Época
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Por Julio Cesar Figueiredo; em Depoimento A Mariana Rosário


SÃO PAULO — Estamos preparados para iniciar a segunda temporada nesta quinta-feira, em São Paulo, do "Donna Summer Musical" um projeto cheio de alegrias e tristezas. Começamos a nos apresentar ainda em 2020, na primeira temporada. Realizamos somente nove sessões antes da chegada da pandemia da Covid-19. Começamos as apresentações no dia 5 e paramos em 13 de março. Estreamos numa semana, com a casa lotada e, na seguinte estava prevista a chamada estreia VIP, para amigos e convidados mais famosos. Tínhamos um "problema bom" para essa noite VIP, eram mil ingressos disponíveis e havia 1,4 mil pessoas querendo ir. Tive até que desconvidar amigos. Poucos dias antes desse espetáculo para convidados, porém, o (ex-presidente dos Estados Unidos) Donald Trump fechou o espaço aéreo dos EUA e a OMS decretou, oficialmente, o início da pandemia. A partir disso, diversas pessoas começaram a dizer que não poderiam comparecer. Na noite da então concorrida estreia VIP, quase metade dos convidados não foram.

Não tínhamos muita certeza do que estava acontecendo. Havia um clima de medo do elenco e do público ao mesmo tempo em que ainda apresentávamos um espetáculo lindo, mas sem saber para onde ia. Existia uma tensão no ar.

Julio Cesar Figueiredo: 'alegrias e tristezas' nos bastidores Mariana Rosário — Foto:
Julio Cesar Figueiredo: 'alegrias e tristezas' nos bastidores Mariana Rosário — Foto:

Naquela segunda semana de apresentações, estávamos com todos os ingressos vendidos. Na sexta-feira, mesmo com tickets pagos e a casa sold out, metade não apareceu. Já nas duas sessões de sábado, somente 30% das pessoas foram. Percebi que não poderíamos continuar, queimaríamos o show além de não saber o risco que estávamos correndo (com a circulação do vírus). O Teatro Santander concordou e suspendemos as atividades, inicialmente, por 30 dias.

O espetáculo dedicado à Donna Summer da Broadway estreou em 2018 e eu comprei os direitos no mesmo ano. No Brasil estreamos dois anos depois, foi o musical que mais rápido chegou ao país. Da Broadway, utilizamos somente as musicas e o texto — com versão em português, mas muito fiel ao original. O resto é brasileiro. O cenário, os figurinos e a coreografia, por exemplo, eram nossos. Lá nos Estados Unidos o cenário contava com um telão de lâmpadas LED no fundo e laterais, algo trabalhado com projeções. Aqui no Brasil a produção é minha e da minha mulher, a Bárbara Guerra – coreógrafa do musical — e nós nos incomodávamos, pois parecia que o telão é uma economia, pois tem cara de apresentação empresarial, mesmo custando uma fortuna. A Bárbara achou que deveríamos ter um cenário grandioso, como costuma-se fazer em musicais. O Miguel Falabella, o diretor, por sua vez, trouxe o conceito do globo de espelhos, símbolo máximo das discotecas, e nosso cenógrafo o Zezinho Santos decidiu fazer três módulos de espelhos móveis que abrigam cenas. O efeito da luz refletiva trouxe um desafio enorme para nosso iluminador, o Caetano Vilela, mas juntos fizemos um espetáculo que impressiona.

Quando pausamos a temporada (por conta da Covid-19), achamos que esse distanciamento ia durar um ou dois meses, mas foi algo que se estendeu por 18 meses. Tínhamos vendido 14 mil ingressos antecipados antes da estreia. Cada vez que adiávamos o retorno, os pagantes pediam o reembolso. No fim, apenas 3 mil decidiram esperar. Pagando rescisão para os dispensados, limpamos a conta (para o musical). O valor que havia para rodar o primeiro mês, zerei. Diante da pausa nas apresentações, criamos um grupo no WhatsApp com todos os envolvidos no espetáculo. Não tínhamos condições de ajudar (financeiramente) a todos. Mas, entre os artistas, alguns tinham outros empregos, dando aulas, por exemplo. Então, para angariar fundos, fizemos alguns eventos.

Logo depois da primeira abertura das atividades culturais, em dezembro de 2020, houve um evento online com bom pagamento, do mesmo Teatro Santander. Da equipe de 75, cerca de 20 se apresentou. O valor dividimos igualmente entre todos. As atrizes Karin Hils e Jeniffer Nascimento, porém, tinham outras rendas e não quiseram entrar na divisão. Assim como outros profissionais. Muita gente não foi à apresentação, porque não podia, mas recebeu. Todo mundo queria trabalhar.

Durante dezoito meses, o nosso cenário ficou no teatro parado, íamos lá as vezes para ver como estavam as coisas. Parecia um trem fantasma. Tentamos voltar duas vezes, mas tínhamos medo. O Teatro Santander nos sugeriu que voltássemos em janeiro de 2021, mas não saberíamos como seria o cenário no pós-Réveillon. Decidimos marcar para 10 fevereiro, mas depois das festas de final do ano os casos de Covid-19 explodiram. Remarcamos para março. E então veio a segunda onda, muito pior que anterior.

Morte de colegas e retorno aos palcos

Perdemos duas pessoas nesse processo. Um dos nossos atores morreu de Covid-19, o Edson Montenegro que fazia o pai da Donna Summer no musical. Carlos Leça, que tinha trabalhado conosco no musical da Hebe Camargo, foi escolhido para substituí-lo, mas teve outros problemas de saúde e não resistiu.

Em setembro do ano passado, sentimos que poderíamos voltar, mas as regras só permitiram 60% da lotação da casa de espetáculos. Era uma época em que os brasileiros estavam ainda recebendo a segunda dose da vacina. Vendíamos metade da lotação, ou seja, 30% do espaço total. As pessoas tinham medo de ir. Em novembro, sentimos que o clima melhorou e que a plateia sentia-se mais segura. E vendeu muito bem. Financeiramente, o espetáculo rendeu muito menos do que poderia. Mas o teatro nos fez um colchão para esse retorno sem muito risco. Até agora, 60 mil pessoas já assistiram ao Donna Summer Musical.

Fazer esse projeto no meio dessa sequência, foi muito desafiador. Agora, chegamos à segunda temporada e teremos 10 semanas de apresentação no Auditório Ibirapuera, começando as apresentações nesta quinta-feira. É a primeira vez que o lugar recebe uma temporada de musicais. É claro que o espetáculo foi aprimorado, mas também ficou muito mais caro com o volume de testes RT-PCR que temos que fazer rotineiramente. Rendeu muito menos do que imaginávamos em 2019, mas deu lucro. Então tá tudo certo. É um projeto desafiador e lindo. Toda a equipe tornou-se uma família e estamos com muito orgulho da nossa história.

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