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O mar do Leme, no Rio, é pano de fundo para a entrevista com a atriz Isabel Teixeira. É diante da imensidão azul, no apartamento onde moraram a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares e a escritora americana Elizabeth Bishop, na década de 1960, que Isabel reside durante suas longas e produtivas temporadas cariocas. A paulistana raiz, de 50 anos e olhos profundos, engrenou um romance correspondido com a TV depois de estourar em todo o Brasil, em 2022, na pele da emblemática personagem Maria Bruaca, no remake da novela “Pantanal”. Agora, encarna a vilã Helena em “Elas por elas” com o mesmo afinco e se prepara para apresentar, em abril, o primeiro livro da editora Fora de Esquadro, criada por ela. A publicação, chamada “Avelã”, foi feita inteiramente à mão pela atriz, que tem formação em encadernação e redige os textos em máquina de escrever. “Foi a última palavra escrita pela minha mãe, em seu diário”, justifica ela, filha da atriz Alexandra Corrêa (1949-2006) com o compositor Renato Teixeira. Em 2024, outros projetos a movem: voz de Annie Ernaux no Brasil, lançará outros audiolivros da escritora francesa pela editora Supersônica e protagonizará um filme inspirado no romance “O peso do pássaro morto”, da paulista Aline Bei, com direção de Susanna Lira.

A atriz Isabel Teixeira usa roupas de Guto Carvalhoneto — Foto: Jorge Bispo
A atriz Isabel Teixeira usa roupas de Guto Carvalhoneto — Foto: Jorge Bispo

Isabel preserva o tempo da mesma maneira que cultiva técnicas analógicas. “Posso gravar a entrevista? No futuro, pretendo compilá-las em um livro e deixá-las para os meus filhos”, indaga a mãe de Diego, de 20 anos, e Flora, de 13. O desejo faz todo o sentido. Ela devolve cada pergunta com um mergulho intenso e faz do bate-papo um verdadeiro exercício de autoconhecimento. Na entrevista, realizada em dois encontros — presencial, com duração de duas horas, e por meio de chamada de vídeo, por uma hora e meia —, a atriz e escritora fala sobre assuntos diversos: o reconhecimento popular na maturidade, a força da palavra na sua trajetória, drogas, aborto, passagem do tempo, vida e morte, amor, separação e solitude. A seguir, os melhores trechos.

Você já era uma atriz premiada no teatro, mas a Maria Bruaca trouxe o reconhecimento do grande público. O que essa personagem simbolizou na sua carreira?

Tantas coisas boas. Sempre fui noveleira, amo o Tony Ramos desde “Pai herói”. Para mim, ele personifica o ator que se comunica com muita gente. Voltei ao Brasil em 2019, depois de uma longa temporada de teatro na Europa. Acredito muito no quarto primordial dos meus 16 anos, que me faz sentir viva. Todo mundo tem o quarto primordial, mas gosto de manifestar, tenho a coisa da ação, que vai mudando. A Maria Bruaca, uma mulher fortíssima, me deu a chance de realizar o que estava pedindo, estabelecer uma comunicação direta com o grande público. A casa cheia, nesse caso, não era cem lugares, e, sim, 70 milhões de pessoas. Recebi incontáveis mensagens de mulheres falando que transformei a vida delas. Mas não fui eu, elas que se viram numa personagem de ficção. Por isso, quanto mais porosa eu for, mais ligada ao meu coração, melhor. Quero fazer novela até morrer.

A atriz Isabel Teixeira — Foto: Jorge Bispo
A atriz Isabel Teixeira — Foto: Jorge Bispo

A Maria Bruaca abordou a questão da autoestima. Já sofreu desconforto com a autoimagem?

Sou uma adolescente dos anos 1990, com muitos traumas. Havia um padrão (de beleza) naquela época, mas nunca me preocupei com isso, apesar de sentir um certo incômodo. Como não me submetia, era a “louca”. Agora já rolou um encaixe. Hoje, não me sinto mais desencaixada como aos 20 e aos 30 anos, quando virei mãe.

Você declarou em uma entrevista ter feito dois abortos ainda muito jovem. É a favor da legalização?

Eu sou a favor do livre arbítrio, da responsabilidade sobre si próprio. Acredito que a educação sexual deste país deva ser estabelecida sem tabu. Precisamos falar sobre esse assunto. O livro “O acontecimento” (sobre uma estudante de 23 anos que engravida do namorado e faz um aborto clandestino, quando a prática era ainda proibida na França), de Annie Ernaux, deveria ser lido na escola, no Fundamental II. Esta discussão retrocedeu por causa de crenças. Respeito todas, mas o limite acaba quando começa o do outro.

A atriz Isabel Teixeira — Foto: Jorge Bispo
A atriz Isabel Teixeira — Foto: Jorge Bispo

Sua mãe foi hippie. Como era a abordagem sobre drogas na sua casa?

Minha mãe era uma atriz da década de 1970. A casa estava sempre aberta, tinha festa, alegria e maconha, mas, claro, eu não sabia. Quando sentia um cheiro estranho e descia, lá pelos meus 12 anos, o assunto da conversa mudava imediatamente (risos). Minha relação com drogas foi tranquila. Na juventude, experimentei maconha, tomei ácido uma vez e bebida, que também é droga. Mas sempre tive medo de não voltar. As drogas, principalmente a maconha, não somaram, me tiravam o raciocínio. Quando fumava, viajava, mas não conseguia me manifestar. Depois, não me lembrava de nada. Tentei escrever ébria, mas também não consegui. Minha mãe costumava falar que eu era igual o Obelix, ao nascer caí numa tina de poção mágica (risos).

O seu primeiro livro, “Avelã”, é sobre a ausência da sua mãe, com quem você conviveu intensamente. Como é a relação com seus filhos?

Educo sempre errando (risos) e tenho um supercompanheiro nessa missão, o pai deles e meu ex-marido, o fotógrafo Roberto Setton. Cada um é um. Diego tem 20 anos e estuda Jornalismo nos Estados Unidos. É focado. Flora está com 13. Ela tem energia feminina, e a nossa convivência é muito parecida com a que tive com a minha mãe. Há uma ancestralidade nessa energia que estou amando compartilhar. Flora está no mundo do celular, da dispersão, da questão de gênero. Comecei a ler autoras feministas da Califórnia que acreditam estarmos vivendo uma transmutação. No futuro, a questão de gênero tende a não existir. Sabe aquela coisa de reunir a família para “sair do armário”? Não vai mais acontecer. Enquanto isso, temos que dar nome para o racismo, para o machismo... Precisamos primeiro entender para depois dissolver. Mas nossa contribuição é agora, acredito muito em “fazer o dia”.

Como lida com a passagem do tempo?

A idade também não será mais uma questão. Meu corpo está mudando, sempre esteve. Descobri, em 2020, por meio do mapeamento genético, ter uma síndrome chamada Li-Fraumeni (causada pela alteração no gene TP53, que predispõe o desenvolvimento de vários tipos de câncer). Minha mãe também tinha, ela morreu aos 56 anos, vítima de mais de um câncer, e foi tudo muito rápido. Por causa dessa síndrome, fiz a retirada das mamas. Minha vida mudou muito e para melhor. Em um primeiro momento, quando recebi a notícia, tive um tremendo choque. Senti medo. Porém, depois fiquei forte. Parei de fumar e de beber. Passei a correr diariamente por uma hora e a cuidar ainda mais da minha alimentação. Meus exames também estão sempre em dia, faço ressonância do corpo inteiro e do crânio. Então, quando você me pergunta sobre envelhecer, digo: vou entrar na menopausa com noção de vida e de morte. Minha vontade é continuar aqui, com peito, sem peito, com ou sem silicone, mas com alegria. Esse se tornou o meu modus operandi.

Depois do Roberto, você foi casada durante oito anos com o artista visual Paulo Camacho, de quem se separou há um ano. Como foi esse rompimento?

A separação é um processo. Fiquei 20 anos vivendo essas relações e considero bonito o lance do casamento, mas está muito legal voltar à minha solidão dos 17 anos. Existem muitas viradas no casamento. Do contrário, ele morre. Quando a atitude da separação é, finalmente, tomada, a tristeza vem. Estamos em uma sociedade em que a tristeza é abafada, mas ela é pedal de transformação. A separação para mim é um luto, um aprender a morrer. Dessa última vez eu falei: “Meu Deus, vou viver isso de novo?”. Mas passei com coragem. É aquela frase da Rita (Wainer, artista), minha prima: “Caí num buraco e voltei gigante”.

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