Depois de duas décadas atuando nos segmentos da moda e da joalheria, Nathalie Kuperman começou a buscar um novo propósito. Entre questionamentos, passou a se perguntar: por que todos os ourives que conheço são homens? Para tentar mudar esse cenário e promover a equidade de gênero no setor, fundou o projeto Elabora, programa social de qualificação profissional voltado a mulheres no Rio, em parceria com a Firjan/SENAI e com o Instituto Inclusartiz. “Meu grande sonho sempre foi criar um projeto em que pudesse transmitir para outras mulheres meu conhecimento adquirido ao longo dos anos”, diz Nathalie, que foi sócia-fundadora da joalheria VOA. “O Elabora tem o objetivo de proporcionar uma qualificação gratuita e inclusiva, para que elas possam desenvolver suas habilidades em uma carreira valorizada.”
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Nathalie passou um ano estruturando a equipe, elaborando a grade curricular e buscando parceiros. A primeira turma é formada por 18 mulheres. “São graduandas ou recém-graduadas em Moda, Arquitetura, Design ou Belas Artes”, explica Eliana Rossi Andrello, especialista técnica em joalheria da Firjan. Depois de nove meses de aulas diárias, em setembro, o grupo terá sua espécie de “colação de grau” na exposição de uma coleção de joias autorais na ArtRio. As peças estão sendo criadas sob orientação de designers como Andrea Paes de Castro e Tissa Berwanger, com matéria-prima doada por parceiros. “Além do ouro ser caro, evitamos comprar e tirar ainda mais do planeta. E, não custa lembrar: só 10% do ouro retirado do Brasil está no nosso mercado, todo o restante vai para fora do país”, ressalta Eliana.
![Busca por um propósito: Nathalie Kuperman fundou o programa depois da pandemia — Foto: Leo Martins / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/bKUQOrpyiqWYBzxYNKu_pa8jBEs=/0x0:1300x867/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/r/b/QWbsFST362gnx0XtlgeQ/106253692-el-rio-de-janeiro-rj-15-03-2024-oficina-de-joalheria-do-sesi-senai-forma-mulheres-de-bai.jpg)
As alunas estão aprendendo técnicas básicas e avançadas de ourivesaria, história da joalheria e modelagem 3D. No dia em que a equipe de ELA esteve lá, no Centro de Referência de Joalheria Firjan SENAI, no Maracanã, a aula prática era sobre cravação. “É preciso ter uma força precisa”, comenta a aluna Fátima Aguiar, de 32 anos. “O universo da joalheria é muito elitista e masculino. O projeto não vai solucionar todos os problemas do mundo, mas já é um começo, uma vez que torna possível também ocuparmos esse lugar.” Formanda em Escultura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, em paralelo ao curso, ela realiza ampla pesquisa, transformando asfalto em joias. “É um trabalho geológico urbano. Afinal, muitas vezes, dependendo do preço da obra pública, a população paga, através dos impostos, preço de ouro no asfalto usado em recapeamento”, ressalta Fátima.
Muitas das alunas já trabalham com acessórios e têm suas próprias marcas de biju. Como Thuane de Carvalho Lisboa, de 26 anos, à frente da OdoyArte, inspirada em Iemanjá. “Criar em metais preciosos dá a possibilidade de desenhar amuletos eternos e fazer do zero, literalmente, com as minhas próprias mãos, é muito significativo para mim, inclusive energeticamente”, diz Thuane, animada. Na bancada ao lado está Larissa de Oliveira Jubilado, de 34 anos, fundadora da marca de acessórios Dando Corda: “Sempre sonhei em trabalhar com joias, mas não sabia que seria possível. Amo mix de metais, como prata e ouro juntos em uma única peça.”
Durante os primeiros meses, as alunas do Elabora confeccionaram a primeira joia, o brinco Ela. Desenvolvida de forma coletiva a partir dos exercícios realizados em uma oficina, a peça é toda feita à mão, em ouro amarelo, 18 quilates, e está disponível em dois tamanhos para venda, a partir de R$ 7.900 (através do perfil @elabora.social). “É linda, parece uma escultura do Ascânio MMM”, ressalta Nathalie. “Vamos usar a verba arrecadada para realizar a segunda turma do projeto, que espero começar em outubro.” A primeira edição tem parceria da Firjan e Ajorio e patrocínio do Instituto Cultural Vale e Bradesco.