Época cultura

Educação contra a violência

Ruth de Aquino, diretora editorial da Infoglobo, o escritor Geovani Martins e a cientista política Ilona Szabó debateram saídas para reduzir as mortes violentas no Brasil
Ruth de Aquino, Geovani Martins e Ilona Szabó durante o evento na Casa Época & Vogue na Flip 2018 Foto: Marcelo Saraiva Chaves / Foto: Marcelo Saraiva Chaves
Ruth de Aquino, Geovani Martins e Ilona Szabó durante o evento na Casa Época & Vogue na Flip 2018 Foto: Marcelo Saraiva Chaves / Foto: Marcelo Saraiva Chaves

O Brasil teve 60.474 mortes violentas em 2014. É um número maior do que todos os homicídios registrados na América Latina no mesmo ano e nos 28 países da União Europeia (5.016). A diferença não se deve apenas ao tamanho da população brasileira. A Índia teve 41.623 homicídios naquele ano. A China (10.083), os Estados Unidos (14.164) e a Indonésia (1.277), todos com grandes populações, também apresentaram números muito mais baixos. Em 15 anos, entre 2001 e 2015, 786 mil pessoas foram assassinadas no Brasil - uma Lisboa e meia.

Os números acima foram apresentados por Ruth de Aquino, diretora editorial da Infoglobo, no início do debate sobre Segurança e Violência na Casa Época & Vogue na Flip 2018. Ela lembrou que mais da metade dos assassinados no Brasil são crianças ou jovens e que a grande maioria dos mortos são negros ou pardos. O que fazer para enfrentar essa tragédia?

Ruth de Aquino (à esquerda) apresentou os números da violência no Brasil. Foram 60.474 mortes em 2014 Foto: Foto: Marcelo Saraiva Chaves
Ruth de Aquino (à esquerda) apresentou os números da violência no Brasil. Foram 60.474 mortes em 2014 Foto: Foto: Marcelo Saraiva Chaves

O escritor Geovani Martins e a cientista política Ilona Szabó, especialista em segurança pública, concordaram que a educação é o investimento de longo prazo mais importante para mudar essa realidade. "É a melhor saída para resolver esse problema", afirmou o autor de O sol na cabeça, conjunto de 13 contos que narram infâncias e adolescências vividas em favelas.

O público assiste ao debate Foto: Foto: Marcelo Saraiva Chaves
O público assiste ao debate Foto: Foto: Marcelo Saraiva Chaves

Martins lembrou um episódio que marcou a sua vida. "Um dia meu professor de geografia estava muito irritado com a bagunça da turma. Parou a aula e disse: 'Aqui do lado tem uma escola particular e todos vocês estão sendo criados para ser empregados deles. Se vocês não aprenderem e perceberem todas as possibilidades à frente de vocês, simplesmente vão cumprir esse destino'. Isso me marcou bastante e disse comigo: Não é o que eu quero".

Szabó listou a primeira infância como o melhor investimento para reduzir a violência. "Precisamos de uma primeira infância bem cuidada, protegida. Os resultados são de médio e longo prazo, mas vira o jogo". O segundo desafio, em sua opinião, é reduzir a evasão escolar. "Quando a gente pega as estatísticas de quem está preso, quem está matando, quem está morrendo, são pessoas que não terminaram o ensino médio. São 75% do total." Além disso, é fundamental pensar em maneiras de deixar os pais passarem mais tempos com seus filhos.

Martins e Szabó defenderam a necessidade de repensar a política contra as drogas. "Sou a favor da descriminalização de todas as drogas", afirmou o escritor. Szabó defende a descriminalização da maconha e a adoção de uma abordagem médica, modelo seguido pelos países europeus, para reduzir as consequências das drogas mais pesadas. O combate nos moldes atuais, em sua opinião, deu errado. "É caro, é desumano, é ineficiente."

Entre as ações imediatas, eles concordaram que é preciso mudar a polícia brasileira. Martins criticou as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), programa de segurança pública implantado em 2008 no Rio de Janeiro. "Assim que foi implantada a gente já sabia que a coisa ia dar errada. A UPP falha desde o início ao tentar implantar uma coisa nova com uma coisa velha, que é a PM. Todas as pessoas que moram nas comunidades já carregam histórias ruins com esses policiais." Szabó afirmou que o plano inicial era positivo e tinha um objetivo pacificador. Chegou mesmo a reduzir os índices de violência. Mas disse que, fundamental, é investir em "prevenção inteligente e policiamento inteligente".

Ruth de Aquino mencionou que quatro planos de segurança nacional foram lançados pelos quatro últimos presidentes da República. Todos fracassaram. Para os debatedores, a intervenção federal é mais um fracasso do governo federal. "O Exército não é treinado para lidar com a segurança pública", disse Szabó. Para Martins, foi uma pura manobra política. "Só espetáculo”.