A crença brasileira de que individualidades são capazes de resolver todos os problemas nos levou a viver numa permanente busca pelo que chamamos de protagonistas. No fundo, o que buscamos são os ombros sobre os quais despejaremos as frustrações a cada derrota da seleção brasileira.
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No entanto, desde a goleada sobre o Paraguai, na sexta-feira, tal ansiedade parece serenada. Se é difícil depositar em um só jogador as esperanças de sucesso de um time de futebol, é preciso reconhecer que torneios de seleções têm características únicas. E, neles, um jogador capaz de solucionar problemas a partir do talento tem um valor incalculável. E ao oferecer um recital de futebol numa noite em que a seleção jogava pressionada, Vinícius Júnior reivindicou para si este papel. Candidatíssimo a melhor jogador do mundo pelos seus feitos no Real Madrid, viveu uma de suas melhores jornadas com a camisa brasileira.
Foi curioso este Brasil x Paraguai. Era um jogo difícil, desconfortável até os 34 minutos. Quinze minutos depois, a partida estava decidida, com 3 a 0 no placar. E se é verdade que desde o primeiro minuto Vinícius Júnior sinalizou para o time que ali estava um jogador disposto a receber todas as bolas e ditar os rumos da partida, também é fato que o ímpeto só resultou em gol quando individualidade e coletivo se uniram. A dez minutos do intervalo, a seleção construiu uma linda trama, uma triangulação que envolveu, além de Vinícius, toques de Rodrygo e Bruno Guimarães.
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Ocorre que estas tramas e aproximações ainda representam um momento raro de uma seleção que teve pequenas evoluções, mas ainda mostra ter um caminho a percorrer. Sempre bom lembrar, o desgoverno no futebol brasileiro fez a seleção chegar à Copa América com um trabalho embrionário de Dorival Júnior.
Houve um pouco mais de ultrapassagens, de presença ofensiva de Wendell na lateral esquerda. Por vezes, alguns movimentos para ocupar a área e atacar em profundidade. Mas ainda há dificuldades.
Para liberar Rodrygo e Vinícius de seguidas recomposições sem bola, o Brasil de Dorival costuma se defender com Paquetá e Bruno Guimarães à frente da zaga, tendo Savinho à direita deles e João Gomes à esquerda. O Paraguai acumulava jogadores pelo centro e exigiu de Alisson grande defesa em chute de Bobadilla. O que obrigou Dorival a mexer, fazendo João Gomes se colocar ao lado de Bruno Guimarães, passando Paquetá para o lado esquerdo. A ideia era tentar proteger melhor a entrada da área. Mas esta ainda é um dificuldade do Brasil: o Paraguai finalizou 15 vezes.
O resultado da mudança foi ver Paquetá atacar mais pela esquerda. O que fez Vinícius ter mais companhia, inclusive no lance do primeiro gol. Por outro lado, Savinho se viu mais isolado. Ainda assim, a seleção manteve um problema: foram muitos os momentos em que o time teve pouca gente atacando a linha defensiva rival. Rodrygo se isolou e teve participação menor no jogo.
A rigor, não era uma grande partida do Brasil até a abertura do placar. Mas como não há mudança tática mais impactante num jogo do que um gol, a partir daí um Paraguai disposto a enfrentar a seleção de forma franca, acabou permitindo a combinação de que o futebol brasileiro mais desfruta: talento com espaço para correr. Uma circunstância que nem sempre se repetirá, mas que a seleção aproveitou para transformar um jogo duro em goleada.
Virtualmente classificado, o time ganha paz para tentar seguir crescendo. A Colômbia, um dos melhores times do torneio, será um ótimo teste.