Mulheres gastam cerca de seis horas semanais a mais que os homens com afazeres domésticos, aponta estudo

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De acordo com especialistas em entrevista à ELA, a ligação entre as mulheres e os serviços domésticos tem origem histórica. A doutora em Serviço Social Cibele Henriques, que pesquisa relações sociais de gênero, raça e etnia, explica que a sociedade moderna é organizada sob o patriarcado, ou seja, sistema no qual os homens predominam em funções de poder.

"A mulher é destinada a este lugar onde os serviços de cuidado com a família e a casa são intrínsecos a ela. Ocorre que hoje esta jornada é dupla por precisar conciliar, muitas vezes, com rotina de trabalho igualmente exaustiva", afirma Cibele.

Já a advogada especialista em direito antidiscriminatório Fayda Belo, destaca que os afazeres domésticos são também uma forma de trabalho, mas sem remuneração. "Ainda que hoje as mulheres tenham avançado no direito de acesso à educação e empregabilidade, a estrutura patriarcal sexista que impõe à mulher a obrigação do trabalho e manutenção do lar ainda subsiste e, por isso, embora essa mulher tenha um emprego formal, ainda recai sobre ela este outro emprego informal e não remunerado", explica.

A pesquisa também expõe que mulheres que completaram o ensino superior ganham 35% a menos que homens, enquanto a média de salário deles chega a R$ 7000, a delas fica em R$ 4000. Além disso, o rendimento médio mensal das mulheres em 2023 foi 23% menor do que o recebido pelos homens.

Para Fayda, a solução para a disparidade salarial de gênero está em políticas que assegurem a igualdade nos ambientes de trabalho. "Muito se tem debatido acerca de equidade de gênero nas organizações, mas pouco se fala sobre ir além da contratação de mulheres. Precisamos de igual tratamento e oportunidades igualitárias, permitindo a ascensão profissional", comenta.

Cibele explica também que é preciso haver um recorte racial nestas políticas, entendendo que as mulheres negras enfrentam duas vezes em relação à falta de oportunidades. "Nós temos uma conscientização em curso, mas não efetiva em políticas públicas de igualdade racial, inclusive no mercado de trabalho", explica.

Dentre as mulheres negras ocupadas (abrange empregos formais e informais), metade ganham até um salário mínimo. Entre as mulheres não negras, esta proporção é de 29,1%. As mulheres negras são, também, 73% entre as desalentadas, ou seja, que desistiram de procurar por emprego. Cibele entende que isso se deve a congruência de um sistema que opera sob o racismo e a misoginia.

"A dificuldade de posicionamento das mulheres negras no mercado de trabalho ocorre porque a divisão social do trabalho é também uma divisão racial e de gênero. O racismo é uma relação de produção, portanto está na base da construção das relações sociais do Brasil. Não à toa, muitas mulheres negras recorrem ao empreendedorismo como alternativa para compensar as dificuldades em encontrar emprego e ainda conciliar com os cuidados familiares", pontua a pesquisadora.