco! Morro de medo de agulha. Estou usando aparelho invisível nos dentes porque, quando ficamos velhos, não são apenas as orelhas que crescem. Os dentes também vão se separando. Minha empresária vive falando para eu tirar esse quibe da cintura (pega nos culotes), mas já disse para deixá-los aqui. A única coisa que fiz foi diminuir os seios quando era jovem.

Mudou hábitos, bebe menos cerveja?

Se bebia 28, agora tomo 17 (ri, com ironia). No dia seguinte, você já não acorda e vai à praia. Fico bêbada muito mais rápido. Tenho que diminuir porque não tenho limite e não quero parecer uma velha louca e inconsequente. Ah! E tem a menopausa...

Como tem sido?

Caraca, maluco. Você está numa boa e, daqui a pouco, começa a suar. É engraçadão. Sente aquela gota de suor pingar na bunda. E não posso fazer reposição hormonal, porque minha mãe morreu de câncer, e esse tratamento não é indicado para quem tem histórico da doença. Agora, descobri que sou hipertensa.

E o baseado?

Gosto de fumar, mas tenho que ficar sem quando viajo. Gosto do cheiro, da levada. Acho que faz parte de mim. É como um ritual.

Sua voz está mudando?

Toda voz envelhece. Na hora em que a minha estiver ruim, já paro logo. Não quero ficar cantando com voz ruim. Isso é para quem gosta de trabalhar. Mas também mudam-se os tons.

Calça e camisa Zara e chinelos Havaianas — Foto: Mateus Rubim
Calça e camisa Zara e chinelos Havaianas — Foto: Mateus Rubim

Fala-se bastante sobre o protagonismo feminino no samba. Acha que influenciou algo?

Não. Sei que o preconceito existe, mas fui criada com as mulheres em volta. Minha mãe era cantora de samba e sempre ouvi Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho e Clara Nunes. Se falar que levantava bandeira, vou inventar um movimento que nunca tive. Dentro da minha bolha, eram mulheres cantando o tempo todo. Só não sabia que era um privilégio.

Quando entendeu isso?

De uns tempos para cá, vendo a vida, prestando atenção à minha volta. Meu pai criou a gente de um modo em que, se quiséssemos ir a um lugar e falássemos que só teriam brancos, ele dizia: “Vai lá, vai ter você. Não tenha medo”.

Você sempre cantou o amor por mulheres, sem mudar pronomes nas letras. Vê algo político nisso?

Para mim, não tinha. Mas pessoas já me falaram que foram inspiradas por mim. Não foi uma coisa pensada. É como eu me sinto bem cantando. Imagina se cantasse “Se você quer ser meu namorado/ Ah, que lindo namorado” (de Vinicius de Moraes)? Ia acabar com a música do cara.

Falando nisso, está namorando?

Graças a Deus, não. Estou solteira há uns oito meses.

Já teve relacionamentos longos?

Vários. Já namorei por oito anos. Gosto de me apaixonar.

Conseguiu ser monogâmica alguma vez?

Só porque fui obrigada, senão a pessoa me matava. Ela era tão ciumenta que eu não podia nem olhar para o lado. Na primeira tentativa minha, já descobriu antes de acontecer (a traição). Mas acontece, né? Você sai, dá aquela olhadinha, toma uma cervejinha, fala uma besteirinha... Estou aberta às paixões.

Camisa e regata Welcome Rio e calça Armadillo — Foto: Mateus Rubim
Camisa e regata Welcome Rio e calça Armadillo — Foto: Mateus Rubim

O desejo não mudou com a idade, então?

Não. No máximo, a gente já vai sacando que determinada pessoa pode ser chata para caramba. Aí, não caímos mais nessa.

Tem vontade de ter filhos?

Não. Se colar com alguém que queira, legal. Mas tenho um monte de “ex” com filhos, então sou meio “pai” de alguns. Elas são minhas “cumade” porque não me afasto delas. Continua o carinho. Mas, se puder, dou um pega também (risos). Não consigo detestar ninguém. Fui criada assim. Quando minha mãe se separou do meu pai, continuamos todos morando juntos.

E você também adora uma festa. Ouvi dizer que faz churrascos na casa da Bethânia.

Sou tão cara de pau que, no primeiro show que fui ao camarim dela, levada pela Lúcia Veríssimo, olhei para o pé da Bethânia e disse: “Posso chupar seu dedão?” Fui lá e dei um beijinho. Ela mora aqui perto e gosta de um churrasquinho, uma cervejinha. Um dia, a convidamos para vir aqui, ela veio e gostou do meu churrasco. Virei o churrasqueiro dela!

Por que no masculino?

Não sei. Saiu assim. Tem criança que me chama de Tio Mart’nálio (risos). Outras perguntam: “Você é menino ou menina?” “Falo: ‘Escolhe!’”. Desde pequena, a coisa do pronome masculino nunca foi um problema. Minha vó me chamava de moleque.

Definir-se não é importante?

Não. É assim que é... Sei lá.

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