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Darlan Romani comemora a 'derrubada do muro' com título mundial em Belgrado

Senhor Incrível do arremesso de peso conquistou o ouro com esforço de “300%“ depois de tantas vezes batendo na trave
Darlan Romani comemora sua medalha de ouro no Mundial Indoor de atletismo em Belgrado Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP
Darlan Romani comemora sua medalha de ouro no Mundial Indoor de atletismo em Belgrado Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP

“Bati na trave tantas vezes... Agora acertamos e derrubamos este muro aí”. A frase de Darlan Romani, que conquistou o título mundial indoor do arremesso do peso , sábado, em Belgrado, poderia ser do Senhor Incrível, personagem de animação da Disney/Pixar: um super-herói fortão que derruba tudo pela frente e, não à toa, virou o apelido de Darlan. O brasileiro, que está entre os melhores arremessadores do mundo e na época da mais talentosa geração de todos os tempos, não havia subido ao pódio de um Mundial de atletismo ainda.

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Desde 2016, ele bateu na trave em mundiais indoor e outdoor e também nos Jogos Olímpicos. Darlan, que tem o porte físico do Senhor Incrível, braços e peitoral fortes e pernas proporcionalmente menores, vinha de dois quarto lugares nas edições de Portland-2016 e de Birmigham-2018 (indoor). Em 2019, no Mundial outdoor do Qatar, um dos mais fortes da História, também foi quarto, mesma posição de Tóquio-2020. Na Olimpíada do Rio, em 2016, foi quinto. Agora o muro foi derrubado.

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— É um alívio muito grande porque parecia que tinha um muro muito grande na frente e a gente batia, batia e batia e parecia que eu não passaria deste quarto lugar — disse Darlan ao GLOBO,  por telefone, do aeroporto de Zurique, antes do embarque para o Brasil. — Aos poucos estou assimilando o que é esta tão sonhada medalha. Quero abraçar muito a minha família — completou ele, que chega nesta terça-feira no Brasil.

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Em 2019, no Qatar, Darlan arremessou 22,53m na final, a mesma marca que lhe rendeu o ouro em Belgrado. Mas lhe deixou fora do pódio três anos atrás, quando o americano Joe Kovacs fez o recorde da competição com 22,91m, seguido por Ryan Crouser e Tomas Walsh (ambos com 22,90m).

— Um dia é “o dia”. Com 22,53m, fui quarto em 2019. Agora, contra os mesmos competidores, fiquei em primeiro — constata Darlan, que chegou a gravar um comercial para o canal da Disney brincando com a semelhança. — Para as crianças acho que sim, que sou o Senhor Incrível... Recebo muita mensagem falando sobre isso e adoro.

Pedido de casamento

Darlan é casado com Sara, quase uma Mulher Elástica, a esposa do Senhor Incrível no desenho animado. Ex-atleta do salto com vara, é ela quem cuida da casa, da filha Alice, de 6 anos, da empresa de transportes do casal, da carreira do marido e do projeto social Atletismo na Rua e Atletismo na Escola, ambos em Bragança Paulista, onde moram.

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— Nos sentimos mortos após todos os quartos lugares. Ele se perguntava se fazia algo de errado para ser quarto de novo. Buscamos muita força para a virada. Ele deu 300% e foi com tudo. Chegava a dormir sentado. E eu tomei todas as responsabilidades para mim, me “estiquei” para tomar conta de tudo — diz Sara, rindo e entrando na brincadeira da família de super-heróis.

— Fácil não foi. Mas ele nunca desistiu, teve fé. Se ele desistisse, quantas pessoas estariam nessa também? Ele superou a depressão cuidando da parte mental. Ele é incrível mesmo.

Na manhã desta terça-feira, no desembarque em São Paulo e ainda no salão do aeroporto, Darlan pediu a esposa em casamento (eles são casados no civil). Ele comprou a aliança ainda no Brasil, antes da viagem para Belgrado e contou que este era o sonho de Sara.

Disse que poderia parecer estranho um pedido de casamento num aeroporto, mas explicou que eles se conheceram dentro do avião, indo pra Venezuela, em 2012.

Treinador faz a diferença

Darlan diz que a família o ajudou nessa virada. O ouro no Mundial indoor veio com recorde do campeonato e sul-americano (a melhor marca da carreira é 22,61m, também recorde sul-americano outdoor), superando Crouser (22,44m) e Walsh (22,31m). Essa foi a primeira derrota em dois anos de Crouser, atual bicampeão olímpico e recordista mundial ao ar livre (23,37m) e em pista coberta (22,82m).

Senhor Incrível do desenho animado Foto: Reprodução
Senhor Incrível do desenho animado Foto: Reprodução

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— O sonho está só começando: 2024 está aí e a responsabilidade aumentou — disse Darlan, que teve ciclo conturbado para Tóquio.

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Durante a pandemia, sua mãe e irmão tiveram casos graves de Covid-19 (80% do pulmão do irmão foi tomado pelo coronavírus). Darlan também adoeceu após visitar os parentes na UTI. Chegou a perder 10 quilos.

Darlan Romani em ação no Mundial Indoor de Belgrado Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP
Darlan Romani em ação no Mundial Indoor de Belgrado Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP

Mas, o pior, na sua opinião, foi ter ficado afastado do seu técnico, o cubano Justo Navarro, por cerca de um ano. Navarro ficou retido em Cuba e mandava treinos em planilhas para Darlan. O Mundial de Belgrado marcou o reencontro da dupla, junta desde 2010:

— O olho do dono é que engorda o gado. Mesma coisa aqui. O treinador faz toda a diferença — comparou Darlan, que ainda superou uma cirurgia de coluna, feita em fevereiro de 2021. — A época da cirurgia foi muito dura para mim. Me balançou muito psocologicamente e não quero que se repita neste ciclo, nunca mais.

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Após os percalços, ele chegou em Tóquio com boas chances de pódio, mas ficou atrás de Crouser, Kovacs e Walsh e desabafou: “Não quero mais isso para a minha vida. Se dava 200% de mim, vou dar 300%”.

O que mudou?

— Eu parei, estudei, me dediquei ainda mais. Não aceitava mais o quarto lugar e decidi romper esta barreira. Foi um grande aprendizado e tenho muito a superar ainda. Quero uma medalha olímpica — disse Darlan, que antes de voltar ao batente, de olho no Mundial outdoor de Oregon, em julho, quer celebrar: — Comi uma pizza no hotel logo depois da competição. Agora quero comemorar com a minha família, com churrasco, abraços apertados e agradecer por estarem ao meu lado. Eles é que são incríveis.