Martín Fernandez
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Por mais que a origem dessa decisão tenha sido um golpe de relações públicas de um dirigente contra as cordas, a contratação de Dorival Júnior para dirigir a seleção brasileira é uma boa notícia. Há uma avaliação recorrente sobre o treinador que trata de reduzi-lo a alguém “bom de grupo”, alguém que doma vestiários e consegue triunfar porque “faz o simples”. Esse conceito carrega duas injustiças. A primeira é que tais características deveriam ser entendidas apenas como méritos, sem ressalvas. A segunda é que isso esconde outras qualidades — e não se ganha os títulos que Dorival ostenta no currículo, em ambientes e com jogadores tão diversos, com apenas uma habilidade. Como o próprio lembrou ontem, seus times sempre mostraram ter vasto repertório tático, do Figueirense ao São Paulo, do Sport ao Flamengo.

Assim que vestiu o agasalho da seleção brasileira, Dorival lançou a si próprio desafios intangíveis (“aproximar a seleção do povo”) e tangíveis (“convocar mais jogadores que atuam no futebol brasileiro”). Os dois são difíceis de cumprir. Sobre o primeiro: o torcedor não está distante da seleção. Os ingressos para os jogos no Brasil esgotam, as audiências são altas, a camisa amarela vende muito. O time terminou o último jogo de 2023 sob vaias, mas não se pode afirmar que a torcida estivesse distante. Estava insatisfeita, isso sim.

Sobre chamar quem atua no Brasil, o problema é outro. Em junho, Dorival terá que convocar a seleção para a Copa América. Os jogadores convocados vão desfalcar seus clubes por nove rodadas no Campeonato Brasileiro. Este problema está na origem do primeiro: o torcedor de clube odeia quando as convocações “roubam” seus craques — como vai acontecer em junho — e por isso se irrita com a seleção. Perguntei ao técnico como ele trataria a questão: “É um desafio. Não é fácil”. Não é mesmo. Quem tem que resolver a situação é o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, que também deve respostas (não ao jornalismo, mas ao torcedor de quem Dorival quer se aproximar) sobre o ano horrível da seleção, desperdiçado com técnicos interinos em nome de uma miragem chamada Carlo Ancelotti

Zagallo e Damato

Deve-se à curiosidade do jornalista Marcelo Damato a correção histórica no sobrenome do grande Mário Jorge Lobo Zagallo, que morreu na semana passada aos 92 anos. No dia 21 de janeiro de 1995, véspera de um amistoso entre Brasil e Eslováquia em Fortaleza, o então técnico da seleção distribuía autógrafos para crianças no hotel Marina Park quando foi abordado por Damato — que notou a maneira como ele assinava, com dois L em vez de um só. “Por que você escreve assim?”, perguntou o repórter. E ouviu de volta: “Porque meu nome é assim. Escrevem errado desde que eu jogava no América. Sempre tentei fazer os jornalistas escreverem da maneira correta, mas não teve jeito”. No dia seguinte, uma curta nota publicada na Folha de S.Paulo, onde Damato trabalhava, explicou o motivo pelo qual o jornal passaria a escrever Zagallo e não mais Zagalo. O resto da imprensa seguiu a Folha, e o desejo do técnico foi atendido. Provavelmente por modéstia, Marcelo Damato me pediu para não contar essa história. Em nome da precisão que sempre marcou seu trabalho, ignorei o pedido.

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