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Por — Rio de Janeiro

Após três meses de conversas por vídeo, dois aviões, um ônibus, uma noite não dormida e um total de oito horas de viagem, o sentimento que prevalecia à porta do abrigo, numa cidadezinha no interior do Brasil, era ansiedade. “Eu me tremia dos pés à cabeça”, relembra a youtuber Gabi de Pretas, sobre o dia em que conheceu seus filhos. Ao entrar por aquela porta e ser recebida aos gritos de “mamãe”, trocou todo o cansaço pelo sonhado abraço, o colo que ela, Clara Lua, de 6 anos, e Mário, de 11, buscavam. Com a pequena em um braço e o menino enroscado em torno da barriga, iniciava ali uma nova vida. “Sinto que realmente dei à luz quando os conheci. Fiquei muito feliz, mas também bateu um medo, insegurança se eu daria conta”, revela.

Este 12 de maio é seu terceiro Dia das Mães. Aos 32 anos, Gabriela Oliveira se considera realizada na maternidade solo. “Foi uma escolha minha”, conta ela, que é solteira. “Tenho vontade de ter um relacionamento sério, sim, mas a criação deles sempre será uma responsabilidade minha. Se eu queria tanto ser mãe, por que não adotar? Meus filhos são o projeto da minha vida e não tem nada mais importante do que eles”, comenta. A influenciadora, umas das principais referências em beleza preta no Brasil, virou mãe aos olhos dos 660 mil inscritos no seu canal “DePretas”, no YouTube, e dos ouvintes do podcast “Afetos”.

Durante o processo, quando concordou integrar um grupo de busca ativa, que possibilita o intermédio entre famílias e crianças cujas características costumam dificultar a adoção, como a idade acima dos 7 anos e doenças crônicas, deparou-se com um vídeo de apresentação do menino e da menina — irmãos biológicos — e sentiu o coração transbordar. “Soube ali que eram eles, na hora disse para uma amiga: ‘Acho que achei meus filhos’”, relembra. O tal vídeo, postado em suas redes sociais, mudou a vida dos três e foi o pontapé para que Gabi recalculasse o que havia planejado em relação à adoção. “Meu filho tem deficiência intelectual, e no meu cadastro original não havia essa especificação. Aceitei a condição, mas entendo que teria sido difícil se não fosse minha situação financeira, que me permite buscar suporte adequado, e minha família, que me apoiou muito”.

Mário, Gabi Oliveira e Clara Lua — Foto: Catarina Ribeiro
Mário, Gabi Oliveira e Clara Lua — Foto: Catarina Ribeiro

A apresentadora Giovanna Ewbank conta que conheceu Gabi quando adotou a filha Títi, antes mesmo de Clara Lua e Mário chegarem à vida da blogueira: “Eu consumia tudo que ela fazia, porque me impactava como ela falava de beleza, pretitude e autoestima”, diz. “Cada maternidade é única e individual. Compartilhar a experiência dela é essencial para que outras mães se enxerguem, se identifiquem, mas sem criar uma idealização”, completa a apresentadora.

Realista, Gabi revela que não planeja ter mais filhos. Favorável à legalização do aborto, explica que ser mãe a colocou numa posição contrária à maternidade compulsória. “Se já é difícil para quem quer, imagina para quem não quer”, pondera. “É incrível acompanhar o desenvolvimento das crianças, vê-las crescendo. Mas não sou dessas mães que pede: ‘Tempo, passa devagar’, sou do tipo que suplica: ‘Tempo, passa no seu tempo’”.

Filha única de Elza Oliveira, 63 anos, e de Edson Oliveira, 67, Gabi, gosta de dizer que veio de uma família de mulheres “tentantes”: “Minhas principais referências sempre tentaram de tudo por uma vida melhor: minha avó materna saiu da roça, em Santa Maria Madalena, interior do Rio, e minha mãe foi doméstica dos 13 aos 18, trabalhando de manhã e fazendo curso técnico à noite”, conta ela, a primeira da família a se formar na faculdade.

Clara Lua, Gabi Oliveira, Elza Oliveira e Mário — Foto: Catarina Ribeiro
Clara Lua, Gabi Oliveira, Elza Oliveira e Mário — Foto: Catarina Ribeiro

Nascida e criada em Niterói, Gabi começou a carreira na internet em 2015, com produção de conteúdos voltados aos cuidados com o cabelo crespo, abordando as problemáticas do racismo. “Meu foco sempre foi naturalizar a existência de uma mulher preta jovem”, conta ela, que nessa época cursava Relações Públicas na Uerj. “Conheci grupos de transição capilar e percebi que os cabelos eram apenas o ponto de partida da discussão. Éramos mulheres começando entender por que nos fizeram nos odiar tanto e por tanto tempo”, explica Gabi.

A decisão de criar um canal no YouTube surgiu com o questionamento de certas atitudes naturalizadas dentro de casa. “Mesmo todos os meus parentes sendo pretos, reproduziam racismo: me lembro de comemorarem se alguém nascia com traços mais ‘finos’. Sentia que era injusto ter, sozinha, acesso ao que aprendia na faculdade e queria traduzir meu conhecimento para que minha mãe e tia entendessem. Então, decidi comprar uma câmera e botar a cara na internet”.

Nove anos depois, Gabi é referência de autoestima para mulheres negras. Fundadora da marca de make e cosméticos Negra Rosa, Rosângela Silva ressalta que o “DePretas” foi um dos pioneiros em publicar tutoriais e fazer resenha de produtos: “Há dez anos, era raro alguém fazer conteúdo para cabelo crespo, pele escura, abordando a estética sob um olhar político”, conta Rosângela. De lá para cá, o conteúdo mudou. Saem de cena as dicas de beleza e entram publis para empresas de cartão de crédito, colchões e até pneus. Tudo intercalado com detalhes da vida da youtuber com as crianças. “Gabi traz a vida como ela é, com acertos, erros, sem romantização, nem carga de dor”, completa a empresária.

Gabi tenta encontrar equilíbrio entre o que deve ser compartilhado e o que deve ser preservado para proteger sua saúde mental. “Dividi o processo de adoção respeitando os limites”, explica, revelando, ainda, que o pré-requisito para que seus filhos trabalhem em publicidades seja o cachê de cada um, depositado numa conta-poupança, cujo acesso terão quando completarem 18 anos.

Já alguns episódios de racismo, só após um período de amadurecimento da questão: “Prefiro planejar bem como usar minha influência, visando soluções concretas e com potencial de educar, não só num lugar de entristecimento”. Uma das premissas de seu conteúdo é gerar a identificação por meio do afeto. Assim, Gabi destaca que faz questão de compartilhar suas vitórias pessoais, para mostrar às seguidoras que elas também podem realizar seus sonhos. “Quero trazer representação, porque por muito tempo a gente só esteve inserido nas histórias com um recorte que podava nossa existência ao lugar de subserviência. Busco que meu público entenda que nossa voz tem força no mundo. Questionam quando uma mulher preta emite opiniões, de uma forma que não questionam outras pessoas”, afirma.

A atriz Taís Araujo admira a leveza com que Gabi lida com as questões mais complexas: “Aprendo muito com ela. Gabi traz sua subjetividade com carinho. O racismo nos tira a humanidade e ela faz questão de nos trazer isso de volta em tudo que faz”.

No ano passado, uma das situações que Gabi escolheu dividir com os seguidores foi o processo de troca de escola da filha, devido a uma situação de violência. Certo dia, uma mãe do colégio a avisou que sua filha havia presenciado a professora “colocar Clara Lua de castigo, de frente para a parede”. Gabi, então, perguntou à filha o que havia acontecido e ouviu a chocante resposta de que a professora sempre a machucava. “Ao invés de me chamarem lá, abordaram o ocorrido diretamente com as crianças, colocando minha filha como mentirosa”, relembra. “Foi aterrorizante buscá-la na escola e vê-la cair no choro. O pior é que nada foi feito, esperei por três semanas e não tive uma posição, então a tirei de lá, mesmo antes do fim do ano letivo.”

O relato virou notícia, assim como o caso de racismo contra filha da atriz Samara Felippo, em São Paulo, mês passado. A recorrência desses eventos com crianças negras em escolas de classe média e a ausência de mudança por parte da direção das instituições demonstram, para a influenciadora, que as escolas estão mais preocupadas em se defender do que em agir. “Não existe comprometimento com a educação antirracista. Não é só vender que é uma escola progressista, é preciso de posicionamento real”.

Gabi considera essencial existirem cada vez mais aliados brancos, mas entende que ainda há um trabalho de conscientização muito grande a ser feito entre as pessoas negras. Para ela, a educação dos filhos é prioridade: “Com eles, tenho a oportunidade de romper ciclos de violência como o da não representação. Me esforço para que não sejam os únicos nos espaços que frequentam por serem de classe média e busco fazer com que se sintam pertencentes”, pondera. “Quero que se tornem conscientes, tenham empatia e consigam se relacionar com os outros além das telas”, emenda a comunicadora. Como canta Nina Simone, “que sejam “jovens, talentosos e pretos”.

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