Carlos Eduardo Mansur
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Um período bastante simbólico da temporada será inaugurado hoje à noite, quando oito times da Série A do Campeonato Brasileiro entrarem em campo. Terá início aquele momento em que o futebol nacional, periodicamente, decide se abraçar ao terceiro mundo da bola.

Talvez seja bastante didático observar a seguinte lista: Bielorrússia, Estônia, Ilhas Faroe, Finlândia, Islândia, Cazaquistão, Letônia, Lituânia, Noruega, Uruguai, Estados Unidos, Canadá, Guiana Francesa, República Dominicana, São Cristóvão e Névis e Granada. É a esta prateleira do futebol mundial, é a este grupo de ligas nacionais que o Brasil se equipara quando decide que seu principal campeonato não vai parar enquanto sua confederação continental estará envolvida em uma disputa de seleções. A exceção da MLS dos Estados Unidos – a liga canadense não inclui os principais clubes do país, os que disputam a liga americana -, o que se tem é, majoritariamente, um conjunto de campeonatos domésticos irrelevantes globalmente: quase todos desconectados do centro do futebol internacional, sem qualquer prejuízo com a convocação de jogadores para seleções.

E o problema aqui não é apenas o status internacional. É curioso como, a cada reunião da seleção brasileira para a disputa de amistosos ou de uma competição oficial, ressurge a discussão sobre a redução do interesse do torcedor nacional pela seleção. A tese não se sustenta quando examinamos a audiência dos jogos ou a rapidez com que se esgotam os ingressos para as partidas do Brasil. A rigor, o debate deveria ser exatamente o oposto: como o interesse pela seleção resiste a tão bem articulado esforço para sabotar este relacionamento.

O que o calendário brasileiro se encarregou de fazer foi deturpar o olhar do torcedor para as competições de seleções. Por ora, é difícil convencer um torcedor do Flamengo de que há alguma motivação maior na Copa América do que torcer pela eliminação do Uruguai. Enquanto isso não ocorrer, os rubro-negros lidam com um abrupto corte de expectativas: a euforia pelos 6 a 1 no Vasco deu lugar ao esforço da comissão técnica para montar um time novo sem cinco convocados para o torneio.

É natural que o torcedor do Atlético-MG olhe para os jogos da seleção e lamente não ter Arana em nove rodadas do Brasileiro, ou que o torcedor do Fluminense lamente por Árias. Depois de toda a expectativa gerada por suas ações no mercado, o Internacional perderá seu ataque: Enner Valencia e Borré. Já o Palmeiras, obrigado a se conformar com os desfalques de Richard Ríos e Gustavo Gómez, teve na não inclusão de Piquerez na lista final do Uruguai a melhor notícia dos últimos dias. Mundo afora, clubes celebram seus convocados. No Brasil, o calendário criou um conflito.

Não há como usar meias palavras: este é um Campeonato Brasileiro esportivamente deturpado, deformado, desequilibrado. O campeão não será, necessariamente, o melhor elenco. Será aquele que teve menos danos com convocações ou que for capaz de se adaptar melhor às perdas. Vítimas da vez, os clubes têm sua parte na história: incapazes de formar uma liga, revelam-se também frágeis para reivindicar que seus investimentos não estejam ausentes em parte importante da temporada.

Se o contexto transforma o Campeonato Brasileiro numa incógnita, a seleção brasileira também se cerca de incertezas. Com apenas 11 remanescentes da Copa do Mundo, encara uma das maiores transformações no mundo num cenário que envolveu estreia de treinador em março, após 18 meses jogados fora com interinos. A CBF não erra apenas ao fazer o calendário.

O TESTE REAL

A seleção brasileira terá, amanhã, seu verdadeiro teste antes da Copa América. A opção de Dorival Júnior por usar reservas contra o México se alinha com o que têm feito treinadores mundo afora, administrando jogadores desgastados. O intrigante foi como a seleção reserva foi um time mais posicional e muito menos móvel do que tentara ser quando atuou com titulares. Talvez amanhã seja possível decifrar o real projeto do treinador.

O FENÔMENO

É tentador, diante dos gols em momentos decisivos, dizer que Endrick tem estrela. Mas é difícil creditar tudo o que faz ao destino. Aparentemente, estamos diante de um fenômeno, pela precocidade e pelas múltiplas possibilidades que oferece ao time, seja como um camisa 9 ou como um atacante móvel. Mas é especialmente sedutora a ideia de vê-lo junto a Vinícius Jr e Rodrygo num ataque de extrema mobilidade.

VELHO MUNDO

A Alemanha empatou com a Ucrânia e suou contra a Grécia; a Inglaterra perdeu para a Islândia; a França empatou com o Canadá... É claro que, após uma desgastante temporada europeia, tais resultados precisam ser vistos com moderação. Ainda assim, a poucos dias da Eurocopa, os amistosos de algumas favoritas nos lembram como é difícil, nesta era da globalização, ganhar um jogo no futebol de seleções. A ingenuidade ficou para trás.

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