Conheça o carioca João Incerti, que colore vitrines de Paris com estampas tropicais

Hospedado em um apartamento alugado no bairro do Marais para a inauguração, João confessa que a ficha ainda não caiu. “Minha evolução está ligada à internet, acompanho o crescimento ali. É totalmente novo ter contato direto com o público e noção da quantidade de pessoas comprando e querendo autógrafo. Ainda mais em Paris”, diz, levemente incrédulo.

Foi, de fato, pelo perfil no Instagram (@o_incerti), com quase 200 mil seguidores, que Cécile Coquelet, da equipe criativa do Monoprix, o descobriu e correu para mostrar à chefe, a brasileira Lilian Rosas, diretora geral adjunta da rede há 15 anos. “Ficamos todos encantados aqui, um talento único que consegue traduzir a alegria. Em uma semana, vendemos 40% dos produtos, já com algumas peças esgotadas. Os campeões são roupas da moda masculina, almofadas, banquinho, regador e, olha, até barraca de praia”, conta Lilian.

Não é a primeira collab de Incerti. Por aqui, já assinou duas grandes coleções para a loja de departamento Riachuelo (em 2022 e no carnaval desse ano). Também em 2022, criou uma mais enxuta para a americana Anthropologie. Antes disso, a atriz-ícone-fashion Sarah Jessica Parker foi fotografada vestindo uma jaqueta com estampa de sua autoria, desenvolvida para a Farm — o que leva ao início da carreira do moço.

João cresceu em Teresópolis, voltou para o Rio aos 18 anos para estudar Design de Moda e, antes de se formar, foi contratado pela Farm. Após quase cinco anos na grife carioca, em 2020, durante a pandemia, rumou para a vida de artista independente. Confinado, passou a pintar telas que rapidamente atraíram interessados. Chegou a vender através de uma marchand, porém nunca recebeu o pagamento. “Não quis mais comercializar, mas não parei de pintar. Morava em um apartamento pequeno em Copacabana, 30 metros quadrados. Era tela para todos os lados. Fui ficando curioso com outros caminhos que começaram a se abrir e arrisquei não ter mais emprego fixo”, lembra.

Incerti criou uma loja on-line para vender prints, expôs em Miami (na feira Art Basel) e, em 2021, conheceu a cenógrafa e designer de interiores Gigi Barreto, que marca um ponto de guinada, ele frisa. Gigi chamou o artista para pintar o quarto de sua filha. “Estava com medo de não ficar na proporção certa. Passei cinco dias lá e fiquei meio em choque com o resultado. ‘Caramba, eu pintei isso?’”. Gigi lembra que foi amor à primeira estampa. “Assim que vi um desenho dele, fiquei louca”, conta: “Acabou que essa foto do meu apartamento é uma das mais ‘pinadas’ do mundo. Impactou a vida dele e ele merece. Sua arte vibra, é feliz! E está cada vez mais danado, mais refinado. Fora que é um menino do coração bom”.