Época Thiago Herdy

"Na época do PT você tinha Marilena Chauí, agora você tem Ernesto Araújo"

A não entrevista do filósofo Arthur Giannotti e o pretenso discurso filosófico bolsonarista
O filósofo José Arthur Giannotti, em foto de 2015 Foto: Silvia Costanti / Valor
O filósofo José Arthur Giannotti, em foto de 2015 Foto: Silvia Costanti / Valor

Fundador do PT, professor aposentado de filosofia da USP, amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e considerado por décadas uma das referências intelectuais do PSDB, aos 88 anos, José Arthur Giannotti avisa: não quer falar sobre o início do governo de Jair Bolsonaro.

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Eu decido ficar quieto. O problema é que você não tem nada definido. Qualquer entrevista que eu der, vai ficar... aliás, a Companhia das Letras está lançando um livro com vários artigos, inclusive eu fui obrigado a basicamente escrever um. Mas acho que agora, o que a gente deve fazer, é ficar quieto. Não somos jornalistas. Necessito ver mais dados. Está muito confuso. Estou vendo agora a demissão de 300 pessoas no Palácio [do Planalto], e assim por diante. Agora, eu quero é saber se eles vão botar outros 300, né? Por que se botar 150, é uma coisa. Se botar outros 300, é outra. Ahn? Então, você começou o governo com um discurso maravilhoso do chanceler Ernesto, não é? [Entonação triunfal] Ele é ma-ra-vi-lho-so. Aquilo é fake philosophy, não é? Fake filosofia, impressionante. Do ponto de vista filosófico, aquilo não se sustenta. De jeito nenhum. Você tem a instalação no Brasil de um novo discurso, que se pretende filosófico, e não passa de uma besteirada, não é? Na época do PT você tinha Marilena Chauí, agora você tem Ernesto Araújo. [Um comentário: Marilena não ocupava cargo tão importante]. Não, não, não, pelo contrário. Isso a deixou puta [risos]. Obviamente, vai acontecer muita coisa. Se eu der uma entrevista agora, o que vou dizer? Está claro? Daqui dois meses, se você me convidar, eu fico muito contente. Agora, não tenho coisa boa para dizer. O perigo do socialismo, eu nunca vi. Você viu? Nem eu, também. Tínhamos um populismo que tratava de um capitalismo que não existia mais, e agora quero saber como vai funcionar a coisa. Talvez esse governo faça a limpeza que a gente precisava fazer. Mas com um preço muito alto. Eu não sei o que vai acontecer. Está claro? Olha, eu agradeço o convite. Mas há tempos de falar. E há tempos de ficar quieto. Faça um contato mais para a frente. Está ótimo. Obrigado.

Thiago Herdy é jornalista de O Globo e ÉPOCA.