Carlos Eduardo Mansur
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GERADO EM: 24/06/2024 - 19:41

Desafio do Fluminense sem Diniz: calendário sobrecarrega elenco

O desafio do Fluminense sem Fernando Diniz: calendário brasileiro sobrecarrega jogadores, elenco moldado para estilo de Diniz, substituição delicada. Vasco vence São Paulo e Sylvinho se destaca na Eurocopa.

O último ano na carreira de Fernando Diniz é um pedaço de Brasil. Em julho passado, era admirado ao ponto de a seleção brasileira, numa decisão um tanto heterodoxa, contratá-lo para acumular dois trabalhos simultâneos. Em novembro, era idolatrado ao ser campeão da Libertadores, e terminou fevereiro aclamado por tirar dos tricolores o trauma chamado LDU, na final da Recopa. A confiança nele foi reafirmada em maio, quando seu contrato foi renovado. Ontem, 24 de junho, foi demitido pelo Fluminense.

O derretimento do Fluminense em 2024 tem causas complexas, tratadas aqui há uma semana: oscilações de forma e de ambição de jogadores campeões, a possível acomodação pelos títulos recentes, uma janela de transferências que aprofundou desequilíbrios no elenco e não corrigiu carências e, claro, questões que a comissão técnica vinha tendo dificuldades de resolver. Há responsabilidades divididas. No entanto, é também muito curioso, e bem brasileiro, que Diniz seja vítima do período da temporada em que o calendário brasileiro chega ao ponto máximo de suas deformações.

A rodada do fim de semana foi marcante neste aspecto. Jogados apenas 22 minutos do Atlético-MG x Fortaleza de domingo, dois jogadores do time mineiro saíram machucados de um jogo que teve seis jogadores ausentes por lesão e terminou com outros cinco contundidos. Em São Paulo, o jovem Estevão não resistiu às dores na perna após uma bonita finalização na trave e saiu. Há uma semana, Abel Ferreira perdera Lázaro.

No Maracanã, como se não bastasse privar o público de ver um Fla-Flu com Arias, Pulgar, Varela, Viña, De La Cruz e Arrascaeta, todos na Copa América, o calendário da CBF promoveu um clássico desfigurado: não estavam em campo Cebolinha, Felipe Melo, Marcelo, André, Marquinhos... Não são coincidência as tantas lesões neste momento da temporada. A entidade responsável pelo futebol no país promove uma bem ordenada trama de sabotagem ao seu maior produto. No mesmo momento em que as seleções tiram 29 jogadores de uma rodada do Brasileiro, o calendário aprofunda a maratona de jogos, justamente em meio à disputa do torneio mais nobre do país. O calendário do Brasil é mais racional durante os Estaduais do que durante o principal torneio nacional.

Em parte, o Fluminense que entrou no Fla-Flu de domingo, jogo que terminou por sentenciar Diniz, era resultado desta insanidade do calendário. Por outro lado, o perfil dos desfalques reforça a sensação de um clube que dobrou a aposta num grupo de idade média alta e jogadores de pouca dinâmica. As escolhas privilegiaram a qualidade técnica acima da intensidade.

Por 15 minutos, um time de pouca velocidade e dinâmica fez valer a capacidade de reter a bola. Não finalizou, mas ao estilo de Diniz conseguiu controlar a bola. Depois, a instabilidade na saída de jogo, em especial com Gabriel Pires, deu o comando das ações a um Flamengo que foi melhor na ampla maioria do clássico.

O fato é que, outra vez, ficou reforçada a impressão de um perfil do elenco moldado para o jeito Diniz de enxergar futebol. O que anuncia uma segunda metade de ano desafiadora para o Fluminense. Há um elenco que não foi concebido para uma visão convencional de futebol, e não é simples vê-lo atingindo, ao menos no curto prazo, uma evolução gritante nas mãos de um técnico mais convencional. A substituição é dificílima, delicadíssima.

Há qualidade suficiente para evitar a queda, objetivo que naturalmente seria atingido mesmo com Diniz. Mas se a escolha não for acertada, num momento tão delicado, o 2024 do Fluminense corre o risco de virar um drama impensável quando 2023 terminou.

O CULPADO

Tite tem razão ao reclamar do calendário brasileiro e alertar para o massacre a que são submetidos os jogadores. Mas não parece justo direcionar as críticas ao diretor de competições da CBF, um funcionário confrontado com a dura tarefa de fazer caber num ano os tantos jogos e campeonatos que a viciada estrutura política do futebol brasileiro impõe. Se é para nomear um responsável, que fosse o presidente Ednaldo Rodrigues.

FÔLEGO

É cedo para dizer que o Vasco reencontrou seu rumo e que a aposta em jovens da base, como Guilherme Estrella, irá solucionar todos os problemas. Mas a goleada sobre o São Paulo é, no mínimo, um golpe moral. O time teve um início difícil, sofreu o gol e quase viu a diferença crescer. Aos poucos, foi mais combativo do que em outras partidas, virou o jogo e produziu contragolpes para ampliar no fim. Ao menos, terá paz por alguns dias.

PROMISSOR

Ridicularizado pela máquina de moer treinadores do Brasil, Sylvinho se despediu da Eurocopa com uma Albânia que competiu mais do que dignamente nos jogos contra Itália, Croácia e Espanha. Seu time era mais do que uma boa organização defensiva, tinha ideias para atacar, dentro de suas possibilidades. E poderia ter encerrado a fase de grupos com mais do que um ponto. Vale apenas acompanhar os próximos passos da carreira.

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