Ao subir ao palco do CCBB carioca para encenar o espetáculo solo “Azira’i”, Zahy Tentehar, de 34 anos, não estará necessariamente sozinha em cena. A peça que estreia nesta quinta-feira, dia 12, resgata, de modo autobiográfico, a vivência entre a atriz e a própria mãe, morta em 2021 em decorrência de uma infecção generalizada e cujo nome dá título à obra. “É uma maneira de mantê-la viva”, afirma. “Quando ela partiu, vivi um momento de desespero e tive um bloqueio emocional. Depois, ressignifiquei. Minha mãe é presente em mim.”
Azira’i foi a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. Dessa trajetória, Zahy recorda-se que a mãe puxava os cantos nas cerimônias mais importantes, algo inédito para uma mulher, e guardava consigo saberes evoluídos sobre a espiritualidade e a cura. “Ela era uma pajé suprema e quebrou muitos estereótipos”, conta a atriz. “E eu, naturalmente, herdei essas características.”
Zahy mudou-se para o Rio aos 19 anos para “tentar a sorte”, como ela mesma diz, e dar uma vida melhor aos familiares. Morou no Museu do Índio, atualmente conhecido como Aldeia Maracanã, e trabalhou como caixa de supermercado, até ser descoberta como atriz pela produção da série “Dois irmãos”, da TV Globo. A carreira, então, se desdobrou para trabalhos em obras como o longa “Não devore meu coração”, de Felipe Bragança, e a adaptação teatral de “Macunaíma”, dirigida por Bia Lessa. “O que mais me impressiona nela é a sinceridade”, diz a diretora. “Não tem jogo cênico que não seja real. Ela é presente.”
Uma sensação que o público poderá experimentar com toda intensidade no novo espetáculo. O texto é falado em português e Ze’eng eté, língua do tronco tupi-guarani, numa dramaturgia que, segundo Zahy, dispensa legendas. “É uma experiência sensorial”, adianta, sobre a montagem dirigida por Denise Stutz e Duda Rios. “Será como passar por um ritual. Quem for assistir não vai sair como entrou.”