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Thalita Rebouças fala sobre novos livros e filme, além da descoberta do amor e da menopausa, em plena pandemia: 'Nunca me senti tão gostosa'

A escritora e roteirista está com diversos projetos para o próximo ano: estão engatilhados um documentário sobre empatia e o lançamento das traduções da série confessionária
Perfil da escritora de livros infanto-juvenis Thalita Rebouças Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Perfil da escritora de livros infanto-juvenis Thalita Rebouças Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Uma brinquedoteca ocupa a estante no centro da sala do apartamento, com vista para o mar de São Conrado, da escritora e roteirista Thalita Rebouças, de 47 anos. Em miniatura, um circo, uma roda-gigante e uma máquina caça-níqueis decoram a primeira prateleira do móvel. Embaixo, estão a coleção de “ursinhos trogloditas” — como identifica uma série de bonecos comprados em viagens —, e um pote de bilhetes com a etiqueta “365 dias de amor”, que ganhou de uma fã. Nos andares seguintes, encontram-se os seus livros, centenas. “Tudo isso funciona ( refere-se ao circo e à roda-gigante ), mas como é 220 volts e as entradas não são compatíveis, nunca liguei”, apresenta Thalita.

Ao contrário dos objetos decorativos, Thalita é plugada na tomada. “Sou agitada, ansiosa e minha mente inquieta é reflexo disso”, admite. E haja bateria: a escritora carioca está escrevendo três livros. Um deles é o “Confissões de um garoto inteligente, purpurinado e (intimamente) discriminado”, que termina a série “Confissões”. “Depois de abordar autoconhecimento no primeiro, homofobia no segundo e transtornos alimentares no terceiro, falo de suicídio neste”, antecipa. Outro é um compilado de crônicas publicadas no Jornal Extra, ainda sem título. E o terceiro é “Falando sério sobre adolescência”, em parceria com o marido Renato Caminha, terapeuta de jovens.

Em 21 anos de farta carreira literária e, mais recente, cinematográfica e teatral, a autora-fenômeno do público infanto-juvenil vendeu 2,3 milhões de exemplares. Entre as publicações que mudaram sua vida, “Tudo por um popstar” repetiu o sucesso das livrarias no cinema e nos palcos; “Fala sério, mãe” a colocou no mapa e nas listas de mais vendidos; e “Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática” a provocou a se reinventar. A adaptação deste último para o streaming é a mais fresca estreia da Netflix, na qual dá uma canja integrando o elenco. “Gosto de me ver, acho que não faço feio, não”, brinca. Para o ano, estão engatilhados um documentário sobre empatia, também ao lado do companheiro, e o lançamento das traduções da série confessionária. França, Alemanha, Itália e Espanha estão na rota. “O sonho da minha vida é ser publicada em francês. Sempre me encantei com os franceses lendo em cafés, sacolejando no ônibus e no metrô. Sinto borboletas no estômago”, revela Thalita. O lançamento será dia 11 de janeiro na Embaixada do Brasil, em Paris. Um hábito que ganhou em viagens é o de espalhar livros em bancos de praças e restaurantes. “Acho que livro tem que circular. Quantas pessoas não leem por que não têm grana?”, provoca a escritora.

Perfil da escritora de livros infanto-juvenis Thalita Rebouças Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Perfil da escritora de livros infanto-juvenis Thalita Rebouças Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

No último mês, Thalita viajou de férias para Portugal, onde comemorou um ano do relacionamento com o psicólogo Renato Caminha. Eles planejam escrever a quatro mãos “Falando sério sobre adolescência”, um verbete, de A a Z, que definem como uma conversa entre arte e ciência. “Queremos ajudar os pais a passarem por esse momento delicado dos filhos, com os hormônios em ebulição. Então, vamos falar de bullying , depressão, suicídio, família tóxica, masturbação”, enumera. Thalita está fazendo uma pesquisa com adolescentes de 16 anos para o projeto. “Hoje me espanta que meninas desta idade falem menos sobre masturbação do que eu nos meus 16 anos. A gente defende tanto meu corpo, minhas regras, o feminismo bombando. Não esperava ouvir que elas não se tocam e não têm vontade”, observa. A escritora também prepara para o cinema uma adaptação do livro “Era uma vez a minha primeira vez”: “Vou colocar uma personagem masturbadorinha”.

Se por um lado a pandemia a deu de presente o amor da sua vida, aos 45 anos, por outro, a premiou com a menopausa. Ela coloca as mãos no rosto e faz uma conchinha em volta da boca para falar do tema. “Não precisa abaixar o tom de voz para falar disso. Quanto mais a gente falar, mais vamos nos libertar. Entrei na pandemia e parei de menstruar. Um monte de amigas estão na mesma”, diz Thalita, que está fazendo reposição hormonal. “Nunca me senti tão gostosa e feliz”. É ela própria quem emenda a conversa na decisão de não ser mãe, tomada aos 28. “Fazer filho é fácil e gostoso. Criar é super difícil. Muitas mulheres me perguntam se eu não tenho medo de me arrepender. Eu tenho vontade de fazer a mesma pergunta para quem teve”.

Profissionalmente, Thalita descreve que ficou “absolutamente estranha” no começo da pandemia. “Achei que fosse tirar de letra, pois a minha rotina de escritora é muito solitária. Trabalho em casa há 20 anos. Mas fiquei oca. Imagina as mil Thalitas que moram dentro da minha cabeça, todas cheias de tesão e criatividade, ficarem mortas?”, desabafa a autora que passou três meses sem ler, escrever e ver filmes. O que a salvou foi o roteiro de “Pai em dobro”, lançado em janeiro na Netflix. O longa é o primeiro projeto da sua carreira em que o audiovisual nasceu antes do livro. “Eu implicava com a ideia de tanta gente meter o bedelho no roteiro e hoje acho divertido trabalhar em equipe”, opina Thalita. O “gatilho” para colocar a trama no papel partiu da observação de um encontro com o amigo e ator Eduardo Moscovis, com as filhas mais velhas, de 22 e 21. Meses depois do episódio, fez o convite: “Você vai ser o pai do meu filme?”. “Me surpreendeu que foi tudo muito rápido, da ideia até ela escrever o roteiro. Ela achou graça na maneira como convivo com as meninas, e veio o insight de escrever a história de um homem que descobre ser pai de uma filha já adulta, de 18. A princípio ele não sabe lidar e depois acaba se apaixonando e se vendo carente dessa relação”, detalha Moscovis. “A Thalita é empreendedora, inquieta e produtiva. A forma como ela produz, se envolve e participa do filme como atriz é linda”.