Não faltaram ingredientes na temporada de alta-costura inverno 2024/2025, em Paris: especulação de quem ocuparia a cadeira de Virginie Viard na direção criativa da Chanel, aglomeração de celebridades nas primeiras filas (Anitta, Nicole Kidman, Katy Perry, só para citar alguns nomes), looks inacreditáveis (para o bem e para o mal) e muita beleza. A couture — ainda que apenas quatro mil pessoas no mundo a consumam — encontrou nas redes sociais um campo para amplificar sua voz. Quanto mais espetacular, melhor!
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Vestidos dramáticos, volumes impossíveis e trabalhos artesanais são celebrados por uma audiência que rejuvenesce o segmento, colocado em xeque desde que o fast fashion passou a editar a velocidade da indústria da moda.
Para a consultora de estilo Gloria Kalil, “a temporada é o Cirque du Soleil das passarelas”. “As coleções couture viraram grandes shows midiáticos em cenários espetaculares com figurinos incríveis e celebridades com milhões de seguidores em suas plateias”, diz. A jornalista Alexandra Farah credita ao Instagram e ao TikTok o movimento no setor. “Na década de 1990, chegaram a anunciar que essa arte acabaria. As redes deram um novo fôlego”, avalia. Na opinião dela, o “exotismo” dos looks é o responsável pelo alto compartilhamento da couture na internet.
“E as grifes estão apostando cada vez mais no fator ‘diferentão’. Embora a essência da alta-costura seja satisfazer o luxo, ela é um laboratório de ideias, que podem ou não ser massificadas. Muitas vezes, são nessas coleções que surgem uma nova matéria-prima, uma modelagem inédita, um jeito único de costurar”, conta.
Na passarela da Dior, Maria Grazia Chiuri olhou para a Grécia para construir vestidos de jérsei, tecido antes impensável na couture, em silhuetas ora clássicas, ora esportivas. Iris van Herpen elevou o status de sua apresentação ao trocar o tradicional desfile por uma exposição, em que modelos viraram obras de arte. Viktor & Rolf seguiram a linha do surrealismo, com roupas em formas geométricas. Enquanto isso, a Schiaparelli mirou a figura dos pássaros e a delicadeza pautou Giambattista Valli, que transformou sua coleção em um jardim repleto de vestidos esvoaçantes. O mestre Giorgio Armani, que completará 90 anos quinta-feira, impressionou com a riqueza dos bordados.
Poderosa e controversa, a Balenciaga de Demna Gvasalia trouxe vestidos feitos a partir de sacolas plásticas derretidas — o upcycling entrou para a agenda da alta-costura. Nicolas Di Felice, da Courrèges, assumiu a criação da Jean Paul Gaultier na temporada, e a Chanel, sem a presença de um diretor artístico, mostrou o que faz de melhor: tweed, laços, capas dramáticas, brilho... Tudo muito teatral. Foi ou não foi uma estação lacradora?