Época Giulliana Bianconi

Coluna | Os extremos da política do Rio no Congresso

Deputados Talíria Petrone e Carlos Jordy estão em polos opostos na Câmara dos Deputados; a rivalidade entre eles levou a questionamento sobre diferenças entre difamação e discussão eleitoral
A deputada Talíria Petrone (PSOL), que veio do movimento negro e, ao lado da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, já defendia os direitos dos negros, LGBT+ e das mulheres, carrega a diversidade de gênero e raça na base do seu discurso Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo
A deputada Talíria Petrone (PSOL), que veio do movimento negro e, ao lado da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, já defendia os direitos dos negros, LGBT+ e das mulheres, carrega a diversidade de gênero e raça na base do seu discurso Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

Nesta semana, Talíria Petrone (PSOL-RJ) comemorou publicamente vitória na justiça contra Carlos Jordy (PSL-RJ), a quem chamou de fascista durante entrevista em 2016 e por isso foi acusada de difamação e crime contra a honra em ação movida pelo parlamentar.

A sentença da juíza titular de Niterói Rosana Chagas ponderava que "em disputas eleitorais há atribuição de qualificações negativas reciprocamente", mas o argumento mais contundente para refutar a condenação foi o de que além de Petrone outras tantas pessoas o chamaram de fascista nas redes sociais, como uma forma de defini-lo pelas ideias que defendia, pois o candidato sempre se identificou como um representante da direita.

Apesar da sentença favorável a Petrone, a juíza não deixou de observar que a atribuição de termos como "fascista" reflete a intolerância instalada nas redes sociais. Talíria Petrone (PSOL) e Carlos Jordy (PSL) representam hoje a maior distância entre a esquerda e a direita do Rio de Janeiro no Congresso Nacional, não apenas pelo discurso público, mas pelo modo de fazer política.

A psolista, que veio do movimento negro e, ao lado da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, já defendia os direitos dos negros, LGBT+ e das mulheres, carrega a diversidade de gênero e raça na base do seu discurso. Também é entusiasta da participação popular e lidera a Frente Parlamentar Feminista Antirracista, lançada em 2019 na Câmara.

Jordy vem acumulando repúdio de algumas minorias políticas pelo posicionamento extremamente alinhado ao bolsonarismo. Inclusive contou com forte apoio do clã Bolsonaro na campanha de 2018, e teve validada pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro a alcunha de “filhote de Bolsonaro”, após trocar o PSC pelo PSL.

Nas urnas, o efeito: mais de 204 mil votos. Jordy Segue a cartilha da pauta moral bolsonarista, e em 2017, ainda vereador, questionou a UFF (Universidade Federal Fluminense) pelo uso de banheiros femininos por transexuais. Recebeu uma carta de repúdio de professores, onde era reiterado o direito à identidade de sexual e de gênero.

O deputado Carlos Jordy (PSL), que vem acumulando repúdio de algumas minorias políticas pelo posicionamento extremamente alinhado ao bolsonarismo Foto: Reprodução/Instagram
O deputado Carlos Jordy (PSL), que vem acumulando repúdio de algumas minorias políticas pelo posicionamento extremamente alinhado ao bolsonarismo Foto: Reprodução/Instagram

No ano passado, durante a série de reportagens publicadas pelo veículo Intercept e parceiros sobre a Operação Lava-Jato e seus protagonistas, Jordy foi um dos parlamentares que incorporaram o tom de ameaça ao jornalista Glenn Greenwald.

Foi repudiado por órgãos que defendem a liberdade de imprensa. Meses depois, iniciou campanha contra o youtuber Felipe Neto nas redes sociais, com postagem de informação falsa que deu origem à hashtag “PaiscontraFelipeNeto” e que foi removida após determinação da Justiça.

Por ser considerada grave pelo juiz Arthur Eduardo Ferreira, tinha prazo de exclusão de 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 1 mil. O deputado cumpriu a sentença.

Havia já algum tempo que a disputa política nas cercanias do Rio de Janeiro não espelhava tão bem o status da política nacional. A proximidade se acentuou a partir 2016. Nas municipais, novos nomes e protagonistas foram projetados, e sem dúvida a eleição do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivella para a prefeitura deu o tom conservador que viria a se consolidar nos palanques e nas urnas do estado em 2018, quando a eleição de um governador semi-desconhecido na política, Wilson Witzel (PSC), varreria qualquer dúvida sobre a força das igrejas e do conservadorismo junto ao eleitorado estadual.

O mesmo que foi em peso com Jair Bolsonaro (66,3% dos votos válidos no 2º turno da disputa presidencial no estado foram para o atual presidente). Petrone e Jordy despontaram como candidatos à vereança naquele 2016. Eleitos, venceriam novamente em 2018, rumando para Brasília.

Agora somando também duas derrotas - na Justiça - Carlos Jordy tem, no mínimo, uma incoerência registrada pela forma de fazer política. Sentiu-se lesado por uma difamação que, na sentença mais recente, não foi reconhecida como crime. Antes, teve de atender a uma ordem judicial justamente por atacar, com fake news e discurso de ódio, youtuber que fazia discurso crítico ao seu grupo político.

Se a sentença não tem magnitude para falar tanto sobre rumos da justiça do Brasil, é ao menos uma sinalização de que há uma busca no judiciário por delimitar o que é parte do jogo político democrático e o que é ataque que pode fragilizar esse mesmo jogo.