Martín Fernandez
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Por Martín Fernandez

Menos de 24 horas depois das cenas de barbárie na Vila Belmiro, o STJD anunciou uma punição ao Santos: jogar por um mês sem a presença de sua torcida. Parece uma punição frouxa — e é frouxa. No período de 30 dias compreendido pela punição, o Santos fará apenas dois jogos como mandante: contra o Flamengo, neste domingo, e contra o Goiás, no dia 9 de julho. No dia seguinte ao fim desse prazo, o Santos joga em casa contra o Botafogo. Se o STJD não tiver aplicado outra pena até lá, o Santos poderá vender ingressos e abrir os portões da Vila Belmiro para os mesmos vândalos que atiraram bombas ao gramado durante a partida contra o Corinthians, o que obrigou o árbitro a encerrar o clássico com minutos por jogar.

É longo o histórico de penas brandas para eventos graves no futebol brasileiro. O Corinthians acaba de ser punido com um jogo com portões fechados por causa dos cantos homofóbicos de sua torcida num jogo contra o São Paulo. A pena não será cumprida imediatamente, porque o Corinthians conseguiu um efeito suspensivo. Até que um novo julgamento aconteça, a indignação causada pelo assunto terá se esvaído. As atenções estarão voltadas para a desgraça do momento — racismo, violência, manipulação de resultados, o vasto cardápio do futebol brasileiro — e o caminho estará aberto para a impunidade.

A escalada da violência relacionada a futebol no Brasil é um fenômeno bastante óbvio: há cada vez mais idiotas imitando outros idiotas porque todos esses idiotas sabem que vão escapar, porque sabem que seu comportamento sempre foi tolerado. Com o tempo, essa tolerância naturalmente se converte em estímulo. Na véspera do jogo na Vila Belmiro, torcedores do Corinthians impediram que jogadores descessem do ônibus — que voltou a São Paulo e só se deslocou para Santos no dia da partida. Enquanto o STJD anunciava sua punição ao Santos ontem, torcedores do Vasco simulavam o enforcamento de um dirigente. Hoje, amanhã ou depois, nestes clubes ou em outros, esses torcedores serão convidados a entrar em centros de treinamentos para “conversar” com suas vítimas.

Sim, são sempre torcedores, ao contrário do que sugere a tentativa de proteger a indústria do futebol. Uma extensão dessa tentativa consiste em direcionar a responsabilidade para as autoridades de segurança pública. Como se as duas instâncias — a esportiva e a criminal — não pudessem operar juntas. Pior, nessa esfera o histórico também é de frouxidão. Para ficar em apenas dois exemplos: um atentado a bomba contra o ônibus do São Paulo, em janeiro de 2021, até agora não foi solucionado. Um outro atentado a ônibus, contra o time do Bahia, em 2022, também não. Escolha um caso de 2023 para acompanhar. O desfecho é conhecido.

É ótimo o debate proposto por Carlos Eduardo Mansur, que escreve neste espaço às terças-feiras: ante a inação total de autoridades e dirigentes, resta aos jogadores se recusarem a entrar em campo e forçar as mudanças necessárias para conter a violência. O problema dessa saída — apontado pelo próprio Mansur — é delegar tarefa tão pesada às vítimas. O futebol precisa abandonar sua eterna parceria com a impunidade. Antes que alguém morra.

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