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Por — Rio de Janeiro

A cena rodava debaixo de uma tempestade. Alice Carvalho, na pele de Joaninha, no remake de “Renascer”, corria por uma estrada pedregulhosa ao encontro de Tião Galinha, interpretado por Irandhir Santos. Resultado: “o pé chagado e o joelho, todo ralado”, relembra Walter Carvalho, que a dirige na novela das nove. A atuação visceral da atriz de 27 anos anda chamando a atenção de quem acompanha a trama, e que a faz ser aclamada pela crítica e por colegas de trabalho. “Ela não imita, vive. É uma pessoa talentosa, fora da curva”, elogia o diretor.

Reservada, a atriz mostra, em uma hora de entrevista por chamada de vídeo, que o maior desafio tem sido mesmo equilibrar a fama com o desejo de manter a privacidade. “Entendo que as pessoas se sintam curiosas, porque entro na casa delas todas as noites, mas acho importante estabelecer limites sobre o que mantenho reservado para mim, meus amigos e minha família”, argumenta Alice.

Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, a menina tomou gosto pela arte aos 9 anos, em função do diagnóstico de hiperatividade e déficit de atenção. O teatro na escola, segundo ela, era o lugar onde conseguia canalizar o foco e a energia. “Meu professor foi fundamental, ele entendeu e acolheu a criança falante, expressiva e performática que fui”, conta Alice. A partir de então, “só correria”. Formou-se em Artes Visuais pela UFRN, atuou, dirigiu e roteirizou projetos independentes, até conseguir seu primeiro grande papel em “Cangaço novo”, série do Prime Video lançada em 2023 e que roda a segunda temporada ainda neste ano. “Devo a esse trabalho todo o meu processo de ascensão de carreira, inclusive o fato de não viver apertada de grana. Estou longe de ser rica, mas já consigo ajudar minha família e amigos, e financiar algumas ideias.”

Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães
Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães

Em sua fala, Alice chama a atenção para a escassez de investimentos e incentivo a projetos autorais produzidos no Nordeste do país, pelo foco “estar no Sudeste”. Morando sozinha no Rio há um ano, afirma que foi bem recebida, mas já passou por “situações vexatórias e constrangedoras”, sem entrar em detalhes. Mais uma vez, usa força visceral para seguir em frente: “Como mulher potiguar, é comum que eu passe por situações em que sou subestimada e desrespeitada. A xenofobia e o racismo são manifestações de ignorância e ninguém está imune a enfrentá-las”.

O convite para fazer “Renascer” veio no ano passado, durante as gravações de “Guerreiros do Sol”, série do Globoplay cujo lançamento está marcado para 2025. A obra, que também terá o cangaço como pano de fundo, marcará mais uma dobradinha com Irandhir Santos. “Sou extremamente apaixonado por Alice. E essa paixão se mistura com uma grande admiração. Considero-me muito sortudo com essa união em cena. Ela me melhora e me ensina”, declara o ator. Gustavo Fernández, diretor artístico de “Renascer”, também elogia: “Foi uma escolha acertada. A personagem está crescendo muito em função do tom que ela está imprimindo”.

Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães
Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães

Talento também não falta à Alice na hora de responder às críticas que surgem nas redes sociais sobre sua aparência. Logo após a estreia de “Renascer”, haters chegaram a comentar que a atriz era “feia demais” para desempenhar o papel que em 1993 foi de Tereza Seiblitz. “Entendo que as comparações sejam naturais, pela personagem já ter sido interpretada por uma mulher belíssima. Mas não posso levar a sério, prezo pela minha saúde mental”, reflete. “Não me importo se vou aparecer feinha na TV, sou atriz. Em outras ocasiões, na minha vida pessoal ou festas, sou mais preocupada com a minha imagem.”

Teresa Seiblitz condena os comentários pejorativos recebidos por Alice. “Não tem como agradar a todo mundo, nem eu mesma agradei na época. Mas acho ela muito bonita, e ainda mostra jogo de cintura e percepção dessa nossa profissão”, afirma a atriz.

A relação com o espelho melhorou ao longo do tempo, conforme Alice foi perdendo “a vergonha” de se sentir uma mulher bonita e desejável. “Nunca me vi dessa forma. E estou num processo interessante de edificação da minha autoestima enquanto mulher negra. Uma beleza que me foi negada a vida inteira”, analisa.

Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães
Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães

Na novela, sua personagem joga luz sobre um tema urgente que transita pelo universo feminino: o assédio sexual. Para a construção do papel, Alice mergulhou em uma experiência traumática da infância. “Acredito que boa parte das mulheres no nosso país já passou por pelo menos uma situação de violência. Não quero me aprofundar no que aconteceu, foram muitos anos de terapia processando psiquicamente esse episódio, mas hoje consigo olhar para ele com muita honestidade”, diz.

Parte da história de Alice é também retrato da realidade de brasileiros que cresceram com pai ausente.“Minha mãe me teve com 16 anos, e só não enfrentou a maternidade sozinha porque teve suporte dos meus avós, que considero como meus pais de criação”, conta a atriz. “Meu avô era professor, minha avó, cabeleireira, e minha mãe sempre teve os ‘corres’ dela. Éramos uma família classe média baixa, com um entendimento sobre a importância da cultura e do estudo, porém, sem condições financeiras que me possibilitassem estudar fora, por exemplo. Mas nunca me faltou absolutamente nada. Tive o incentivo de todos para manter meu sonho vivo.”

Se a maternidade está entre eles, Alice deixa no ar que o futuro é incerto, mas que carrega um instinto maternal por ter dez irmãos mais novos, entre filhos da mãe e do pai. “Sou muito presente, dedicada, cuido e trabalho por todos eles”, diz. “Não sei, à essa altura da minha vida, se terei filhos ou não, se congelarei óvulos ou não. A maternidade é uma experiência muito humana, mas bancar isso... Só o tempo dirá.” A atriz também se posiciona a favor de pautas polêmicas que atravessam o tema, como a legalização do aborto. “Ele já é legalizado para as mais favorecidas. Basta dar um Google para ver o perfil de mulher mais afetado por procedimentos feitos em clínicas clandestinas”, argumenta, apontando para a prisão e a morte serem os destinos “mais previsíveis” para as mulheres pretas e pobres.

Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães
Alice Carvalho — Foto: Maria Júlia Guimarães

Conciliar ativismo, grande volume de trabalho e vida social, no entanto, está longe de ser tarefa fácil para Alice. Afeta seu psicológico e emocional. A atriz conta fazer o uso do óleo de canabidiol há quase três anos para aplacar crises de ansiedade frequentes. “Sou muito afetada quando me jogo na estrada para desenvolver projetos, fico pulando de um hotel para outro”, afirma. “Foi uma amiga, que é pós-doutora e que tocou uma pesquisa muito séria com Sidarta Ribeiro (neurocientista e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que me indicou os benefícios do produto. Tenho restrição com medicalização tradicional, como ansiolíticos, no meu corpo.”

Solteira desde o término do namoro com a diretora de arte Chica Caldas, que conheceu nos bastidores de “Cangaço novo”, Alice se define bissexual, e conta que a “saída do armário” se deu de forma natural, porém não incólume a crises internas e familiares. “Sinto que essa forma de existência estava dentro de mim desde a primeira infância. Sabia que gostava de meninas também. Por volta dos meus 14 ou 15 anos, na escola, lembro do misto de ansiedade e angústia quando via alguns amiguinhos e amiguinhas”, diz a atriz, que chegou a ter um “breve episódio de estranhamento” com sua avó quando revelou sua orientação sexual. “Não durou mais do que alguns meses, porque é uma pessoa muito compreensiva. Depois, houve um acolhimento profundo, bonito e sincero, esteve presente em várias relações amorosas que tive.”

Amor também é sinônimo de fé para Alice. Adepta do candomblé desde os 17 anos, a atriz possui três tatuagens, todas em homenagem a Orixás. Antes de conhecer a religião, frequentava a Igreja Católica. “Tinha amigos da escola em um grupo de jovens, e logo comecei a tocar na banda da igreja. Era acolhedor e me estimulava artisticamente, mas não tinha tanta identificação”, conta ela, que diz não ter sentido resistências externas sobre a conversão. “Racismo e intolerância religiosa devem ser sempre nomeados às claras e condenados com todas as letras. Sou uma filha orgulhosa do Babalorixá Adolfo de Ogum.”

Axé é o que não falta.

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