Em 2007, Fernanda Baumhardt deu uma guinada radical no curso de sua vida. Jornalista de formação, trabalhava como executiva de publicidade em um grande grupo de mídia em Los Angeles. Surfava uma bem-sucedida carreira internacional, ocupava um cargo de prestígio, recebia um supersalário e morava na cidade dos anjos. “Porém, sentia uma melancolia profunda, uma tristeza incessante. Até que uma amiga me arrastou para uma reunião budista e disse: ‘Você não está conectada com você mesma’”, lembra. “Minha primeira compaixão foi despertada ali. Percebi que queria ajudar a Humanidade e chutei o balde”, emenda a gaúcha, que conta a sua história no recém-lançado livro “Vozes à flor da pele”.
Para o espanto de todos ao redor, Fernanda pediu demissão e foi fazer um mestrado em Gestão Ambiental na Holanda. “Quis estudar os problemas climáticos para ajudar o planeta”, explica. No meio da estrada, descobriu um câncer de mama, curou-se, seguiu em frente e conseguiu ingressar no terceiro setor: sua primeira missão com a Cruz Vermelha teve o Malawi, na África, um dos países mais pobres do mundo, como destino.
Em 15 anos de atuação, ela deu voz, por meio de câmera, microfone e vídeos participativos, a integrantes de comunidades que não costumam ser ouvidas, em lugares como Sudão do Sul, Etiópia, Índia, Afeganistão e Uganda. Essa travessia a colocou em situações-limite, como dormir em quartos cheio de escorpiões, atravessar zonas de conflito, deparar-se com a fome e a miséria extrema. “Encontrei-me, finalmente, no terreno, na linha de frente do sofrimento humano”, analisa. São essas histórias que Fernanda conta no livro dividido em quatro partes: O despertar para a busca de propósito; Pontes para o mundo; O microfone na mão de mulheres; e a Estrada de volta para casa.
Funcionário internacional da Ompi (Organização Mundial da Propriedade Intelectual), agência ligada à ONU, o francês Hubert Gronjean se casou com a escritora em 2017. “Fernanda tem uma verdadeira paixão pelo setor. É seu objetivo de vida”, diz. Vice-diretor Regional do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários para a América Latina e Caribe, Rogério Mobilia completa: “Ela amplifica as vozes de comunidades oprimidas, faz com que as pessoas queiram falar”.
A próxima missão, ou, neste caso, aventura, já está definida: Fernanda e o marido vão dar a volta ao mundo em um veleiro. E la nave va.