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Quando um cria da base estoura no profissional, a torcida se enche de orgulho do clube por reconhecer talentos, investir neles e ter paciência para lançá-los. A série A base vem forte — parte do projeto Tem Que Ler, que traz reportagens exclusivas para assinantes do GLOBO — mostra dois deles por semana: um sub-15 e um sub-17, promessas em que o torcedor das principais equipes da Série A já tem que ficar de olho. Conheça João Bezerra e Luis Otavio, joias do Internacional.

Luis Otavio, 16 anos, Sub-17 do Internacional

O volante Luis Otavio, do sub-17 do Internacional — Foto: Leandro Monks
O volante Luis Otavio, do sub-17 do Internacional — Foto: Leandro Monks

Quando Luis Otavio nasceu, há quase 17 anos, seu futuro estava praticamente definido. Ele era só mais um Aquino destinado a ser jogador de futebol. A família, inclusive, podia ter um time completo com o sobrenome. Seu pai, Gilson, e os 11 irmãos dele vivem a paixão pela bola até hoje. Mas apenas um se tornou profissional. E são os passos do tio Franciné, ex-Horizonte (CE), que o jovem cearense pretende seguir. Porém, bem mais longe de casa. Hoje, Luis persegue o sonho na fria Porto Alegre, no sub-17 do Internacional, a quase quatro mil quilômetros da Beberibe natal.

Consigo, ele levou os ensinamentos do campinho em que jogava na infância. A posição escolhida teve influência direta do tio, que também atuava como volante. Domínio do jogo, visão espacial apurada e boa orientação estão entre as qualidades do jovem que já disputou competições pelo sub-20 e é visto como uma das joias do Colorado.

— Minhas inspirações são Casemiro (Manchester United) e Sergio Busquets (Inter Miami). São muito técnicos, sabem jogar e pensar sem a bola e se posicionar em campo — conta ele.

Porém, o que diferencia Luis Otavio dos demais é a determinação. Algo que corre nos bastidores do clube e faz brilhar os olhos de quem aposta no garoto.

— Ele é um atleta-exemplo dentro da categoria. Com apenas 16 anos, tem comprometimento e mentalidade de profissional. Isso reflete no jeito de jogar dele, é sempre muito determinado — conta o diretor de formação e transição do Internacional, Jorge Andrade.

Luis Otavio é uma das promessas do Internacional — Foto: Leandro Monks
Luis Otavio é uma das promessas do Internacional — Foto: Leandro Monks

A qualidade até pode ser intrínseca a Luis Otavio. Mas não lhe restava outra opção que não fosse ser determinado para alcançar um lugar num meio tão concorrido. Criado pelo pai em Beberibe, o menino começou tarde a formação no campo. Na infância, fez futsal, mas só pisou num gramado aos 13 anos. Quando foi se matricular num curso de inglês, viu o anúncio de uma escolinha de futebol. Ali começava o sonho.

Mas durou pouco tempo. Houve alguns problemas com os projetos, e Luis Otavio ficou três meses sem jogar. Até que, em 2021, conseguiu uma vaga na base do Juazeiro, em Fortaleza, a 80km de sua cidade. Sem qualquer ajuda de custo, o menino fazia o trajeto de ida e volta diariamente, sempre acompanhado do pai.

— Passei um ano e meio fazendo 160km todos os dias. Estudava de manhã, saía de casa às 11h, treinava de 14h às 17h30, e chegava em casa depois das 19h — relembra o jovem, que não cogitou desistir: — Nunca pensei em parar. Era novo, sabia que ainda tinha tempo.

Aos poucos, a qualidade em campo chamou a atenção, e os proprietários do Juazeiro passaram a agenciar a carreira de Luis Otavio. E vieram mais algumas tentativas frustradas. O garoto fez testes no Ceará e no Palmeiras, mas não obteve a sonha resposta. Ninguém se deu por vencido, porém. No fim de 2022, ele fez duas semanas de testes no Internacional e foi aprovado. Havia chegado seu momento.

Foi uma mudança brusca. Deixou o pai, a mãe e os quatro irmãos (só por parte de mãe) no Ceará. Largou a praia e a temperatura média de 30ºC para, com 15 anos, encarar o inverno de verdade pela primeira vez.

—Pensei que fosse ser mais difícil. Sinto saudades da família, mas já estava acostumado — admite o jovem, que teve de se adaptar às diferenças climáticas: — Tive muita gripe e resfriado no início.

Luis Otavio saiu do Ceará para Porto Alegre — Foto: Leandro Monks
Luis Otavio saiu do Ceará para Porto Alegre — Foto: Leandro Monks

A solidão é aplacada pelo amigo que o acompanhou até o Sul: Deus. É com Ele que o jovem — evangélico da Assembleia de Deus — conversa nos momentos mais difíceis e é n’Ele que se agarra para buscar suas metas. Como a profissão escolhida não lhe permite estar presente aos cultos à noite, as orações são feitas no alojamento que se transformou em lar.

— Foi o que escolhi para mim. Preciso saber que são os sacrifícios pela carreira. Não estou aqui só por sucesso e dinheiro, é o meu sonho de criança — diz ele, que tem seus momentos de adolescente: — Gosto de jogar videogame, Fifa, com os colegas. É bom para distrair e não pensar na saudade.

O objetivo mais palpável é estar, em breve, no profissional do Internacional. Mas Luis Otavio evita apressar as coisas. Para ele, é um passo de cada vez, como sempre.

— Não estou tão perto, mas não estou tão longe. De onde comecei, já dei passos grandes. Sonho em cinco anos estar dentro do Beira-Rio ganhando um Gre-Nal. Mas é um passo de cada vez. Se colocar muitas metas, acaba não cumprindo — analisa o garoto.

João Bezerra, 14 anos, Sub-15 do Internacional

João Bezerra tem apenas 14 anos e 1,88m. A altura é do tamanho da sua ousadia. Centroavante do sub-15 do Internacional, ele mira alto. Em dois anos, planeja estrear no profissional do Colorado. Mais tarde, uma transferência para o Real Madrid seria o sonho de vida realizado.

João Bezerra, de 14 anos, joga no sub-15 do Internacional — Foto: Leandro Monks
João Bezerra, de 14 anos, joga no sub-15 do Internacional — Foto: Leandro Monks

De primeira, pode parecer falta de humildade. Mas não. É só a certeza de que a dedicação desde a infância ainda em Sapucaia do Sul, município da Região Metropolitana de Porto Alegre, e a confiança depositada por todos que participam do seu desenvolvimento são o caminho para o sucesso.

— Assinei com uma agência aos 11 anos. Eles apostam bastante em mim. Levo isso como incentivo para me dedicar cada vez mais. Tenho que mostrar meu valor — diz João, que enumera seus feitos no Internacional: — Fui artilheiro no futsal, com 32 gols em 13 jogos; da Copa Umbro, com cinco gols; no society, com 14...

João Bezerra, de 14 anos, do sub-15 do Internacional — Foto: Leandro Monks
João Bezerra, de 14 anos, do sub-15 do Internacional — Foto: Leandro Monks

O menino é um daqueles casos em que o talento vai sendo lapidado pelo clube em todas as fases de formação. João chegou ao Inter aos 8 anos e sempre chamou a atenção pelo porte físico. Passou pelo futsal, foi para a grama e, inicialmente, seu lugar era no meio-campo. Mas o faro de gol já era ativo. Desde os 11 anos, o ataque é seu domínio.

E a inspiração de João também é outro demonstrativo do quão longe quer chegar. Cristiano Ronaldo é o nome mais repetido pelo menino ao longo da entrevista.

— Desde que comecei a entender de futebol, me inspiro nele. Pela forma física, por querer sempre mais, não querer abandonar nada... Gostaria de jogar no estilo do Neymar também, gosto de driblar. Mas sou mais o estilo do CR7. Jogo centralizado, cabeceio, faço o pivô, cobro pênalti — explica ele, que acrescenta: — Acho que vou crescer mais dois centímetros.

João Bezerra, 14 anos, e Luis Otavio, 16 anos: ambos jogam na base do Inter e são tratados como joias do clube — Foto: Leandro Monks
João Bezerra, 14 anos, e Luis Otavio, 16 anos: ambos jogam na base do Inter e são tratados como joias do clube — Foto: Leandro Monks

Este ano, João se prepara para uma prova de fogo. Desde que chegou ao Colorado, há seis anos, será a temporada com o maior número de competições. Estão previstas seis no total. Será um bom momento para chamar atenção também da seleção de base, que terá convocações para treinos.

— A expectativa é que ele seja formado como um todo no Inter. Isso cria um vínculo que outros já tiveram, como o Sasha, que começou aos 9 anos na escolinha. João é um fazedor de gols. Quem sabe vamos formar um grande centroavante para o Internacional e para o futebol brasileiro — afirma o diretor Jorge Andrade.

No que depender de João, isso vai se tornar realidade para a felicidade dos Bezerra:

— Desde que nasci, sou Colorado. Desde que comecei a jogar bola, o sonho da minha família é me ver jogar no Internacional.

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