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Parece obra de um manual de sabotagem. Se o objetivo era “aproximar a seleção brasileira do povo”, como repetiram muitas vezes o técnico Dorival Júnior e o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, o resultado não poderia ser mais diverso do desejado. O fim da participação do Brasil na Copa América deixou algumas sensações, nenhuma positiva, nenhuma próxima do discurso oficial. Na melhor das hipóteses significou o fim de um estorvo, um alívio para os clubes que tiveram jogadores convocados.

No sábado à noite, enquanto mais de 100 mil pessoas ainda estavam no Maracanã e no Morumbi para assistir aos jogos de São Paulo e Flamengo pelo Campeonato Brasileiro, a seleção brasileira se perfilava num gramado em Las Vegas para ser eliminada da Copa América pelo Uruguai. Ali estavam, simultaneamente, numa disputa por atenção (e tudo que decorre disso), a principal competição de clubes organizada pela CBF contra o time da CBF. A seleção transformada em subproduto.

Neste domingo, Argentina e Colômbia decidem a Copa América, enquanto Espanha e Inglaterra fazem a final da Euro. Nestes quatro países o futebol de clubes de elite está interrompido. Todas as atenções estão voltadas aos torneios continentais. Excluídas aquelas exceções que só servem para confirmar regras, não há torcedor nestes países desejando a derrota de sua seleção nacional. Porque nenhum time está atuando desfalcado dos jogadores que foram convocados por essas seleções.

Poucas vezes na história do futebol brasileiro o resultado de um jogo teve tanto a ver com decisões tomadas fora dele. A convocação do técnico Dorival Júnior para a Copa América foi apenas sua segunda desde que assumiu o cargo. A primeira havia sido em março, quatro meses antes da eliminação em Vegas. Mesmo com algumas semanas de treinos nos EUA, não seria normal o Brasil atingir, em tão pouco tempo, o nível dos rivais com trabalhos mais consolidados, como Argentina, Colômbia e Uruguai.

A seleção parece ter pressa para recuperar o tempo que a CBF escolheu perder com um técnico fictício e dois interinos em 2023. O resultado dessa necessidade é um time nervoso — do banco de reservas ao campo — e disposto a entrar em guerra contra qualquer um, por qualquer motivo. Vinicius Júnior, o melhor jogador da última Champions League, não pôde ser escalado na partida decisiva contra o Uruguai por causa desse comportamento. Levou dois cartões amarelos que ele próprio classificou como “evitáveis”, foi suspenso e não pôde impedir a derrota nos pênaltis.

Restam seis jogos para o time de Dorival em 2024, todos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. O time está em sexto lugar. Como há vagas de sobra (seis diretas e uma via repescagem), não há risco do vexame de ficar fora do Mundial. O que está no horizonte talvez seja até pior: a seleção como uma distração desinteressante enquanto o Campeonato Brasileiro não é interrompido, uma ameaça aos clubes que têm jogadores selecionáveis, uma fonte de irritação para torcedores desses times e o desperdício de uma geração talentosa — tornada antipática por quem deveria cuidar melhor de um produto tão valioso.

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