Mesmo nos roteiros mais robustos do carnaval de rua, é bem provável que não haja qualquer menção às areias cariocas, onde os banhos de mar a fantasia foram tradição até a década de 1970. Mas, numa festa que jamais deixou de olhar para a História, nunca é tarde para reativar um costume. Neste domingo, o Glorioso Mergulho a Fantasia pede passagem para resgatar a experiência na Prainha da Glória, aquela que virou um dos pontos mais disputados deste verão.
O idealizador do evento é o ator Alex Teixeira, que começou a escarafunchar, durante um projeto de pesquisa, a história de praias que sumiram do mapa da cidade pelas transformações urbanas ou se tornaram inviáveis pela poluição. “Antigamente, as pessoas podiam vir de trem até o Centro para se banhar em áreas que não existem mais”, lamenta. “Ou seja, isso também tem a ver com o processo de gentrificação.”
Nesse mergulho, ele descobriu como os banhos de mar a fantasia eram muito populares nas praias de Ramos, Ilha do Governador, Paquetá, Copacabana e Russel (que ficava na Glória). Tais festejos, acrescenta o pesquisador Tiago Ribeiro, que estudou o carnaval de rua em seu doutorado em Artes na Uerj, surgiram na década de 1920 e chegaram a fazer parte da agenda oficial nos anos 1930. “As pessoas faziam fantasias de papel crepom que, em contato com a água, se desfaziam. A brincadeira era essa”, conta.
O costume, afirma Alex Teixeira, foi ofuscado pela ditadura militar e pelas transformações urbanas até sumir do mapa momesco. E a retomada deste domingo exalta o passado sem abrir mão das demandas do presente. A história do papel crepom, por exemplo, é para ficar só na memória, assim como o uso de plástico. “Lançamos cartilhas de cuidados nas redes sociais e pedimos às pessoas que deem preferência à purpurina biodegradável. Também faremos um mutirão de limpeza na areia”, comenta.
A festa começa com um cortejo, que sai dos jardins do MAM às 14h. Ao chegar à praia, rola um concurso de fantasia e, claro, o banho de mar.