Fluminense
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Por — Rio de Janeiro

Quando um cria da base estoura no profissional, a torcida se enche de orgulho do clube por reconhecer talentos, investir neles e ter paciência para lançá-los. A série A base vem forte — parte do projeto Tem Que Ler, que traz reportagens exclusivas para assinantes do GLOBO — mostra dois deles por semana: um sub-15 e um sub-17, promessas em que o torcedor das principais equipes da Série A já tem que ficar de olho. Conheça Richard Wendel e Gabriel Gorgulho, joias do Fluminense.

RICHARD WENDEL, 14 anos, Sub-15 do Fluminense

 — Foto: Custódio Coimbra
— Foto: Custódio Coimbra

Richard Wendel já tem quase uma década de Fluminense, mais da metade de seus 14 anos vividos bebendo da famosa água de Xerém. O lateral-esquerdo da equipe sub-15 ainda é um desconhecido para a torcida, mas já cria expectativa na base do clube, que aposta nele como um destaque da geração. Para chegar ao objetivo de um dia brilhar no elenco principal do atual campeão da América, o garoto conta com uma família presente, que até se mudou de cidade para que ele tivesse mais rede de apoio e condições de evoluir.

Natural da Pavuna, na Zona Norte do Rio, Richard hoje mora com os pais no bairro que abriga o centro de treinamento das categorias inferiores do tricolor, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A mãe, a corretora de planos de saúde Viviane Cristina, ainda trabalha no Centro do Rio, mas não mede esforços para que o filho enfrente menos dificuldades e riscos.

— Viemos para ele ficar mais próximo do CT, ter mais qualidade de vida. A gente morava perto do Complexo do Chapadão e sofreu bastante com reflexos disso. Para chegar e sair do trem, era sempre uma tensão absurda. Fomos assaltados juntos duas vezes, com arma na cara e ele chorando absurdamente — lembra o pai, Alexander Bittencourt, que é motorista de aplicativo e se tornou também vendedor de uma loja do clube, ao lado de Xerém: — O garoto que vive o futebol tem que ter a mente tranquila para se desenvolver e chegar a um nível bom, e a gente estava tendo muito problema. Vindo para cá, deu uma relaxada.

Além de ter amenizado a questão da violência, a mudança encurtou trajetos para Richard. Antes, para chegar à escola às 7h30, em Pilares, também na Zona Norte do Rio, o menino precisava acordar duas horas mais cedo. Desde que a família passou a viver em Xerém, no início de 2023, ele estuda numa escola do bairro e também não precisa mais passar horas no carro do pai para fazer o caminho de ida e volta dos treinos.

— Meu apoio familiar foi sempre muito bom, meu pai e minha mãe sempre juntos me ajudando — diz Richard.

 — Foto: Custódio Coimbra
— Foto: Custódio Coimbra

O pai, por sinal, é um exemplo para o jovem jogador não só na vida, mas na carreira também: Alexander jogou futsal pelo Fluminense entre 1998 e 2001.

— É uma inspiração muito boa, por ter vivenciado o meio do futebol, sabe o que tem que fazer. Sempre me dá conselhos em casa, pergunta como foram os treinos. Sempre ao meu lado e muito batalhador — orgulha-se o garoto.

Mas a referência paterna não é a única. No campo, o grande ídolo sempre foi Marcelo, atleta formado na base do Fluminense e que voltou ao clube em 2023, após quase duas décadas na Europa. Quando ele visitou Xerém no ano passado, Richard não perdeu a oportunidade de tirar uma foto e trocar algumas palavras com o jogador em quem se espelha. Assim como Marcelo, o lateral sub-15 gosta de surgir no meio-campo — no futsal, onde começou aos 4 anos, chegou a atuar como atacante, o que até hoje marca seu jogo na defesa.

— Sou muito igual a ele (Marcelo), sempre na lateral, marcando, atacando, vou e volto. Gosto de estar sempre no meio do jogo, participando, não gosto de estar longe de onde a bola está — analisa Richard: — Com 9 anos já queria ser lateral, e meu pai falava que eu tinha potencial. Aos 13, precisaram de mim no ataque. Em qualquer lugar, pode contar comigo. Independentemente da posição, quero estar jogando.

 — Foto: Custódio Coimbra
— Foto: Custódio Coimbra

No domingo passado, o menino participou da primeira conquista da base tricolor em 2024, a Alcans Cup sub-15, em Ribeirão Preto (SP). Capitão da equipe, foi ele quem levantou o troféu.

— Além de toda a capacidade técnica que tem, é um jogador intenso, que joga em um ritmo muito alto, seja na fase ofensiva ou defensiva — avalia Felipe Canavan, técnico do sub-15 do Flu: — É um atleta extremamente competitivo e que exerce forte liderança junto ao grupo. Consegue mobilizar os companheiros e trazê-los para o mesmo ritmo de jogo. Acho que é seu grande diferencial ser um cara que faz com que todo mundo esteja confiante e seja corajoso para ajudar a equipe.

GABRIEL GORGULHO, 16 anos, Sub-17 do Fluminense

 — Foto: Custódio Coimbra
— Foto: Custódio Coimbra

Geração que chama especial atenção no Fluminense, a “Esquadrilha 07” — dos atletas nascidos em 2007, hoje no sub-17 — não seria a mesma se não contasse com Gabriel Gorgulho. O zagueiro de São José dos Campos (SP) tem a postura e impõe o respeito necessários aos que ostentam a braçadeira de capitão, aquela que ele almeja colocar no braço também na equipe principal. Fora de campo, porém, o perfil contido o impede de contar com detalhes os obstáculos que enfrentou para chegar onde está agora. Mas seu pai recorda, por exemplo, a determinação do filho quando recebeu o convite para integrar a base do tricolor, que se aceito implicaria em uma mudança para o Rio sozinho, aos 12 anos.

— Eu e Cintia (Gorgulho, a mãe) sentamos com ele, eu me lembro como se fosse hoje, e falamos: “Filho, é o seguinte, você vai para outra cidade, vai ficar longe da sua família, amigos, escola, conforto. Você entende o que está acontecendo aqui?”. E ele: “Pai, é isso que eu quero, é o meu sonho, eu vou” — recorda Alex Moraes.

 — Foto: Custódio Coimbra
— Foto: Custódio Coimbra

Gorgulho veio morar no centro de treinamento de Xerém com outros dois meninos de sua cidade, que também foram peneirados pelo clube: Marcos, goleiro que ainda joga no Flu, e Matheus, que já saiu. A família decidiu que só viria também quando ele assinasse um contrato de formação, o que acabou acontecendo dois anos depois, em 2021. Hoje, o zagueiro sub-17 vive com os pais e a irmã caçula a cinco minutos de distância do CT. Cintia, professora de matemática por 20 anos, abriu mão da carreira para cuidar do filho. Alex, gerente de uma empresa, se divide entre o Rio e São José.

Antes da solidão dos dois anos longe do lar, Gorgulho teve que lidar com um sentimento difícil em qualquer fase da vida, mas que é ainda mais complicado para uma criança: a rejeição. Sua primeira experiência no futebol de campo foi no Corinthians, que o dispensou depois de um ano, quando ele tinha 11. Com paciência, a frustração deu lugar à esperança poucos meses depois. De volta à equipe de futebol society em que jogava desde os 8 anos em São José, chamado Esplanada, o menino chamou a atenção de um olheiro do tricolor durante uma competição, já como capitão. Recebeu o convite para fazer parte do clube, sem nem precisar de testes, como de costume, com direito a bolsa, alojamento e tudo mais.

— Gorgulho é um atleta que representa muito bem os valores do clube. Até por isso é nosso capitão. Ele reúne as capacidades necessárias para ser líder dentro de campo e um exemplo fora dele, tornando-se peça fundamental para nossa equipe — diz Rômulo Rodriguez, técnico do sub-17 do Fluminense.

 — Foto: Custódio Coimbra
— Foto: Custódio Coimbra

O pai coruja assegura que os companheiros enxergam nele uma referência mesmo que não esteja com a faixa num treino.

— A personalidade do Gabriel contribuiu para isso. Seriedade, exemplo, disciplina, educação. Vejo em algumas filmagens, quando estão ali fechados antes de começar um jogo, ele é o líder que que motiva sem usar palavrão. É uma característica dele — pontua Alex.

E não falta inspiração para Gorgulho. A maior de todas é Thiago Silva, zagueiro do Chelsea lapidado em Xerém.

— Espero poder ser líder do profissional e seguir os mesmos passos dele. Ter uma carreira vitoriosa e uma liderança bem positiva — afirma.

 — Foto: Custódio Coimbra
— Foto: Custódio Coimbra

Se os jogadores de frente, como Matheus Reis, Wallace Davi e Riquelme Felipe são os responsáveis pelas jogadas de efeito e as bolas na rede, o pilar da equipe sub-17 está no capitão à frente da meta tricolor.

— Todo mundo que começa a jogar bola sonha em um dia ter um contrato profissional, e eu pude realizar com 16 anos. O Fluminense me dá apoio em tudo. Falo que são minha segunda família e sou muito grato. A torcida tem que me conhecer porque represento muito e sempre vou dar minha vida em campo — decreta Gorgulho.

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