Gente
PUBLICIDADE

Drica Moraes faz apenas um pedido para esta entrevista: “Só não queria que ficasse baixo-astral”. A preocupação, contudo, soa desnecessária depois de duas horas de conversa. Numa manhã de quarta-feira, descalça, vestindo bermuda jeans e camisa branca de linho, a atriz passa um café forte e se acomoda sobre o tapete felpudo da sala de seu apartamento na Gávea, Zona Sul do Rio, para mergulhar na própria história. Aos 54 anos, a carioca, que saiu jovem da casa dos pais, consolidou uma carreira de sucesso na TV, adotou um filho aos 39 e logo depois se internou para tratar uma leucemia, é leve feito uma pluma. “Estou melhor do que podia esperar”, diz.

A vitalidade a conecta à personagem que interpreta e dá nome ao filme “Pérola”, cuja estreia nos cinemas será no próximo dia 28. Dirigido por Murilo Benício, o longa é uma adaptação da aclamada peça de Mauro Rasi (1949-2003) e mostra os sonhos e as desilusões de uma matriarca que jamais perdeu o apreço pela vida. “Não é uma mãe amorosa e ponto. Ela é cheia de contradições. Acho bonito vê-la se reconstruindo diante do que a realidade impõe”, comenta a atriz, ao refletir sobre como a protagonista encara as frustrações frente ao que planejara para os dois filhos.

Os conflitos são familiares à atriz também por motivos pessoais. Mateus, seu filho de 14 anos, está entrando na adolescência, fase considerada “trabalhosa” por Drica. “É uma identidade nova nascendo, e tenho respeito por essa pessoa que ainda não conheço”, comenta. “Quando entendi isso, as coisas melhoraram muito dentro de casa.”

A dedicação ao jovem, porém, passa ao largo de qualquer romantização da maternidade ou anulação da vida pessoal. Depois de estrear como a ultrajante Dona Lúcia, da série “Os outros”, sucesso de crítica e público do Globoplay, a atriz tirou férias como não fazia há alguns anos. Além de viajar com Mateus para o campo, reservou 15 dias para uma temporada sozinha na Europa. “Foi importante para resgatar a minha individualidade”, diz.

Solteira desde 2019, quando terminou o casamento de dez anos com o médico Fernando Pitanga, Drica curte o momento com plenitude. “Tudo funciona muito direitinho aqui em casa. Meu corpo está ótimo, tenho amores. Eu ‘fico’, que nem o meu filho”, brinca, na conversa a seguir.

O GLOBO — Em quais aspectos “Pérola” tocou você?

DRICA MORAES — A Pérola, para mim, é um marco de beleza pelo olhar da Vera Holtz (a atriz fazia a personagem no teatro). E o Mauro Rasi era um autor que falava da família brasileira, da classe média, com liberdade artística. É muito bonito ver como ele abria caixinhas escondidas, de questões de gênero e identidade. Além disso, é uma mãe que descobre o quanto o plano mais perfeito sempre vai dar errado. Não adianta programar muito. E acho que a vida é assim: 50% destino, 50% capacidade de transformação.

“Os outros”, do Globoplay, também fala da classe média, embora por um viés diferente.

Uma das delícias de estar nesse filme é ser uma história amorosa. Na série, vimos uma mistura da milícia com a classe média, as pessoas com uma falta de clareza sobre o que vivem. Ficam escondidas em seus apartamentos, com uma falsa sensação de segurança e pouca empatia pelo outro. Um tema em comum entre as duas obras, talvez, seja a adolescência. É preciso criarmos os filhos nos mantendo no lugar de adulto. Eles são pura emoção e nós, como mães, temos que respirar fundo e contornar momentos difíceis com racionalidade. Em “Os outros”, personagens como os de Adriana Esteves e Milhem Cortaz estão presos na sua própria adolescência.

Você tem vivido essa fase dentro de casa, com o Mateus. Como tem sido?

Conquistei meu filho na adolescência quando consegui uma aproximação amigável, sempre lembrando que jamais o trataria diferente da maneira como faço com um amigo. Ele cumpre a parte dele, e eu fico menos nervosa com as saídas à noite, os comportamentos em sala de aula. E aqui em casa não tenho um sarrafo alto, não tenho expectativa de futuro para ele. Quero que seja uma pessoa ética, empática e feliz. Não exijo 90 ou 100 no boletim.

E como é criar um menino negro no Brasil?

Vivemos numa sociedade estruturalmente racista. Então, é uma missão ser antirracista. E podemos fazer isso por meio de atitudes afirmativas cotidianas. Estudo, leio e me engajo. Já vivi várias situações em que precisei me colocar, denunciar. Também fiz mudanças para que professores, médicos e dentistas negros façam parte da nossa rotina. Essas pessoas têm que estar na nossa vida. É só ir atrás que você encontra grandes profissionais em todas as áreas.

Quando entendeu que gostaria de ser mãe?

Quando menstruei, aos 14 anos. Tive dois casamentos e, com o meu primeiro marido, o (diretor) Regis Faria, fiz inseminação. Perdi duas barrigas e parti para a adoção com trinta e poucos anos. Os médicos ficaram assustadíssimos com a decisão, mas eu me arrependo de não ter começado antes esse processo. Entrei na fila sozinha, porque havia me separado do Regis, e esperei quatro anos pelo meu filho, que chegou quando eu tinha 39. Comecei a namorar o Fernando, e ele quis ser pai. Eu precisava ser mãe.

De onde vinha essa convicção?

Venho de família grande, de companhia de teatro. A minha vida é no coletivo. Além disso, o Mateus veio pelo desconhecido, outra coisa legal em minha vida. Sempre precisei dos estranhos. Falo do amor de um público, quando comecei a carreira de atriz, e dos pais biológicos do Mateus, que não sei quem são. Depois, tive uma doença gravíssima (Drica foi diagnosticada com leucemia em 2010) da qual só uma medula podia me salvar. Os meus seis irmãos não eram compatíveis e o Adilson, um eletricista do interior de São Paulo e que considero meu sétimo irmão, era.

Como vocês se conheceram?

Depois de cinco anos do procedimento, o Instituto Nacional de Câncer permite conhecer o doador. Nos falamos por telefone, o agradeci por ter salvado a minha vida e perguntei se podia visitá-lo. Peguei um avião no dia seguinte. No aeroporto, demos um abraço e, quando entrei no carro, ele disse: “Agora vai conhecer a família inteira”. Fomos de cidade em cidade. Fizeram um churrasco para mim, mas caiu um temporal e acabou a luz. Dormimos todos juntos. Hoje, nos falamos diariamente.

Como sentiu o carinho do público até se curar?

Foi uma onda de amor forte, e o fato de o meu filho ter apenas 1 ano comoveu as pessoas. Mas também houve o lado apavorante, como um fã que furou o bloqueio do hospital e entrou com uma Bíblia no quarto, às 2h. Fiquei um ano internada, com a janela lacrada. Não podia sentir o vento, as pessoas não podiam me tocar. Zerei todos os níveis de sangue três vezes.

O que ficou dessa experiência?

Preciso ter uma vida que eu escolha, num mundo que não é leve, mas com o máximo de leveza possível. Não pego trabalhos que vão me causar sobrecarga absurda nem me relaciono com pessoas tóxicas. Se não está sendo legal, dou um perdido.

Como tem sido a vida aos 54 anos?

Esse negócio da idade é um barato. Até a metade da vida, temos um ego imaturo, dependemos do que os outros pensam. Depois, que para mim foi nos 40, descobrimos novas forças. Estou cada vez mais livre, criativa e potente. Sinto-me florescendo.

Na vida afetiva também?

Eu e o pai do meu filho fomos casados por dez anos, com casas separadas, e somos grandes amigos. Sinto muita liberdade para ficar com as pessoas, ter meus amores. Se algum virar namoro, tudo bem. Mas não tenho a menor ansiedade em relação a isso. Transo gostoso, adoro o meu corpo, adoro ficar com as pessoas, conversar. A solidão me atrai. Estar sozinha é muito apetitoso, me dá uma liberdade enorme. Casamento nunca mais.

Por quê?

É um inferno, né? Não estou falando que seja assim para todos, mas não é uma coisa que me faz bem. Não nasci para isso. Ter a capacidade de conhecer pessoas novas aos 54 anos e não ficar dentro de casa achando que estou velha é ótimo. Não sou a vovó que fica fazendo crochê nem pretendo ser.

A sua geração é paradigmática em termos comportamentais. Como foi a sua juventude?

Sempre fui careta com drogas, mas era cervejeira e namoradeira. Transei muito nos anos 1980, até que veio a Aids, como um apagão para toda a liberdade que vivíamos. E eu era muito amiga do Cazuza, do Serginho Maciel... Foi um marco muito perverso.

Li que saiu da casa dos pais bem nova.

Comecei a fazer Tablado com 12 anos e descobri minha vocação. Com 13, já pagava minhas contas. Fiz uma peça com o Jonas Bloch, aos 17, em que saímos do Rio e fomos até o Amapá numa Kombi. Voltava para casa a cada quatro meses com um bolo de dinheiro que guardava debaixo do colchão. Com 21, passei no teste da Garota Unibanco e comprei um apartamento.

Com tantas realizações, o que lhe resta desejar a essa altura da vida?

Quero que meu filho cresça com confiança, beleza e saúde. A saúde é uma coisa muito estranha, porque achamos um lugar comum do cacete, mas só conseguimos visualizar o valor quando não temos. Quanto à minha velhice, quero que seja feliz, livre e tenha conforto. Essa cara de amor.

Mais recente Próxima Jade Picon passa fim de semana em casa: 'não quero festa, não quero date'
Mais do Globo

Ex-presidente Jair Bolsonaro é quem mais afasta eleitores, diz pesquisa

Datafolha aponta que 56% podem mudar voto para prefeitura de SP por rejeição a padrinho político

Casal teria retomado acordo milionário com serviço de streaming pra realizar novo documentário sobre realeza britânica

'Em pânico': família real teme novo projeto de príncipe Harry e Meghan Markle, diz site; entenda

Idade avançada continua sendo motivo de preocupação para seus colegas exilados, que temem que Pequim nomeie um sucessor rival para reforçar seu controle sobre o Tibete

Dalai Lama diz que está em bom estado de saúde após cirurgia nos Estados Unidos

Mikel Merino deu a volta na bandeira de escanteio para homenagear o genitor após selar a vitória espanhola na prorrogação

Pai de 'herói' da Espanha na Eurocopa marcou gol decisivo contra alemães no mesmo estádio há 32 anos; compare

Com os criminosos foram apreendidos drogas, dinheiro, máquina de cartão de crédito e diversos celulares roubados

Polícia Civil prende em flagrante três homens por tráfico e desarticula ponto de venda de drogas no Centro

Sem citar caso das joias, ex-presidente citou ‘questões que atrapalham’ e criticou a imprensa

Após indiciamento por joias, Bolsonaro é aplaudido em evento conservador ao dizer estar pronto para ser sabatinado sobre qualquer assunto

Embora Masoud Pezeshkian tenha sido eleito com a defesa do diálogo com nações ocidentais, decisões sobre política externa ou nuclear permanecem sob aiatolá Ali Khamenei

Vitória de candidato moderado no Irã pode aliviar, mas tensões nucleares não vão acabar, dizem analistas

Notícia foi dada pelo neto, Fidel Antonio Castro Smirnov

Morre Mirta Díaz-Balart, primeira mulher de Fidel Castro e mãe de um de seus filhos