Martín Fernandez
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À luz do noticiário dos últimos dias, é tentador comparar o futebol brasileiro ao hamster que corre, corre e não sai do lugar. Seria injusto com o bichinho: o Brasil corre, corre e retrocede. Consegue a proeza de voltar no tempo e se aproximar de um passado do qual deveria se livrar o quanto antes.

Depois de um mês de intensas disputas judiciais e brigas quase físicas nos bastidores, uma decisão do Ministro Gilmar Mendes, do STF, devolveu Ednaldo Rodrigues à presidência da CBF, da qual ele havia sido destituído por uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 2023.

Essa decisão do TJ-RJ havia sido confirmada pelo STJ e por outro ministro do STF, André Mendonça. Mas foi derrubada numa ação movida pelo PC do B, e ainda terá seu mérito julgado pelo plenário do Supremo, a partir de fevereiro. Até lá Ednaldo Rodrigues permanece presidente, pendurado numa liminar.

Para a seleção brasileira, o desperdício de tempo mostrou-se muito maior do que um mês — e com efeitos nefastos. Na semana passada, enquanto a CBF ainda estava no limbo entre o pós-Ednaldo e sem saber quem seria o sucessor, Carlo Ancelotti anunciou que renovaria seu contrato com o Real Madrid por mais dois anos, para surpresa de bem poucos dos oito bilhões de habitantes da Terra.

A decisão frustrou os planos de Ednaldo Rodrigues, que havia anunciado a contratação do técnico italiano para dirigir o Brasil na Copa América. A CBF virou motivo de piada mundial e o papelão só não foi maior porque faltou uma nota oficial com o título “Valeu, Ancelotti”. Existe apenas uma maneira de tentar atenuar o vexame: se as tais “garantias legais” que Ednaldo dizia ter forem divulgadas.

Ao longo de um ano, desde que a seleção foi eliminada pela Croácia na Copa do Catar, discutiu-se a validade de esperar ou não por Ancelotti — como se houvesse a certeza de que ele viria (não virá), como se o treinador do Real Madrid tivesse o mapa do hexa e a solução para todos os problemas do futebol brasileiro (não tem).

Enquanto essa discussão inútil ocupava o debate, a seleção perdia tempo e partidas e batia recordes negativos com técnicos interinos. Num esforço para depreciar seu principal produto, seu trem pagador, a CBF escolheu para “anteceder” Ancelotti dois treinadores que tinham outros empregos — a seleção sub-20 no caso de Ramon Menezes, o Fluminense no caso de Fernando Diniz.

Antes que uma nova eleição na CBF fosse realizada para permitir ao sucessor de Ednaldo Rodrigues remontar o departamento de seleções e escolher um técnico para dirigir a seleção na Copa do Mundo, a decisão de Gilmar Mendes reconduziu o antigo presidente.

E Ednaldo não perdeu tempo. Em minutos, deixou vazar para a imprensa sua intenção de tomar decisões que antes havia levado séculos para (não) tomar. Agora a seleção precisa de um diretor de seleções, cargo que há muito tempo nem existe na hierarquia da CBF; agora a seleção precisa de um técnico com dedicação exclusiva. Tudo para ontem.

Só falta dizer, amanhã, que vai reformar o calendário e impedir que jogos do Campeonato Brasileiro ocorram enquanto as seleções se reúnem. E alguém acreditar.

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