O roteiro do menino pobre, filho de imigrantes, com talento nato para o futebol que vira tábua de salvação para a família é bem comum nas seleções europeias que invadiram e ocuparam países pelo mundo. Mas essa história não cabe ao lateral-direito holandês Denzel Dumfries, de 26 anos, hoje na Inter de Milão, que foi destaque da Holanda na Euro e pretende brilhar no Catar-2022.
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Em comum, apenas o fato dos pais terem nascido em antigas colônias holandesas: Aruba, no Caribe, e Suriname na América do Sul. E para por aí.
A superação de Dumfries, segundo filho de uma família de classe média de quatro irmãos nascidos em Roterdã, foi convencer o mundo de que ele poderia se tornar um jogador de futebol. A falta de técnica e talento eram motivos de dúvidas em relação ao seu futuro por parte dos técnicos e de muitas piadas vindas dos companheiros.
Dumfries não foi aceito em algumas escolinhas de futebol pelo seu baixo desempenho nos testes. Na escola, era o único da turma que sabia claramente qual seria sua profissão: jogador.
Quando expôs isso, os risos vieram:
“Você não tem habilidades técnicas para o futebol”, disse um dos colegas de turma à época.
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O jovem sabia das suas deficiências técnicas. Tratou de superá-las com determinação e um forte trabalho mental. O futebol canalizou todas as energias do adolescente. Até então, ele era o pestinha da família e do colégio, aprontando pegadinhas com as irmãs, como esvaziar os pneus da bicicleta, e ser expulso da sala de aula inúmeras vezes por bagunça.
Nos times amadores que fizeram parte da sua formação não foi fácil convencê-los da sua capacidade. Até mesmo o técnico de Aruba, seleção que Dumfries defendeu aos 17 anos, desacreditou o jovem quando ele decidiu jogar pela Holanda.
O técnico Giovanni Franken deu risadas ao saber da decisão do lateral:
“Não se esqueça: ele ainda era um jogador jovem do BVV Barendrecht (time amador da terceira divisão). O gol que ele marcou também foi ridículo”.
O trunfo de Dumfries foi treinar, estudar o jogo e se preparar fisicamente mais que os outros. Sem descanso. Até ter sua chance na seleção holandesa em 2018, com Ronald Koeman. Não saiu mais.