Ela
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Por Ines Garçoni


Mulheres estão se submetendo ao explante de silicone Shutterstock — Foto:
Mulheres estão se submetendo ao explante de silicone Shutterstock — Foto:

Quando me vi, estava ali, deitada naquela maca. Cirurgião, anestesista, enfermeiro, bisturi. Foi aí que me dei conta: o que eu estava fazendo não era tão banal. Porque não é uma visita ao cabeleireiro para mudar o visual. É uma cirurgia”. Com este relato pessoal sobre o dia em que colocou um implante de silicone, a psicanalista e socióloga Ingrid Gerolimich, de 39 anos, começa o recém-lançado documentário “Explante”. Dirigida pela própria Ingrid, a produção capta um momento único na história da cirurgia plástica: nunca foi tão alto o número de mulheres que querem retirar as próteses, seja por razões de saúde ou porque desejam de volta corpos naturais. Nos dois casos, descobriram que, afinal, mudar os seios não é como trocar de penteado. Envolve questões físicas e psicológicas complexas sobre as quais, muitas vezes, não foram avisadas antes.

A cirurgia estética mais realizada no mundo ainda é a do implante de mama — 1,8 milhão por ano, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. O Brasil lidera o ranking, seguido pelos Estados Unidos. No entanto, as operações para a retirada de próteses aumentaram 49,5% entre 2015 e 2019. No consultório do cirurgião Bruno Herkenoff, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, “a procura cresceu 70% do início da pandemia para cá”, revela. Já o cirurgião William Itikawa, de Curitiba, tornou-se referência nacional na operação para a retirada e decidiu, há dois anos, não fazer mais implantes. “Não vejo mais sentido no mundo de hoje”, justifica. William testemunha como poucos a virada de pensamento das mulheres no consultório, já que 95% das cirurgias que faz são de explante. “O aumento se dá por um conjunto de fatores, entre eles a ‘doença do silicone’ e a aceitação cada vez maior da mulher em relação ao seu corpo.”

Quando o caso é de saúde, muitas pacientes ficam sabendo sobre a tal doença pelas redes sociais, onde usuárias descrevem enxaqueca, problema de visão, dores nas mamas e no corpo como os principais sintomas. A influenciadora e ex-BBB Amanda Djehdian sentia tudo isso e teve ajuda de alguns dos 1,5 milhão de seguidores para chegar à conclusão de que havia algo errado. “Recebi reportagens sobre o assunto e passei uma noite lendo”, diz. Quando procurou um cirurgião, foi traumático.“Ele riu, disse que aquilo não existia e que, se eu tirasse, ia ficar feia, com seios de adolescente.”

William Itikawa conta que a doença existe, mas as pesquisas precisam evoluir. “Vemos casos diariamente, mas carecem estudos. É difícil diagnosticar, os sintomas não têm relação entre si. Só se sabe depois de retirar o implante, caso a paciente melhore.” Amanda teve a comprovação quando as dores pararam. Quanto à aparência atual, é taxativa: “Sim, estou com seios de adolescente e minha autoestima vai bem. Quem aponta ‘defeitos’ são os outros.”

Psicanalista do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio, Joana Novaes elenca alguns dos responsáveis pelas pressões estéticas. “Quem controla nossos corpos é o patriarcado. E, para a indústria, é altamente lucrativo nos manter insatisfeitas”, diz, lembrando que, no passado, “outros artifícios eram usados, como espartilhos e anáguas. Hoje são as plásticas.” Para Ingrid, as mulheres estão sempre sob julgamento. “Se não colocamos, somos relapsas com a aparência; se dá errado, a culpa é nossa por sermos vaidosas e fúteis.”

A influenciadora Alexandra Gurgel, do @movimentocorpolivre, pretende fazer o explante, mas acredita que poucos médicos estão preparados para ouvir as pacientes que querem seguir o caminho dos seios naturais. “É preciso saber que, do dia para a noite, o corpo vai mudar.” As informações, ela acredita, também são escassas quando se quer colocar o silicone.

Entre o que se divulga está um fato pouco conhecido: de 1992 a 2006, o FDA (espécie de Anvisa dos Estados Unidos) proibiu implantes de silicone para fins estéticos. Hoje,eles estão de novo sob escrutínio, e as próteses vêm com avisos sobre riscos de vazamento e de um tipo de câncer específico associado ao implante, o BIA-ALCL. “Muito do que se sabia está caindo por terra, isso é fato”, conclui William.

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