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'Maluf estava certíssimo e eu estava errado', admite ex-apresentador do Roda Viva

Matinas Suzuki, que apresentou programa da TV Cultura nos anos 90, comentou entrevista de 1995 com o então prefeito de São Paulo, classificado como 'radical demais' por proibir fumar em restaurantes; vídeo com trecho editado viralizou nas últimas horas nas redes sociais
Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, no programa 'Roda Viva' em 1995 Foto: Reprodução
Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, no programa 'Roda Viva' em 1995 Foto: Reprodução

O jornalista Matinas Suzuki, 66 anos, que comandava o Roda Viva (TV Cultura) nos anos 90, afirmou nesta quinta-feira (3) a Época que estava “errado no conteúdo, na forma, no gênero, no número e no grau” ao criticar a lei que proibia o fumo em restaurantes de São Paulo criada por Paulo Maluf (PP) em 1995.

“Prefeito, o senhor não acha que o senhor exagerou um pouco na dose, e que essa proibição é radical demais?”, questionou Matinas logo na primeira pergunta do Roda Viva com o então prefeito, em outubro daquele ano.

As cenas da entrevista de 25 anos atrás voltaram ontem à pauta nas redes sociais. No programa, além de Matinas, jornalistas como Nirlando Beirão e Pedro Cafardo questionam Maluf insistentemente sobre a nova lei. Nirlando Beirão diz: “Às vezes, eu sinto que o senhor tem o prazer de proibir as coisas, sabia?”

Vale lembrar que, antes de ser prefeito de São Paulo (1993-1996), Maluf havia sido governador biônico do estado, no regime militar.

"O Paulo Maluf estava certíssimo e eu estava errado no conteúdo, na forma, no gênero, no número e no grau. Peço perdão em retrospectiva aos telespectadores da TV Cultura, que sempre me apoiaram muito, pois meu comportamento foi fruto de uma arrogância pessoal que o bom jornalismo não recomenda”, escreveu Matinas a Época, comentando sobre a entrevista.

Em 1995, o prefeito publicou o decreto municipal 34.836, que proibiu o fumo em restaurantes e estabeleceu o uso de fumódromos. As medidas nacionais antifumo só seriam adotadas um ano depois, com a lei federal 9.294, do governo Fernando Henrique Cardoso.

Maluf também havia regulamentado uma lei da Câmara, em 94, obrigando o uso do cinto de segurança, o que só se tornou obrigatoriedade no Brasil em 97, com o novo Código de Trânsito Brasileiro.

Sobre o cinto, Matinas afirmou que “não teve nenhuma polêmica”. Mas Nirlando Beirão reclama: “Eu tenho que andar com aquilo me amarrando?” Ao que Maluf responde: “eu acho que salva a tua vida”.

O apresentador do Roda Viva não estava “legislando em causa própria”. Ele sequer fumava. Mas disse preferir sentar-se no avião ao lado de fumantes (sim, naquela época fumava-se no avião) porque eram “pessoas mais agradáveis e menos tensas”.

Para defender sua posição, sugeriu uma forma de solucionar o problema de garçons que pudessem ter sua saúde comprometida como fumantes passivos: “Mas isso poderia ser resolvido com os garçons tabagistas servindo consumidores tabagistas, e garçons não tabagistas servindo os outros”.

Outros tempos. E impensáveis para jovens que já nasceram sob a vigência dessas leis.