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Por Mariana Rosário — São Paulo

Há muitas maneiras de contar a história de Janaína Torres Rueda, de 48 anos, restauratrice à frente do badalado Bar da Dona Onça e d’A Casa do Porco, único endereço brasileiro no ranking internacional de melhores destinos da boa mesa, o The World’s 50 Best. Uma delas é com a menina obstinada que nasceu num cortiço do Brás e prosperou em uma série de restaurantes celebrados, capazes de levar 50 mil pessoas ao centro paulistano para comer e beber. A outra é sobre a mulher apaixonada que se recusava a jogar conversa fora com os clientes mais bonitos, pois só tinha olhos para o então namorado, Jefferson Rueda, que se tornou marido, sócio e agora ex. Com ele passou 20 anos, teve dois filhos (João, de 17 anos, e Joaquim, de 13) e sofreu muito ao descobrir infidelidades. Separada, gritou embaixo da cama, ficou sem ar, procurou ajuda psiquiátrica. Encontrou o bálsamo em um novo amor, no autocuidado e em viagens para cozinhar — no próximo mês, a agenda está lotada, com direito a paradinha no Rio Gastronomia, dia 18 de agosto, onde cozinhará ao lado de outras mulheres em uma série de aulas que celebra os 60 anos da Revista ELA. É possível enumerar ainda uma terceira versão de Janaína: a da mulher que verte lágrimas volumosas analisando as próprias conquistas e o orgulho de ser querida e admirada por clientes (ou seriam fãs?) que a interceptam para pedir fotos após esperar em imponentes filas para visitar um dos estabelecimentos dos quais é sócia, que incluem a lanchonete Hot Pork e a Sorveteria do Centro. Foi esta versão que recebeu a Revista ELA, no seu novíssimo Merenda da Cidade, refeitório que oferece um único prato por dia, a R$ 40. Em duas horas, a empresária falou sobre o reality show que estreia na TV aberta neste mês, prêmios, amor, carreira, feminismo e prazer de sentir-se bem dentro da própria pele. No seu caso, a pele de onça, eternizada em uma tatuagem que parte do ombro até a ponta dos dedos, feita após a separação. “Estar bem, feliz e bonita é também um ato de respeito com o próximo”, teoriza. Abaixo, os melhores trechos da conversa:

Como é estar na dianteira da Casa do Porco, que mais uma vez entra no ranking do The World’s 50 Best Restaurants?
Sempre estive na dianteira, desde 2015, mas isso não era falado. Meu primeiro menu, “O porco é”, foi criado junto à equipe, em 2018. O nome da casa e o conceito fui eu quem dei. O Jefferson era muito bom com açougue e, antes de abrir A Casa do Porco, pensávamos em abrir uma casa de venda de carnes (a dupla hoje também comanda o açougue Porco Real). Mas disse a ele: “Temos que utilizar o porco que é o tipo de carne que você melhor sabe fazer”. Até hoje, somos sócios e estamos os dois no comando do restaurante. Muita gente achava que a cozinha era só dele. Machismo. Sempre foi minha também.

Qual é o peso de receber um prêmio como este? Traz algum tipo de insegurança?
Eu amo os prêmios e os comemoro há muitos anos. Quando entramos em 79º, neste mesmo ranking, vibrei muito, pulei. É importante, traz notoriedade. Mas não vou ficar presa a números. Há casas que passaram de 2º para 35º lugar. Amanhã, posso estar em 20º, ou sair da lista dos 50. Tudo bem, quero me sentir parte, mas não precisa ser por meio de números. É cruel, há quem diga que nós “caímos” de 7º para 12º (por conta da mudança de posição entre 2022 e 2023), mas não existe isso. Quem cai se levanta. Hoje somos os únicos brasileiros.

Você recebia convites para a TV, mas os recusava por não querer fazer propagandas de comida. Por que aceitou agora? Hoje, entendo que estar num programa (Janaína é a nova jurada do reality “Top Chef”, da Record, que acaba de estrear) não quer dizer que ele é seu. Não dá para deixar de ir à TV, como eu fazia antes, pois deixo de ter voz. Um exemplo que deu muito certo foi a Paola Carosella. Tudo depende de como você se coloca. É importante ter mulheres cozinheiras nos programas de televisão, principalmente porque há grandes profissionais que estão dentro de caixinhas e não têm coragem de abrir uma portinha e vender suas receitas. Não vou ficar me guardando. Estou bem feliz com a novidade.

Janaína Torres Rueda: viagens à vista — Foto: Sher Santos
Janaína Torres Rueda: viagens à vista — Foto: Sher Santos

Há outras a caminho?
Quer ver minha agenda (risos)? Você vai se assustar. No começo deste mês fui a Buenos Aires. Agora, vou para El Salvador, Venezuela e ainda Cingapura. Volto para o Rio Gastronomia, dia 18 de agosto. Depois tem México, Japão, Turquia e França. É uma loucura. A gastronomia bem aplicada é uma forma muito intensa de desbravar o mundo. É um meio de inclusão social maior do que o futebol.


Como enxerga a presença feminina na gastronomia?
Eu só percebi o machismo depois que me separei. Comecei a ouvir que ele era o gênio, que ele era o cozinheiro e não eu. Pensei: opa, mas o que é isso? Há tantos anos eu faço tantas coisas. Não tinha ideia de que isso podia existir, é triste. Parecia que tê-lo como marido era um escudo. E foi um alívio tirar esse escudo. Não pela separação, ou por ele, mas porque eu entendi o que as mulheres passavam. Eu não compreendia, precisei passar por algo muito difícil para entender o machismo no Brasil. Foi nítido, as máscaras caíram. Ouvi coisas que jamais imaginei, tipo que A Casa do Porco ia fechar porque estávamos separados. Antes de sentir na pele, achava que era “mimimi”.

Outras mulheres ofereceram apoio quando você anunciou o divórcio e falou sobre infidelidade?
Recebi inúmeras mensagens no Instagram, muito apoio. Essa coisa de o homem ser sempre perdoado por tudo faz com que isso se normalize, e façam isso em cadeia. Não é algo que ocorreu só comigo. Ele não é um monstro. É uma cultura. É old school isso da traição. Hoje em dia, as novas gerações até abrem a relação para não ter essa deslealdade. Mas aviso que não é meu caso. Sou muito ciumenta, é um defeito muito grande. Não gosto de trocar energia com qualquer um. Essa coisa de beijar mil pessoas no carnaval não é minha praia. Até queria ter feito para ver como era. Mas não consigo. Gosto de me apaixonar. Amor, paixão e admiração são capazes de nos sustentar.

Houve um processo de reconstrução? Dos seus gostos, da sua imagem?
Passei a observar melhor minha capacidade e inteligência emocional, que foi muito necessária. Fiquei sozinha um pouco, me redescobri e ter meu espaço foi uma parte boa. Comecei a descobrir novos sentimentos, com respeito, compreensão, amor, algo que talvez me faltava na vida. Hoje me respeito muito mais.

Passou a se cuidar melhor?
Por vezes, quando estamos em um relacionamento que se torna tóxico, a gente acaba não se cuidando. Vai ficando desleixada, míngua sem perceber. Eu não percebia. Minha irmã falava que eu estava andando com a camiseta rasgada, roupa largona, de avental, que eu tinha perdido o brilho no olho. Eu pensava “imagina”. Agora vejo que estar bem, feliz, bonita é também um respeito pelo próximo. Tenho vontade de estar íntegra comigo mesma.

Considera-se feminista?
Sim. Eu me defendo como mulher, defendo mulheres em quem acredito. Minha voz é feminista. Isso não quer dizer que atacarei os homens. Tive muitos mentores homens, um deles foi (o restaurateur) Walter Mancini. Não gostaria de ter, por exemplo, um restaurante só de mulheres. Penso na importância da união de trabalho dos dois.

Algumas mulheres são orientadas a segurar as emoções, quando estão em cargo de destaque. Você não parece ser assim…
Eu choro mesmo. A dor passa rápido porque eu coloco para fora, choro e grito. Quando me separei, entrava embaixo da cama e começava a berrar. Fui fazer terapia com psiquiatra, mas tive alta em dois meses, ele não me receitou remédio. Falou para eu seguir fazendo a mesma coisa e até disse que eu ia logo menos me apaixonar de novo, para eu ficar tranquila.

Como conheceu seu namorado, Leandro Langoni?
Ele tem uma produtora de vídeos. Estávamos dando andamento a um projeto (perto da época da separação). Antes das gravações, eu chorava muito dentro do carro deles. Quando o cenário estava pronto, ele batia no vidro para que eu pudesse passar um corretivo, me recompor. Ele me trazia água e perguntava se eu estava bem. Fomos nos conhecendo. Após alguns meses, essa afinidade mudou. O meu namorado é dez anos mais jovem do que eu. É alguém alinhado com a questão feminista.

Janaína Torres Rueda: confiança na gastronomia como ferramenta para transformação social — Foto: Sher Santos
Janaína Torres Rueda: confiança na gastronomia como ferramenta para transformação social — Foto: Sher Santos

Pensa em ser mãe novamente?
Olha, já sou mãe de dois (João Pedro, de 17, que segue o caminho da gastronomia, e Joaquim de 13) e há dois por parte dele (Valentina, de 11, e Vicente, de 7), todos moram comigo. Somos seis. Então, resolvemos logo unir as coisas, não tenho mais idade para ficar ensaiando, queria viver o que é bom logo. São quatro para cuidar e estou num momento muito intenso da carreira. Mas, se vier... serão bem-vindos. E pode ser até que eu não engravide, mas queira adotar mais para frente. Sou uma mãe nata. Gosto de criança, talvez seja a única coisa de que eu realmente goste muito. Penso que crianças não têm muito defeito, no máximo é uma malcriaçãozinha.

Beleza: Sandro Barreto
Set design: Felipe Tadeu
Assistência de fotografia: Bernardo Calmon
Produção de moda: Deivid Moraes.
Produção cenográfica: Galpão 8.
Produção executiva: bKariny Grativol.

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