Altas costuras: confira as coleções casa de grandes marcas de moda lançadas no Salone Del Mobile de milão

• O que acontece nos bastidores: autoras revelam como funciona a relação de amizade no trabalho
• Estilista de famosos: capixaba começou com R$ 200 e hoje veste Demi Lovato

Croquis pendurados nas paredes indicam que a essência do lugar é a moda. E a moda de Karl Lagerfeld (1933-2019). De uma assinatura reproduzida no tapete em preto e branco ao design curvado do sofá em couro prata, tudo ali remete ao estilo do kaiser, conhecido por comandar a direção criativa das marcas Jean Patou, Chloé, Fendi e Chanel, mas que também tinha enorme apreço pelo design — ele chegou a assinar o décor de hotéis. Na novíssima Karl Lagerfeld Maison, seu legado é reverberado na forma de uma coleção de interiores, que pelo segundo ano aportou na Semana de Design de Milão. As peças da Wellen (em referência a ondas, em alemão) são assinadas pelo designer francês Toan Nguyen, que teve como ponto de partida a criação de croquis de Lagerfeld. “Esta coleção celebra a criatividade multifacetada de Karl, inspirando-se em seus esboços de moda lendários e na sua paixão por design de interiores, particularmente de seu apartamento na Saint Sulpice, na década de 1970”, conta Caroline Lebar, diretora de imagem e comunicação da Karl Lagerfeld.

Intitulada “Echi dal mondo” (“Ecos do mundo”), a nova coleção Armani/Casa foi apresentada no histórico Palazzo Orsini, que por si só vale a visita. De móveis a acessórios “triviais”, como uma maleta de jardinagem, há diálogo direto com os vestidos icônicos da Giorgio Armani Privé expostos nos cômodos. “Minha visão de estilo é abrangente, vai desde os quartos até as pessoas que neles vivem. Para esta edição do Salone del Mobile, imaginei uma viagem ‘cinematográfica’ aos países que sempre me inspiraram: lugares e culturas que desencadeiam reelaborações altamente pessoais. É por isso que eu queria que os móveis conversassem com a moda”, afirma Giorgio Armani.

Europa, Japão, China, Arábia e Marrocos integram o mapa pessoal do italiano, que emprestou objetos próprios para compor a exposição de mesas, cadeiras e cia. Tudo em linhas limpas e acabamentos cirúrgicos.

Desenhada por Silvia Venturini Fendi, diretora artística de acessórios, a nova coleção respira códigos da maison, como os logotipos FF e O’Lock, além das listras Pequin. Madeira natural e metais dourados são os materiais favoritos em velas, caixas organizadoras e vasos. Valorizando o feito à mão, as almofadas são produzidas com tranças em couro e cashmere. A linha Art de la Table, criada a partir da porcelana francesa Limoges, reúne canecas, xícaras e cinzeiros como este da foto. Aqui, ele descansa sobre o tampo de uma mesinha em mármore da FF Design, que, desde 2021, produz mobiliário em parceria com renomados profissionais. “Na Fendi, o mármore de veios marcados e cores fortes aparece como protagonista. O elemento tem tudo para virar tendência forte no Brasil, onde temos muitas pedras assim”, observa a arquiteta carioca Fernanda Medeiros.

O vermelho cereja batizado de Rosso Ancora pelo diretor criativo Sabato de Sarno aparece nas roupas, nas maquiagens e também nos móveis da primeira edição da Gucci Ancora Design, lançada na Milano Design Week. A cor é inspirada no elevador vermelho do Hotel Savoy, em Londres, onde Guccio Gucci (1881-1953), fundador da marca, trabalhou como carregador de malas. Com a linha casa, a ideia do diretor criativo nascido em Cicciano, na província de Nápoles, e que chegou à maison no ano passado, é reverenciar a história do design italiano. Nesta primeira leva, foram apresentadas cinco peças icônicas reeditadas, como este sofá Le Mura, de Mario Bellini, cujo esboço inicial é de 1972.

A sul-africana Thabisa Mjo foi um dos destaques do Gen D — Designer Generation, projeto da Dolce & Gabbana que, pelo segundo ano consecutivo, levou criações de 11 talentos promissores de diversos cantos do mundo para a semana de design de Milão. “O design das cadeiras é inspirado nos looks da Alta Moda: o costeiro é o shape dos véus dos vestidos da década de 1990. É, portanto, um vestido-cadeira, ou uma cadeira bem fashion”, brinca Thabisa. “A madeira é da África do Sul e todos os detalhes, os bordados, são italianos.” De fato, a proposta deste novo projeto de Domenico Dolce e Stefano Gabbana é promover um intercâmbio cultural. Os 11 foram escolhidos a dedo pela renomada curadora Federica Sala.

A instalação “On the rocks” é resultado da parceria da Bottega Veneta com a Fundação Le Corbusier apresentada no histórico Palazzo San Fedele, em Milão. O projeto é todo centrado no multifuncional e minimalista cubo LC14 Tabouret Cabanon, um ícone atemporal do design. A peça foi originalmente projetada por Le Corbusier (1887-1965) para seu próprio uso, inspirada em uma caixa de uísque de madeira encontrada por acaso pelo arquiteto. As novas banquetas foram encomendadas pelo diretor criativo Matthieu Blazy inicialmente para o desfile de inverno 2024, e executadas pela marca de móveis italiana Cassina. Durante a semana de design de Milão, foram lançadas em vermelho, amarelo, azul e verde, entrelaçado de couro Bottega Veneta. É uma edição limitada de 60 unidades, além de cem em madeira.

Tijolos de demolição, cacos de ardósia e terracota foram usados em caminhos desenhados no centro do La Pelota, em Milão, na instalação criada pela Hermès para chamar a atenção para as raízes artesanais da marca. No segundo ato, passado e presente foram colocados lado a lado: um bracelete de 1970 que inspira o design de cestos de couro de 2024; uma roupa de cavalo de 1950 na mesma padronagem de uma manta de cashmere deste ano, e assim por diante. “É impressionante como o passado não só inspira, mas como está presente no presente. O impacto visual é incrível, acredito que seja uma das apresentações mais bonitas que vi nesta edição da Semana de Design de Milão”, afirma Patricia Mayer, diretora da Casacor Rio. “Parece distante de nós, mas não é: também somos terra, mar e floresta e precisamos honrar nossas origens dentro de casa”, conclui.