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Por — Rio de Janeiro

Faz pouco mais de uma década que Daniel Gonçalves, de 40 anos, consegue se enxergar como um homem desejável quando encara o espelho. Foi essa convicção que embalou o cineasta carioca, nascido com uma deficiência de origem desconhecida que afeta sua coordenação motora, a se expor à nudez em um ensaio fotográfico em seu novo documentário, “Assexybilidade”, com previsão para estrear nos cinemas em 19 de setembro. “As pessoas acham que nós não transamos e não temos libido”, comenta o diretor de cinema, casado há 8 anos. “Passei a maior parte da minha vida achando que as meninas não ficavam comigo por ser como sou. Na verdade, isso até acontece. Mas se minha deficiência fosse algum impeditivo, sequer iriam me encontrar.”

Daniel estendeu o projeto em uma exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Centro do Rio, em cartaz até o próximo dia 8 de junho. A ideia é desmistificar a sexualidade de pessoas com deficiência e derrubar percepções de cunho capacitista sobre o assunto. Entre os participantes, Eduardo Oliveira, professor da escola de dança na Universidade Federal da Bahia, afirma que sua cadeira de rodas nunca foi sinônimo de frigidez. “Sempre me entendi como uma pessoa ativa no desejo, mas comecei a explorar mais a partir dos 20 anos, quando me descobri homossexual e fiquei mais desenvolto”, conta o baiano, de 48 anos. “Sou casado há quase duas décadas e somos felizes na cama. Sem afetividade, não há reciprocidade no prazer, e conseguimos satisfazer um ao outro.”

Afeto e pena, há que se dizer, são coisas distintas. E a influenciadora Jessica Paula, de 32 anos, num relacionamento há 8, sabe bem disso. “Odeio quando parabenizam minha namorada, dizendo que ela viu meu interior e não o físico. Isso não é elogio que se faça”, adverte. A chave virou para a goiana em 2021, quando uma amiga a convidou para fazer um ensaio fotográfico na praia. “O charme das imagens era justamente as curvas que meu corpo faz, por conta da minha escoliose acentuada. Nas fotos, vi a grande gostosa que eu sempre quis ser, não o exemplo de superação”, comenta ela, que se tornou a primeira mulher paraplégica a escalar o Pão de Açúcar.

A psicóloga Glady Maria, que também é autora do livro “Corações de vidro” — uma autobiografia sobre suas vivências como uma pessoa na condição de cadeirante — elenca o caráter “rotulante e estigmatizante” da sociedade como a principal dificuldade de alguém com deficiência em se sentir satisfeito com própria imagem. Algo, segundo ela, que está diretamente ligado à sexualidade. “Vivemos num mundo onde o belo prevalece, em que para um indivíduo ser inserido, ele precisa seguir padrões normativos. Não é fácil o processo de autoaceitação, mas uma vez trabalhado, conseguimos vivenciar o desejo sem amarras”, explica a profissional.

Barbara Ahlert, sexóloga, também encara a sexualidade de pessoas com deficiência como um tema rodeado de mitos e preconceitos, e afirma que a abordagem é sempre reducionista. “Falamos de algo que ultrapassa o ato sexual, que não envolve só o genital. Sexualidade é, de maneira geral, troca de experiências, é como a pessoa se sente afetada pelo outro e por si mesmo”, argumenta. A especialista ainda pontua que a percepção dos sentidos é sempre a maior aliada em momentos de intimidade. “O corpo é todo erógeno, possui partes que, ao depender da forma como são tocadas, geram muito prazer.”

A mineira Camila Alves, de 34 anos, conta que, por ser uma pessoa cega, sente que há um fetiche sobre seus envolvimentos sexuais, com o argumento de que, como não possui a visão, seus outros sentidos sejam mais aflorados. “Vejo que é uma questão de treino, porque precisei desenvolver minha audição, meu olfato, tato e paladar para me orientar e viver normalmente”, diz a psicóloga, que adquiriu a condição visual aos 15 anos. “O desafio foi viver numa sociedade que produz desejo só por um tipo de corpo e desumaniza pessoas com deficiência.”

Consultora na área de diversidade e inclusão para empresas, Ciça Cordeiro, de 51 anos, adquiriu uma deficiência motora em 2011 e garante que nunca foi tão feliz na cama como é agora com o namorado, uma pessoa em cadeira de rodas. Os dois estão juntos há pouco mais de dois anos, e a paulistana define o encontro como “amor à primeira vista”. “Não é só uma uma questão de confiança, é muito mais que isso. Temos abertura para conversamos sobre qualquer questão, sinto que ele me completa”, declara ela.

Um viva ao amor.

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