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Por Bernardo Araujo


Pitty usa blusa Paeteh, calça Planet Girls For You e cinto Virgínia Cavalheiro — Foto: Bruno Fujii
Pitty usa blusa Paeteh, calça Planet Girls For You e cinto Virgínia Cavalheiro — Foto: Bruno Fujii

Um show de rock num sábado à tarde, sob o sol, num festival, enfrentando a concorrência de uma diva do funk. Tinha tudo para dar errado, mas quem viu o sorriso estampado no rosto de Pitty em sua apresentação no Lollapalooza, em São Paulo, há duas semanas, ao vivo ou pela TV, teve a mesma impressão da cantora baiana de 45 anos. “Eu me diverti muito, foi massa”, lembra ela, em conversa por vídeo de sua casa, na capital paulista. “Eu não sabia muito bem o que esperar e vi aquela multidão gigantesca, tão grande quanto a do show da Lud, ou maior ainda. Ouvi até reclamações da galera, que queria ter podido ver os dois shows, mas festival é assim mesmo.”

Pitty, que também está no line-up do festival paulistano The Town, em setembro, aproveitou o Lolla para virar a chave das turnês. Sai “Matrix” entra “ACNXX”, que comemora os 20 anos de seu disco de estreia, “Admirável chip novo”. O álbum fincou os pés da cantora no rock nacional no começo do milênio, com sucessos como “Máscara”, “Equalize” e a faixa-título, e a turnê que o celebra chega ao Rio no dia 29, na Fundição Progresso. Na conversa com a ELA, a roqueira lembra a vinda de Salvador ao Rio para encarar, pela primeira vez, um estúdio profissional, fala do planejamento milimétrico de uma carreira que lançou apenas cinco discos de estúdio em 20 anos e da criação da filha Madalena, de 6.

O GLOBO - Como é para uma artista tão ciosa da própria carreira, que lança discos a cada quatro anos, ver a atual da indústria fonográfica, mergulhada no streaming, em que o importante é lançar o maior número possível de produtos? Sente-se pressionada?

PITTY - Não. Sei o que está acontecendo, estou vendo, mas não preciso me deixar levar por cada onda da indústria, até porque elas mudam. Acabou que botei umas novidades na rua durante a pandemia, como o “Casulo” (um EP em parceria com nomes da cena alternativa como Jup do Bairro e Pupillo) e a música “Tempo de brincar”, que Rafa, meu produtor, e eu encontramos ao fazer um pente fino nos HDs. A música estava lá, pronta! Não acreditamos quando vimos, e logo lançamos. Voltando à pergunta: eu vejo essa pressão, sei que existe, e se aparecerem coisas legais, ideias boas, vou adorar lançar. Mas não é um casamento por conveniência, é por amor.

Por falar em casamento, Daniel (Weksler, baterista e marido) saiu da sua banda para ensaiar com o NX Zero (banda original dele, que está de volta após seis anos). Como foi para administrar isso e, principalmente, com quem fica a criança?

Pois é (risos), vamos ter que dar um jeito, né? Por um lado, a Madá ganha mais uma opção: pode ir para a estrada com o Dani ou comigo, se acharmos que as condições são boas para uma criança da idade dela. Senão, contamos com avós, amigos, uma rede de apoio muito valiosa. Nossa profissão é assim, a gente trabalha no fim de semana, e infelizmente não tem escola no sábado e no domingo (risos). Converso muito com ela sobre isso, porque ela está inserida no mundo dito “normal”.

Você acha que a Madalena está sendo criada em um mundo melhor do que aquele em que você cresceu?

Acho que sim. O ambiente em casa com certeza é diferente, não por maldade ou por falta de vontade dos pais da nossa época, mas por uma questão geracional mesmo. Madá é criada para ter a voz escutada, para ser respeitada, para ouvir e entender os próprios sentimentos, para se sentir no direito de falar sobre eles, sejam quais forem, raiva, ciúme, beleza. Além de falar com as amigas e os amigos, sem diferença de menino para menina.

Então o ambiente hoje é melhor?

Claro que é, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Ela está com 6 anos. Então, tenho uns dez anos para lutar, até ela ser adolescente, para que ela possa sair na rua sem ser incomodada, como ainda acontece com as meninas hoje em dia. Converso com ela sobre confiança e responsabilidade. Temos que dar ferramentas para os meninos e meninas, para que sejam corretos e se protejam.

Projeta o momento em que vai falar de sexo e drogas?

Ainda não. Tenho aprendido no meu maternar que devo respeitar o tempo dela. Se ela quer saber alguma coisa, eu não fujo da pergunta, mas não preciso oferecer uma informação que ela não está me pedindo. Tenho o compromisso de ser honesta, mas entrego o que acho que ela pode compreender. O sexo se apresenta desde que a pessoa nasce, não o ato sexual, mas a sexualidade, o primeiro contato é com o peito da mãe, um movimento de sucção. Tudo vem de forma muito natural. A orientação, por exemplo: ela já perguntou se menina namora menina, a gente disse que sim e pronto. Não é uma questão.

E para uma mulher roqueira, estabelecida, como você? Ainda são poucas hoje em dia...

Os debates sobre a liberdade feminina trouxeram melhorias, avanços, ainda que alguns sejam disfarçados. Se há 20 anos eu dissesse que era feminista, isso seria a manchete (risos). Hoje não teria mais a menor graça. O debate atual é para ver que feminismos são esses, que recortes. Hoje, as negras e as LGBTQIAP+ estão no centro do debate, o que é ótimo.

Ouvindo o “Admirável chip novo” hoje, 20 anos depois, você acha que ele soa datado?

Rapaz... eu não mexeria em nada. Quando lancei o disco seguinte, o “Anacrônico” (2005), tive um pouco essa percepção, mas o distanciamento muda a nossa impressão. Quando olho o “Chip novo” hoje, tenho uma gratidão enorme por ele. É o que deveria ter sido, o que pudemos fazer com as ferramentas que tínhamos na época. São escolhas.

O disco vai ser tocado na íntegra e na ordem?

Vai, e não dou mais spoiler. A gente vai conseguir reproduzir as músicas de forma mais fiel hoje em dia do que conseguia na época. Isso é louco, né? Hoje a tecnologia permite. Eu vim de Salvador (ela e o produtor Rafael se conheciam do underground, em que ele tocava em bandas como Baba Cósmica, e ela no Inkoma) para gravar e pela primeira vez entrei em um estúdio com microfones, no plural. Nunca tinha gravado nada fora do esquema underground.

Você pensa em tudo do show, do repertório à parte visual, figurino, cabelo?

Penso, ué? Junto com a minha equipe. Gosto muito de pensar em beleza, estética, no sentido mais amplo. Sou libriana, esteta por natureza, gosto da beleza, da harmonia, dos quadros, da fotografia. Adoro maquiagem, sempre que estou trabalhando com um maquiador ou maquiadora foda, fico fazendo perguntas, querendo aprender. Tudo está ligado à comunicação e à autoestima.

As cinco temporadas no “Saia justa”, do GNT, ajudaram nesse aprendizado?

Muito! Era um papo muito legal, e tinha uma pegada de hard news. Às vezes, a gente tinha que mudar de assunto em cima de hora. Precisava me manter informada. E era muito bom para controlar o ego, saber o que é uma opinião que pode interessar às pessoas e o que seria apenas eu falando de mim.

Como foi a sua saída do programa?

Foi um momento de transição do “Saia” e meu. Era o fim da pandemia, estava louca para voltar para a estrada. Durante a parada, foi ótimo ocupar a cabeça, mas a saída veio na hora oportuna, não daria para conciliar. Ainda não tive a oportunidade de assistir o programa atual, não estou parando, e não tenho muito o hábito de ver televisão. Acho que deve estar muito massa, com Gabriela Priolli, Bela Gil, Larissa Luz e a Astrid, que é maravilhosa.

Você saiu da Bahia jovem, veio para o Rio, depois São Paulo. Como é a relação com a sua terra e com a passagem do tempo?

É como se eu estivesse voltando de um exílio. Como Gil diz naquele disco de 1971 (“Gilberto Gil”), gravado em Londres: “Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar” (“Back in Bahia”). É uma relação de maternidade, a Bahia é como se fosse minha mãe, acho que Freud explicaria. Eu saí com questões para resolver, não me sentia vista, acolhida lá. Aos 18 anos, achava a minha adolescência uma merda, estou muito mais de boa hoje, aos 45. Não tenho problemas com a idade, mas as pessoas, as redes dão muita importância a isso, né?

Então o “exílio” te ajudou na relação com a Bahia?

Vejo com outro olhar, não tenho mais esse rancor juvenil, então pude estabelecer as parcerias que estão nesse disco, com Lazzo Matumbi e BaianaSystem. Hoje, a Bahia é muito mais moderna musicalmente. A gente precisava dar um tempo na relação, e hoje eu estou numa de “Descobri que te amo demais” (“Verdade”, de Zeca Pagodinho). Além disso, a Madá se amarra, pira num acarajé.

Na letra de “Bicho solto”, você diz: “Eu me domestiquei pra fazer parte do jogo/ Mas não se engane, maluco/ Continuo o bicho solto”. Ainda se sente rebelde?

(Risos) Ali eu falo que sou uma loba em pele de dama. Foi a forma que encontrei de fazer parte do sistema sem perder a essência, manter viva essa mulher selvagem. Acho que algumas palavras ficaram esvaziadas, como “rebelde” e “transgressora”, mas se você pegar o significado original, elas falam em questionar o status quo. A gente só muda, só avança se questionar. Então temos que nos rebelar contra o machismo, o racismo, para não sermos coniventes. Eu transgrido na medida em que acredito que isso seja necessário. Ou seja, a resposta é sim. Se eu não me rebelar contra determinadas situações, acabo sendo cúmplice.

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