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Por Eduardo Vanini


Sequências de músicas sensuais podem ajudar na performance sexual — Foto: Shutterstock
Sequências de músicas sensuais podem ajudar na performance sexual — Foto: Shutterstock

O ano era 2015. As plataformas de streaming musical ainda não haviam chegado ao auge, mas o gerente de recursos humanos William Cunha foi surpreendido com uma trilha sonora especial num quarto de hotel, em Belém. Ele tinha viajado de São Paulo até a capital paraense para encontrar um rapaz que conheceu pela internet e, na hora H, o parceiro exibiu uma performance ao som de “Earned it”. A música do canadense The Weeknd para o filme “Cinquenta tons de cinza” ajudou a quebrar o gelo e deixar o clima ainda mais envolvente. “A conexão foi imediata, mesmo depois de quatro horas de voo”, recorda-se. “Desde então, quando viajo, ponho na mala camisinhas, lubrificante e uma caixa de som.”

William tem hoje, no Spotify, a própria playlist para os momentos de intimidade, em que cada faixa foi escolhida meticulosamente. “A trilha começa agitada, chega ao ápice e, depois, fica romântica. Para se ter uma ideia, termina com Adele, que é a hora de ficar abraçadinho na cama”, conta, sobre a sequência sonora que vira e mexe é compartilhada com amigos. Aberta ao público, a “Moments” tem duas horas de duração e faz parte de um verdadeiro bioma musical apimentado, onde os usuários das plataformas de streaming precisam apenas digitar a palavra “sexo” para começar a desbravá-lo.

Há opções para todos os gostos, das explícitas (“Músicas para transar”, na Deezer) às inusitadas (“Trilha sonora sexo sem compromisso”, no YouTube Music). Uma das mais populares, “The sexXx playlist”, no Spotify, enfileira 13 horas de R&B e reúne um séquito de quase 300 mil seguidores, embora a autora, a estudante de direito Alessandra Pimentel, não saiba explicar a origem do sucesso. Mas, desde que a tal coletânea caiu no gosto do público, a jovem começou a receber uma enxurrada de mensagens diárias em seu perfil no Instagram. “Já houve artista agradecendo por estar lá e outros querendo entrar”, conta a paulista. “Também chegam elogios dos ouvintes. Até mesmo na noite de Natal recebi relatos de pessoas sobre como as faixas haviam inspirado momentos de prazer.”

William leva caixa de som sempre que viaja — Foto: Arquivo pessoal
William leva caixa de som sempre que viaja — Foto: Arquivo pessoal

Se Alessandra desconhece o motivo do engajamento, a ciência ajuda. Pesquisador em psicologia evolucionista e especialista em evolução da musicalidade humana, Marco Varella afirma que música e sexo deram match muito antes de os aparatos tecnológicos serem criados. “Em algumas espécies de pássaro, a fêmea só ovula ao ouvir o macho cantando. Várias aves, baleias e primatas cantam para defender um território ou atrair e manter parcerias reprodutivas. A musicalidade é a cauda de pavão sonora”, ilustra Marco, que também é professor visitante do Departamento de Psicologia Experimental no Instituto de Psicologia da USP. Ainda, segundo ele, uma pesquisa com 4.175 americanos verificou que 55% dos participantes citaram a música como parte das fantasias sexuais em algumas ocasiões. “A playlist sexual, além de dar prazer, pode influenciar o estado de ânimo, desestimular a fala e até contribuir para a sincronia de movimentos.”

O publicitário Regis Rabelo pesquisou playlists voltadas ao cotidiano em seu mestrado em Comunicação na UFF e apurou que a escolha das canções varia conforme a memória afetiva e os gêneros musicais favoritos dos criadores. Isso indica, portanto, que não existe um consenso sobre qual seria a música ideal para os momentos de volúpia. “Mas os artistas já perceberam essa demanda. Há muitas canções do pop e do sertanejo que citam as novas tecnologias musicais”, observa.

Carol Biazin, por exemplo, foi direto ao ponto. A cantora compôs “Playlist de sexo”, com versos como “Cê se toca pensando em mim/ Playlist de sexo no ‘radin’”. “Amo escrever músicas de putaria romântica”, ela diz. “Todo o mundo tem vontade de transar ou, pelo menos, a maioria das pessoas. E nós mulheres temos um olhar mais sensível e verdadeiro para isso.”

A cantora Carol Biazin compôs a música 'Playlista de sexo' — Foto: Acid
A cantora Carol Biazin compôs a música 'Playlista de sexo' — Foto: Acid

Do mesmo jeito, as plataformas surfam na onda. Todas têm seleções oficiais com essa temática, como a Deezer, que lançou “Rima no ouvidinho” e “Hora H”, cujas execuções aumentaram mais de 300% na véspera do último Dia dos Namorados. Embora não existam regras, o editor de música da plataforma e autor das coletâneas, Eduardo Ribas, observa que R&B e trap têm funcionado melhor nestes contextos. “As letras falam bastante de sedução, sempre têm muita coisa relacionada a sexo”, diz. “Acho que o público consegue sacar se não houver verdade na canção.”

A playlist “Sexo preliminares”, da Rádio Ibiza na Deezer e no Spotify, segue por esse caminho. “São faixas muito sensuais”, avalia o autor da seleção, Fc Nond, que cita Sabrina Claudio, Black Atlass e Sevdaliza como boas pedidas para momentos de prazer erótico. “Esses artistas conseguem criar uma textura sonora que soa como agarração, beijação.”

Isso não significa, porém, que falta espaço para a música brasileira na cama. Autor do livro “História sexual da MPB”, Rodrigo Faour lembra que, desde a bossa-nova, o amor começou a ser cantado de maneira mais sedutora, abrindo vias alternativas à famigerada “dor de corno” de outrora. Ele mesmo tinha fitas cassete gravadas para ocasiões íntimas que transformou na playlist “Songs to listen together at night” (Spotify), recheada com faixas de João Gilberto, Fafá de Belém e Maria Bethânia, além de nomes internacionais. Só coisa fina e com um providencial controle de qualidade. “Se ouvir uma música que não gosto, eu broxo”, justifica.

A diversidade também aparece na “Hotcake” (Spotify), que o curador musical Zé Marcio Alemany criou, ao ser procurado pela reportagem para falar sobre o tema. Vai de “Love song”, de Devendra Banhart, a “Flerte revival”, de Letrux. Uma verdadeira orgia sonora, no melhor sentido da expressão. “Quis mostrar a pluralidade que a música ‘de sexo’ pode ter, fazendo com que canções nacionais e internacionais toquem juntas”, descreve. E ele já avisou que, de tempos em tempos, deve rolar alguma atualização por lá. Afinal, tudo o que cai na mesmice pode enjoar.

Assim como o sexo.

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