Época Giampaolo Morgado Braga Giampaolo Morgado Braga

Coluna | Movimento social unido a tráfico é organização criminosa

Segundo Ministério Público de SP, grupos em defesa do sem-teto estão se juntando a facção criminosa para extorquir e ameaçar ocupantes de prédios invadidos
O edifício Wilton Paes de Almeida Foto: Parceiro / Agência O Globo
O edifício Wilton Paes de Almeida Foto: Parceiro / Agência O Globo

Esbulho é uma palavra pouco conhecida e pouco usada. Significa tomar à força algo que é de propriedade de uma pessoa. No mundo de alguns movimentos (ditos) sociais de luta por moradia ou terra, “esbulho” é conhecido como “ocupação”. No mundo real, esbulho possessório é crime e mora desde 1940 no inciso II do artigo 161 do Código Penal . E, desde o último dia 11, com uma denúncia do Ministério Público de São Paulo, o esbulho divide um apartamento invadido com a extorsão e o tráfico de drogas.

Segundo o promotor Cassio Conserino afirma em sua denúncia, movimentos que alegam defender os interesses dos miseráveis sem-teto de São Paulo se abraçaram aos traficantes da maior facção criminosa do país para extorquir dinheiro e ameaçar quem morava nos prédios invadidos. É o que o promotor chama de “indevida simbiose entre os tais movimentos ditos populares e a criminalidade organizada”. Tudo, certamente, com a melhor das intenções, de promover a moradia e dar casa a quem precisa, certo?

Além disso, de acordo com o que consta na denúncia, os moradores da invasão tinham de pagar um aluguel de até R$ 400 mensais aos coordenadores dos movimentos. Precisavam pagar ainda a manutenção dos prédios. Quem não pagava era instado, sob ameaça, a ir embora. Mas, sem dúvida, os movimentos sociais estavam pensando no melhor para a coletividade, correto?

Conserino também diz na denúncia que os moradores de uma das invasões eram forçados a transferir seu domicílio eleitoral para o Centro de São Paulo e a votar em candidatos do PT. Quem não votasse era expulso do prédio. Obviamente, uma tentativa de tornar a sociedade melhor e o voto, mais consciente, não?

O fato é que movimentos sociais que se juntam com traficantes se tornam organizações criminosas.Não estão lutando pelos interesses de ninguém, a não ser os seus próprios. Não existem para proteger, mas para explorar.

Falando em invasão e explorar, uma série do “Extra”, ao longo desta semana, está mostrando os intestinos da milícia que conseguiu tomar conta de uma cidade, Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio. A prisão de parte da quadrilha, no início deste mês, jogou luz sobre as ações do bando. Extorsão, tortura, homicídios em série, ocultação de cadáver, ameaça, a lista de crimes é longa. Como longa é a fila de mães tentando reconhecer o que sobrou dos corpos dos filhos mortos pela milícia.

Da mesma forma que MST, MTST e outros autodenominados movimentos sociais não receberam a chancela do Estado para decidir que imóvel cumpre ou não sua função social, qual prédio ou fazenda deve ser desapropriado na marra, a milícia também não tem autorização legal ou estatal para matar traficantes ou controlar a segurança de uma cidade. Removendo a camada de hipocrisia travestida de bondade, o que resta são os crimes e seus autores.