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Por — Rio de Janeiro

As histórias se entrelaçam em um encontro na sede da Black Sisters In Law, escritório de advocacia com ares de casa, na Vila da Penha, Zona Norte do Rio. Sentada em uma das cadeiras dispostas em roda, Daniela Duarte, advogada criminalista de 42 anos, começa a compartilhar sua trajetória. “Quantas vezes cheguei ao balcão da delegacia e me perguntaram se eu era a vítima, quem era meu advogado, e eu precisava responder: sou eu mesma”. Maria Ferreira, também criminalista, de 44, lembra de situação semelhante, quando um cliente perguntou para ela onde estava a advogada. “Só tinha eu e ele na sala, ainda assim ele pensou que poderia ser outra pessoa”, conta.

Situações como essas motivaram a advogada empresarial Dione Assis, de 39 anos, a criar a Black Sisters In Law (BSL), rede global de advocacia preta que hoje possui mais de três mil participantes, além de parceria com diversas empresas nacionais e multinacionais. Mais do que uma instituição de networking, a iniciativa apoia as “sisters” do Direito, desde as que estão em início de carreira até as mais experientes.

O movimento, que completou dois anos em maio, surgiu quase espontaneamente quando Dione resolveu criar um grupo no WhatsApp para trocar experiências com uma colega que participaria, com ela, de uma palestra. Ambas foram acrescentando outras advogadas e, quando perceberam, mulheres de todo o país já faziam parte. “Com o crescimento do grupo, percebi que muitas das profissionais ali não conseguiam viver da profissão, precisavam se desdobrar em outras atividades, cobravam preços irrisórios por seus serviços. Quis mudar isso”, explica Dione.

Segundo levantamento realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 2023, apenas 6,02% das advogadas do país são negras. “Somos uma solução para o mercado. Existe desigualdade, mas não faltam profissionais negras competentes, elas só precisam de oportunidade. Eu vou até as empresas e pergunto ‘vocês querem mudar esse cenário? Contratem essas mulheres’”, pondera Dione, que também é sócia de um escritório de advocacia e atua na área de reestruturação e recuperação de crédito de empresas.

Dione tinha 13 anos quando questionou a Justiça pela primeira vez. À época, seu padrasto era funcionário de um tribunal em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e decidiu que a levaria para assistir a um julgamento, no qual o réu, acusado de homicídio, acabou sendo absolvido pela tese da legítima defesa da honra, firmada inconstitucional em 2021. “Era o caso de um homem que matou o amante de sua esposa. ‘Como assim houve um assassinato e mesmo assim o cara foi inocentado?’, pensei. A partir dali, decidi que faria Direito”, lembra. Hoje, aos 39, é respeitada, não só pela avaliação dos clientes, mas por trabalhar em prol de outras mulheres negras que, assim como ela, lutam por um cenário profissional com mais equidade.

Advogado e professor de Direito da PUC-Rio, Ricardo Brajterman avalia a iniciativa como revolucionária para o setor. “A advocacia é uma área em constante atualização, mas ainda temos muito que avançar em igualdade racial. Vejo, por exemplo, que as empresas contratam muitos estagiários negros, mas a taxa de efetivação é baixa. Ou seja, o racismo se manifesta de forma velada, debaixo dos panos. Um grupo como este é essencial”, afirma o professor.

Dione Assis e as sisters Kamille Couto, 29 anos; Danielle Duarte, 43 anos; Letícia Delmindo, 39 anos; Anelise Assumpção, 35 anos; Luana Zeferino, 40 anos; Maria Elizabeth Nunes, 65 anos; Maria Aparecida Ferreira, 45 anos; Emily Silva, 31 anos; Fernanda Santos, 38 anos; Vanessa Lopes, 43 anos; Rafaelle Souza, 32 anos; Rosângela da Silva, 50 anos — Foto: Fábio Rossi
Dione Assis e as sisters Kamille Couto, 29 anos; Danielle Duarte, 43 anos; Letícia Delmindo, 39 anos; Anelise Assumpção, 35 anos; Luana Zeferino, 40 anos; Maria Elizabeth Nunes, 65 anos; Maria Aparecida Ferreira, 45 anos; Emily Silva, 31 anos; Fernanda Santos, 38 anos; Vanessa Lopes, 43 anos; Rafaelle Souza, 32 anos; Rosângela da Silva, 50 anos — Foto: Fábio Rossi

Hoje, além de capacitações, a Black Sisters In Law faz o intermédio do contato entre clientes dos mais diversos segmentos com as afiliadas, além de promover encontros e consultorias para as profissionais. Mas não só. É uma grande rede de apoio e acolhimento entre mulheres que sentem na pele os atravessamentos do machismo e do racismo nos ambientes de trabalho. A desembargadora Suimei Cavalieri, ao longo de 34 anos de carreira, considera nítido o aumento de mulheres no Jurídico e comemora a existência do grupo. “Nos traz esperança, é maravilhoso tantas pessoas competentes e inteligentes lutando, juntas, por um futuro melhor”, afirma.

Em busca de melhores oportunidades, o grupo surge como uma luz para as participantes de todo o Brasil e em países como a Angola, onde, em janeiro deste ano, foi realizado o I Encontro Internacional da organização. O motivo da escolha do lugar, Dione explica: “Queremos fundar embaixada lá para instituir intercâmbio prático entre profissionais dos dois países. A meta é internacionalizar a organização, que é única no mundo”.

A iniciativa ajudou a ampliar a perspectiva de carreira da advogada Vanessa Lopes, de 43 anos. Hoje diretora acadêmica da organização e responsável pelo curso preparatório para o exame da OAB promovido pela Black Sisters, a carioca vê no coletivo a esperança de um futuro mais igualitário. “É gratificante ajudar outras mulheres negras a superar o complexo período de exames, porque eu mesma passei pela prova cinco vezes, ainda bem que não desisti. A gente sabe que o peso que nos depositam por sermos negras é maior”, afirma Vanessa.

Após anos atuando no mercado financeiro, Rafaelle Ferreira, de 32 anos, se sentia insegura para voltar à sua profissão de formação, mas as Black Sisters surgiram trazendo o gás que ela precisava: “Ser mãe no mercado é difícil, mas quando conheci outras advogadas que também vivem isso, entendi que não estava sozinha. Se elas conseguem, eu também conseguiria”, afirma a profissional, que atualmente é diretora de operações no grupo.

É Rafaella a responsável por intermediar o serviço das advogadas com clientes como Thiago Cabral, 31 anos. “O que influenciou na minha decisão foi o comprometimento, a dedicação e o bom serviço prestado por todas da organização. É um cuidado com cliente muito difícil de encontrar”, destaca o analista de sistemas, que precisou do serviço após problemas com um banco.

Luana Zeferino, de 40 anos, mais uma advogada do coletivo, considera que “pertencimento” é a palavra que vem à mente quando se fala em Black Sisters In Law. “Já convivi em ambientes extremamente machistas e racistas, a falta de identificação me fazia questionar minha jornada. Aqui, me vejo muito em cada uma, é poderoso e ancestral reunirmos mulheres negras desta forma”, afirma Luana, que atua no apoio jurídico do Ifood, um dos parceiros da BSL, fornecendo assistência gratuita para entregadores vítimas de violência e discriminação. Gerente de impacto e sustentabilidade do Ifood, Tatiane Alves, que lidera a ação, ressalta que “a profunda conexão com a pauta do combate à discriminação e violência muda o jogo em termos de compreensão, acolhimento e conexão”.

Justiça — e equidade — sejam feitas.

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