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Camilla Damião tinha 17 anos quando leu, pela primeira vez, um livro da artista visual e escritora portuguesa Grada Kilomba. Daquele dia em diante, ela diz , tudo mudou em sua vida. “Foi o meu despertar para as questões de raça e classe”, recorda-se. Isso explica o êxtase da estudante de dança da UFMG, hoje com 28 anos, após a performance “O barco”, de Grada, apresentada em três sessões lotadas no Inhotim, museu a céu aberto em Brumadinho, há duas semanas.

Foi a primeira vez que o trabalho, já exibido no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, e no pátio da Somerset House, em Londres, aportou no Brasil. Uma travessia cheia de simbologias. Afinal, a obra consiste em 134 blocos de madeira queimada dispostos num espaço de 32 metros, em formato que alude à arquitetura do fundo das embarcações que levaram, pelo oceano, milhões de corpos africanos escravizados. O território brasileiro, como se sabe, foi o que mais recebeu essa população.

Camilla durante a apresentação em Inhotim — Foto: Divulgação/Ícaro Moreno
Camilla durante a apresentação em Inhotim — Foto: Divulgação/Ícaro Moreno

Para os atos performáticos, Grada trouxe consigo um grupo de dançarinos, cantores e músicos baseados em Lisboa que se apresentam em meio à estrutura. Como a bailarina que compunha o grupo não pode vir, ela decidiu buscar uma integrante brasileira. Aí Camilla entra na história. “Um amigo me indicou e pediram que eu enviasse vídeos meus”, narra a jovem. “Fui chamada para um encontro com Grada e, quando cheguei, achei que várias pessoas seriam testadas. Mas ela já havia me escolhido.”

A artista portuguesa conta ter feito uma longa pesquisa até chegar à componente mineira que, segundo ela, corporiza exatamente a personagem original da coreografia. “A escolhi em função de seus movimentos e pelo fato de ser de Minas Gerais”, diz, indicando que a integração de Camilla ao grupo foi imediata em apenas uma semana de ensaios. “É um trabalho muito intenso e íntimo (de preparação). E ela teve uma presença construída no coletivo também.”

Criada em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, Camilla ainda traz no currículo trabalhos como atriz em filmes como “Marte um”, um dos maiores sucessos recentes do cinema nacional. Para a performance, ela diz ter juntado a dança e a interpretação, ainda que não tenha recebido nenhum direcionamento de Grada sobre quem era exatamente sua personagem. As expressões mostradas em cena, portanto, partem de um sentimento genuíno. “Olho para a barca e projeto uma história ancestral. Vejo corpos e pessoas que sofreram e ainda sofrem”, descreve. “Estou sempre olhando para trás, para o meu passado, compreendendo o meu presente e tentando fazer isso mudar o meu futuro.”

*O repórter viajou a convite do Inhotim

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