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Por — Rio de Janeiro

Quando um cria da base estoura no profissional, a torcida se enche de orgulho do clube por reconhecer talentos, investir neles e ter paciência para lançá-los. A série A base vem forte — parte do projeto Tem Que Ler, que traz reportagens exclusivas para assinantes do GLOBO — mostra dois deles por semana: um sub-15 e um sub-17, promessas em que o torcedor das principais equipes da Série A já tem que ficar de olho. Conheça Breno Cordeiro e Caio Valle, joias do Botafogo.

Breno Cordeiro, 15 anos, Sub-15 do Botafogo

Breno Cordeiro, sub-15, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra
Breno Cordeiro, sub-15, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra

Jovem promessa do sub-15 do Botafogo, clube em que começou a carreira há seis anos, o meia-atacante Breno Cordeiro vê o futebol não só como o esporte que pretende transformar em profissão, mas como a grande chance de mudar a vida de quem ama. Nascido e criado em Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio, onde mora com a mãe — que é separada do pai — e o irmão de 2 anos, ele sonha tirar a família da favela homônima ao bairro. Não se trata de renegar suas raízes, mas de fugir da violência que faz parte da rotina de todos.

— A polícia já entrou na minha casa — conta Breno: — Estava saindo para ir ao treino, eles entraram e subiram na minha lage. E, mesmo que você não tenha nada de ilegal, dá medo. Tem um beco perto lá de casa que toda hora passa gente estranha, fico meio preocupado.

O sonho de dar mais segurança ao trio está prestes a virar realidade: a família planeja se mudar para perto do Estádio Nilton Santos. O que só será possível graças a seu sucesso na base alvinegra. Com apenas 15 anos recém-completados, ele já tem contrato com a Nike e é agenciado pela empresa de Darío Conca, argentino ídolo do Fluminense que hoje cuida da carreira de atletas.

Breno Cordeiro, sub-15, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra
Breno Cordeiro, sub-15, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra

Tratado como joia desde que chegou ao Botafogo, Breno foi o destaque do time no único título conquistou com a camisa alvinegra: na final do Metropolitano Sub-13, em 2022, ele chamou a responsabilidade e fez três gols sobre o Flamengo. Foi eleito o melhor jogador daquela decisão.

— Ele é muito refinado, principalmente com a perna esquerda. No jogo, é bem participativo, movimenta-se bastante para ajudar a iniciar uma construção. Muito comunicativo, é uma das lideranças da equipe — elogia Leonardo Ramos, técnico do sub-15 do Botafogo.

Velocidade e boa finalização são pontos fortes, mas Breno se sobressai ainda por outra qualidade: a força física. O garoto conta que não costumava frequentar a academia e só começou a tomar suplementos este mês, mas mesmo assim surpreendeu a todos quando chegou ao clube, aos 9 anos.

— Teve um cara que até perguntou se eu tomava bomba — lembra Breno, dando risada.

A inspiração vem de um astro que não tem essa característica, mas é camisa 10, canhoto e atua em todas as faixas do setor ofensivo, como ele: o argentino Lionel Messi, do Inter Miami. Breno, porém, reconhece que seu jogo está mais para o atual queridinho da torcida alvinegra: Júnior Santos.

— Ele é forte e habilidoso. Tenho o mesmo estilo. Sou um cara que levanta a cabeça, faz “um dois”, vai para cima do adversário toda hora. Eu me considero ágil e acho que pego bem na bola também — enumera.

Breno Cordeiro, sub-15, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra
Breno Cordeiro, sub-15, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra

Menino tímido e apegado à família, Breno só lamenta que seu talento esteja começando a ser notado quando já não tem por perto alguém muito querido: o avô paterno, Jurandir Cordeiro, que morreu ano passado.

— Ele falou que iria ver um jogo meu no Botafogo, mas não deu tempo — conta Breno, que recorda com carinho da relação dos dois: — Todo dia eu passava na casa dele e dava um beijo nele antes de ir treinar. Fiquei um tempo mal, quando entrava em campo tentava esquecer e não conseguia, mas engolia o choro e continuava. Às vezes ainda bate saudade.

Caio Valle, 16 anos, Sub-17 do Botafogo

Caio Valle, Sub-17, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra
Caio Valle, Sub-17, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra

Caio Valle é daqueles atletas polivalentes que todo treinador de futebol sonha ter em sua equipe. Destaque do sub-17 do Botafogo, já atuou como ponta-direita, ponta-esquerda, meia ofensivo, volante e, hoje, joga de lateral-esquerdo com a camisa alvinegra. Aos 16 anos, o garoto se inspira na versatilidade do meio-campista alvinegro Tchê Tchê, que, como ele, tem a capacidade de desempenhar mais de uma função na mesma partida. Dentro da posição atual, um defensor que gosta de estar envolvido nas ações ofensivas, identifica-se com o estilo de Marcelo, do Fluminense, e admira João Cancelo, do Barcelona, e Trent Alexander-Arnold, do Liverpool.

— Ele é um jogador canhoto, com boa qualidade técnica, boa visão de jogo, boa dinâmica, um menino excelente no dia a dia. É tímido, mas que dentro de campo se transforma em um cara de atitude, mostrando uma personalidade forte. Um atleta de boa mobilidade, ações técnicas, que joga muito bem por dentro. Um jogador talentoso — elogia Alexandre Lemos, técnico do sub-17 do Botafogo.

Caio Valle, Sub-17, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra
Caio Valle, Sub-17, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra

Caio, que começou a carreira no Canto do Rio, clube tradicional de Niterói (RJ), onde nasceu, assinou seu primeiro contrato profissional em outubro do ano passado: é jogador do alvinegro até 2026. Para tornar menos cansativa a vida de aspirante a estrela, o jovem nascido no Largo da Batalha está de mudança para perto do Estádio Nilton Santos, onde acontecem as atividades do sub-17. Vai morar com um companheiro de equipe, e as mães vão se revezar nos cuidados com a dupla.

— Acordo 5h10 e saio de casa 5h30 para ir para o treino por causa do trânsito — conta ele, que tem carona do pai no trajeto de cerca de uma hora: — Mas ainda assim, prefiro Niterói. Se já fosse um jogador renomado, com dinheiro, ficaria por lá, moraria perto da praia. Em Icaraí, em Itacoatiara, talvez.

Caio Valle, Sub-17, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra
Caio Valle, Sub-17, do Botafogo — Foto: Custódio Coimbra

Filho de Daiana, professora, e Robson, funcionário de uma empresa de material de construção, o adolescente valoriza muito a família e o esforço que todos fazem para que ele realize o sonho de um dia atuar profissionalmente no Botafogo.

— Eles sempre me apoiaram. Minha mãe sempre esteve comigo, meu pai acorda de madrugada para poder me levar ao treino. Meu principal objetivo é mudar a vida da minha família, dar uma condição melhor, poder retribuir tudo que eles fizeram por mim — diz Caio, com a fala baixa, evidenciando a timidez apontada pelo treinador.

Hoje, o garoto já serve de inspiração para o irmão mais novo, João Victor, de 7 anos. O caçula da família também sonha ser jogador e segue seus passos: joga futsal num clube perto de casa.

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