Marcelo Barreto
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Marcelo Barreto

RESUMO

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GERADO EM: 04/08/2024 - 04:00

Mulheres negras brilham em Paris: ouro e prata nos Jogos.

Duas mulheres negras brilham nos Jogos de Paris, Bia conquista ouro no judô e Rebeca leva prata na ginástica. Histórias de superação, apoio familiar e inspiração para meninas. Protagonismo dos atletas, mas também do apoio e da força transmitida de geração em geração.

É pra Vó, Mãe. Em quatro palavras bem curtinhas, Beatriz Souza resumiu a longa trajetória de uma conquista, o ouro na categoria acima de 78kg do judô feminino. Três gerações. A avó, que hoje vive na lembrança. A mãe, que ficou no Brasil para torcer de longe em vez de sofrer de perto. A filha, que se valeu da força de suas ancestrais pberaara chegar a Paris e vencer. Bia derrotou todo um pódio olímpico de adversárias para subir ao lugar mais alto, aquele que o Brasil ainda não tinha alcançado. Quatro palavras banhadas de lágrimas que nos repetem a lição ensinada a cada edição dos Jogos Olímpicos: os protagonistas são os atletas. São eles que levam para casa a dor da derrota ou o brilho da vitória. E são eles que compartilham seus sentimentos conosco, não o contrário.

“O judô, que entrelaça inevitavelmente uma relação com os outros, sobre o qual repousa a marcha da existência, construiu a pessoa que me tornei”, escreveu Thierry Frémeaux, faixa preta de quarto dan que virou cineasta e hoje é curador do Festival de Cannes, num livro de título simples que remete a uma complexa filosofia de vida: “Judoca”. Muitas meninas brasileiras se viram em Bia ontem, e vão querer ser algo mais na vida — judocas, talvez. Quando falou com a família pelo celular do nosso colega Marcelo Courrege, na transmissão da TV Globo, e disse entre lágrimas a frase que abre esta coluna, a campeã olímpica mostrou a elas que também teve em quem se inspirar.

Dona Brecholina e Dona Solange estiveram ao lado da neta, da filha, nos momentos de dificuldade. Não apenas no esporte, mas na vida. Leandro Guilheiro, medalhista olímpico que hoje é seu técnico no Pinheiros, relembrou, em participação no “Ça Va, Paris”, uma conversa que teve com a atleta sobre suas origens no esporte. “Ela me disse que gostava do judô porque era quando tinha a chance de bater nos meninos”, disse Guilheiro. “Ali percebi que tinha passado por situações de preconceito.” Menina, negra, acima do peso considerado padrão. Tudo o que foi motivo de provocação durante a infância subiu ao pódio ontem com Bia, que ao vencer a luta decisiva sorria, chorava e gritava: “Eu sou campeã olímpica!”

Rebeca Andrade também é. E ontem, pouco depois de Bia fechar sua participação com o bronze por equipes, tornou-se, com a prata no solo, a terceira pessoa nascida no Brasil, entre homens e mulheres, a conquistar cinco medalhas olímpicas. As outras são Torben Grael e Robet Scheidt, ambos velejadores e já aposentados. Rebeca atingiu a marca aos 25 anos, em duas participações nos Jogos, e ainda tem mais duas finais a disputar em Paris (só não tem mais ouros do que Torben e Scheidt porque nasceu na mesma época de Simone Biles, que está consolidando diante de nossos olhos sua trajetória de melhor ginasta de todos os tempos).

Quando subiu ao pódio pela primeira vez, em Tóquio, Rebeca também se lembrou da mãe. E estendeu o agradecimento aos vizinhos e amigos que tomaram conta dela e a levaram aos treinos para que dona Rosa pudesse trabalhar e sustentar a casa. Os protagonistas são os atletas, mas é claro que eles não vencem sozinhos. Medalhas se constroem não só com o apoio de equipes multidisciplinares por trás das câmeras, mas também com a força que passa de uma geração para a outra.

É pra Vó, pra Mãe, e pra toda menina que se vir no rosto de Bia e Rebeca.

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