Martín Fernandez
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Por Martín Fernandez

“A diretoria tem notado notícias recorrentes sobre a saída do técnico Luís Castro. A administração do clube confirma que recebeu muitas ofertas pelo treinador. No entanto, vamos cumprir o seu contrato com o clube”.

Parece a nota que foi publicada pelo Botafogo ontem a respeito da investida do Al-Nassr, da Arábia Saudita, para contratar o treinador português. Mas não: esta nota foi publicada no dia 23 de fevereiro de 2022, sim, mais de um ano atrás, pelo Al Duhail, um clube do Catar.

O contrato em questão só terminaria em 30 de junho de 2022, portanto mais de quatro meses depois da publicação da nota — que, sim, tratava do interesse do Botafogo pelo treinador português. Mas em 25 de março, três meses antes do fim do contrato, Luís Castro foi anunciado como treinador do Botafogo.

Felizmente o futebol permite que seus profissionais possam mudar de emprego quando aparece uma proposta mais interessante — do ponto de vista financeiro, esportivo, pessoal ou qualquer outro. Em 2022, Castro entendeu que valia a pena interromper seu contrato para trocar Doha pelo Rio de Janeiro. Um ano depois, escolheu fazer o caminho de volta para o Oriente Médio.

Por isso é tão curioso ouvir o dono do Botafogo, John Textor, lamentar numa entrevista ao canal do jornalista Thiago Franklin que “as pessoas na Arábia Saudita estão tentando controlar o mundo do futebol com dinheiro”. Textor é um capitalista — e aqui o termo é um elogio, já defendi que só o capitalismo pode salvar o futebol brasileiro — que sabe exatamente como as coisas funcionam.

É compreensível que a saída de Luís Castro gere amargor no botafoguense, especialmente agora que o time desfruta da liderança do Campeonato Brasileiro, lota o Nilton Santos e oferece seguidas exibições de um futebol organizado, seguro, eficiente, tudo o que não foi nos últimos muitos anos.

Mas não é razoável considerar o treinador português um mercenário. No futebol, as taras do momento sempre mudam ao sabor das circunstâncias e dos resultados. Luís Castro hoje inspira, nas mesmas pessoas que até outro dia exigiam sua deportação, certas fantasias de fidelidade.

Trata-se do mesmo profissional que, pouco mais de um ano atrás, trocou os “petrodólares” do Catar (insira aqui os demais clichês sobre o “mundo árabe” e o futebol) pelo... Botafogo, que só podia se dar ao luxo de contratar um treinador deste calibre porque tinha deixado de ser um clube social para se transformar numa empresa. Pois esta empresa ontem publicou:

— Com relação às notícias que estão sendo veiculadas na imprensa referente ao técnico Luís Castro, o Botafogo informa que o treinador possui contrato ativo até...

JOGADORES SÃO GENTE

A série “Brasileirão no Divã”, publicada aqui no GLOBO, presta um grande serviço ao humanizar a categoria dos jogadores de futebol. Especialmente nesta era em que insatisfações de torcedores se manifestam de modo violento, perigoso, por meio do lançamento de bombas aos gramados, de ameaças online e intimidações offline. As entrevistas mostram gente normal — com sonhos e frustrações, ambições e medos — e não heróis perfeitos ou vilões malditos

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