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Rafa Brites lança livro sobre 'síndrome da impostora': 'O reconhecimento me gerava mais cobrança'

Apresentadora conta que chegou a desistir de emprego por não se achar boa o suficiente
Rafa Brites Foto: Juliano Simões
Rafa Brites Foto: Juliano Simões

A apresentadora Rafa Brites, mesmo dona de uma carreira de sucesso,  nunca se achou merecedora do que conquistou e sempre se perguntou em que momento as pessoas iam perceber que, no fundo, ela uma fraude. Mas, um dia, conseguiu identificar que esse sentimento não era um sofrimento só seu: tem nome e sobrenome na psicologia,a chamada "síndrome do impostor". Diante disso, começou a entender seus gatilhos, estudar mais sobre o tema e conseguiu escrever um livro sobre o assunto, como intuito de ajudar outras mulheres a administrarem a sensação, que chegou, inclusive, a fazê-la desistir de um ótimo emprego.

"Síndrome de impostora" (Ed. Planeta) chega às livrarias físicas e virtuais nesta semana e, em 10 de novembro, a apresentadora fará uma live de lançamento com um convidado surpresa em seu canal no YouTube. Enquanto esse dia não chega, conversamos com Rafa sobre o tema de sua nova empreitada.

REVISTA ELA: Qual a sua primeira lembrança como "impostora"?

Rafa Brites: Logo quando estava saindo da faculdade de Administração, fiz um concurso para trainne de uma empresa multinacional. Foram vários estágios do processo, tiveram provas de conhecimentos gerais, inglês, lógica, dinâmica de grupo... Era bem concorrido. Fui fazendo e acabei em primeiro lugar, seria trainee do CEO. Entrei em desespero, tendo certeza de que não tinha capacidade de ocupar aquela vaga. A qualquer momento, iam descobrir que tinha passado por sorte, que eu não era a melhor. Isso junto com os comentários machistas, de que eu tinha passado porque iria acompanhá-lo em viagens. Acabei desistindo da vaga. Parei de responder às mensagens do RH.

Como veio a ideia do livro?

Percebi que, ao longo da vida, sempre estava me fazendo as perguntas "o que estou fazendo aqui?", "será que sou boa o suficiente" e "vão descobrir que sou uma farsa"? Por mais eu que tenha uma família que me dê suporte, que tenha sido uma criança estimulada, pensei: "Se eu, com toda estrutura que recebi, passo por isso, imagina outras meninas?" Comecei a pesquisar e vi que quase todas as mulheres vivem a mesma coisa. Como aprendi a conviver com isso, a acolher esse sentimento, achei que pudesse escrever o livro, de uma maneira bem leve. Minha abordagem não é cientifica, é simples e carinhosa. Mostro que fui entendendo a origem dessa construção que a gente tem e trazendo informação para, quando sentirmos isso, termos ferramentas para não nos boicotarmos.

'Síndrome da impostora', livro de Rafa Brites Foto: Divulgação
'Síndrome da impostora', livro de Rafa Brites Foto: Divulgação

Quando você ouviu esse termo "síndrome do impostor" pela primeira vez e se identificou?

Estava na Califórnia, numa palestra. Fui pesquisar mais e me identifiquei totalmente. Era o que eu sentia. A palavra impostora é muito boa, é assim que a gente se sente mesmo, é como se a gente estivesse enganando.

Na TV, você também se sentia assim?

Muito, ainda mais pela ascensão rápida na emissora. No meu primeiro ano, eu já fui fazer "Superstar". O reconhecimento me gerava mais cobrança e insegurança.

O patriarcado e o machismo, como você ressalta no livro, fazem com que as mulheres se sintam muito mais "impostoras" que os homens. Mas, nas suas pesquisas, percebeu que isso os afeta também, mesmo em menor escala?

Sim, isso também atinge os homens, principalmente os negros, trans, com deficiência. Eles não sentem o merecimento de estar ali pela falta de representatividade. Se você pegar uma escala, o homem branco hétero cis é o que menos sente isso dentro da nossa estrutura, apesar de também existir quem se queixe. Conseguir falar sobre esse sentimento é muito importante. Essa estrutura patriarcal, que exalta a concorrência e a rivalidade, faz com que falemos pouco sobre isso.